Às vésperas do inverno no hemisfério norte, autoridades de saúde dos EUA e da Europa ligaram um alerta diante o recorde de novos casos de covid-19 provocado pelo avanço da variante Ômicron, que já é dominante em uma série de países. Enquanto tentam entender as especificidades da variante, especialistas discutem maneiras de evitar que a nova cepa marque o início de uma nova onda pandêmica – enquanto ainda não há um consenso sobre a abordagem ideal a ser adotada para contê-la.
Mesmo sem todas as questões sobre a Ômicron respondidas, o aumento do número de casos apresenta efeitos práticos: o Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente na Suíça, foi adiado “pela incerteza trazida” pela nova cepa, anunciaram os organizadores nesta segunda-feira, 20; No domingo, 19, a Holanda deu início a um novo lockdown que limitará as festas de fim de ano no país; e mesmo em países resistentes a adotar medidas restritivas mais uma vez, as pressões políticas e de autoridades de saúde aumentam enquanto o número de casos de covid-19 também cresce.
No Reino Unido, onde o primeiro-ministro Boris Johnson precisou ir contra parte de sua base aliada para restabelecer algumas medidas restritivas, os casos confirmados de covid-19 aumentaram 50% em uma semana, com a Ômicron superando a Delta como variante dominante. De acordo com a Associated Press, o número de casos relacionados à nova cepa dobra a cada dois dias. Nos Estados Unidos, autoridades de saúde apontam que a Ômicron já é responsável por metade dos casos da doença em certas regiões do país – um cenário muito diferente do projetado pelo presidente Joe Biden no começo do mandato, quando sugeriu que o país voltaria à normalidade no Natal deste ano.
Algumas questões importantes permanecem em aberto quanto à Ômicron: embora especialistas de vários países concordem que o nível de evidência atual aponta para casos menos graves causados pela nova cepa, o poder de contágio parece ser maior em comparação com outras variantes, o que já vem causando problemas nos sistemas de saúde de alguns países. No Reino Unido, o principal sindicato de enfermeiras alertou nesta segunda-feira que as equipes estão chegando à exaustão, enquanto a British Medical Association alertou que quase 50.000 médicos, enfermeiras e outros funcionários do Serviço Nacional de Saúde na Inglaterra podem ficar doentes no dia de Natal, a menos que restrições adicionais sejam introduzidas.
Outro aspecto importante a ser esclarecido é quanto à eficácia das vacinas atualmente utilizadas para a nova mutação. Em Oslo, uma confraternização de fim de ano terminou com 145 pessoas infectadas após a confraternização de fim de ano de uma empresa do ramo de energias renováveis. De acordo com autoridades de saúde norueguesas ouvidas pelo jornal alemão Der Spiegel, os 119 funcionários da empresa estavam vacinados e tinham apresentado testes negativos para covid-19. Após a área do restaurante onde o encontro era realizado ser aberto ao público como pista de dança, parte dos funcionários resolveram permanecer no local. O saldo foi de 81 funcionários e 64 frequentadores da boate infectados.
Apesar do temor de uma pandemia renovada, com a variante sendo capaz de infectar novamente todas as pessoas já vacinadas, estudos conduzidos pela Moderna e pela Pfizer apontam que doses de reforço de seus imunizantes são capazes de oferecer proteção extra contra a nova cepa. A Pfizer/BioNTech inclusive já anunciou que vai produzir mais 200 milhões de doses para distribuir à União Europeia.
Mesmo com a eficácia das demais vacinas sendo comprovada nos próximos dias, a aposta exclusiva na vacinação ainda encontra um adversário implacável: o negacionismo. O principal conselheiro de saúde do governo americano, o médico Anthony Fauci, afirmou no domingo que 50 milhões de cidadãos americanos elegíveis à vacinação não se vacinaram por opção. Na Europa, movimentos antivacina também se espalham pelo países – caso da Saxônia, na Alemanha, onde a polícia alemã descobriu uma conspiração para assassinar o premiê do Estado, Michael Kretschmer, favorável à adoção de medidas restritivas para não vacinados, na semana passada.
Sem uma definição de protocolos específicos, autoridades de saúde europeias e americanas têm apostado em medidas difusas para conter a variante às vésperas do inverno do hemisfério norte. A França proibiu concertos públicos e queimas de fogos de artifício nas celebrações do Ano Novo. A Irlanda impôs um toque de recolher às 20h para pubs e bares, e limite de pessoas em eventos. Portugal recomendou que trabalhadores não essenciais trabalhem de casa por uma semana em janeiro, após as festas de fim de ano, enquanto a Grécia terá 10.000 policiais de plantão durante as férias para realizar verificações do passaporte da covid-19.
Franceses e alemães também impuseram proibições de entrada à viajantes britânicos, em razão dos números recorde de novos casos de covid-19 no país. Medidas similares foram tomadas pela Indonésia em relação a Reino Unido, Noruega e Dinamarca, enquanto Israel adicionou os EUA à lista de países sem voo direto, por preocupações com a variante Ômicron.
Ômicron ameaça as festas de Natal
Além das preocupações com o agravamento do quadro geral da pandemia, o pico de casos provocado pela variante também reacendeu o debate sobre a realização de festas de Natal e réveillon – um ano após muitos países decretarem normas restritivas para impedir o contágio durante as reuniões familiares.
Na Holanda, que impôs o novo lockdown no domingo, o primeiro-ministro Mark Rutte anunciou o fechamento de todas as lojas, exceto lojas essenciais, bem como restaurantes, cabeleireiros, academias, museus e outros locais públicos de domingo até pelo menos 14 de janeiro. O número de convidados que as pessoas poderão receber em suas casas foi reduzido de quatro para dois, exceto no dia de Natal, 25 de dezembro.
No Reino Unido, que vive o pico de novos casos desde o início da pandemia, o ministro da Saúde Sajid Javid se recusou a descartar a possibilidade do governo Boris Johnson impor mais restrições antes do Natal. No domingo, Javid disse que o governo está levando a sério o conselho de seus cientistas, e observa os dados de perto, compararando ambos com o impacto mais amplo das restrições em áreas como negócios e educação, e que novas medidas poderiam ser tomadas.
Em outros países como Itália e Alemanha, autoridades negam que medidas restritivas alterem a realização das festas, mas já há discussões sobre medidas a serem impostas logo após a virada do ano, no mês de janeiro, incluindo apresentação de testes negativos para acessar locais fechados, incluindo boates e estádios. Ao descartar o lockdown de Natal, o ministro da saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, advertiu que uma quinta onda de covid-19 não poderia mais ser interrompida. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
Por Redação, O Estado de S.Paulo
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