O Partido Liberal Democrata (PLD) venceu as eleições parlamentares de domingo, (31), no Japão, pavimentando o caminho para mais um mandato do primeiro-ministro, Fumio Kishida. O PLD teve um desempenho abaixo do que conseguiu em 2017, muito em razão da pandemia, mas elegeu mais deputados do que indicavam as pesquisas, mantendo a maioria no Parlamento.
O resultado fortalece Kishida, um tecnocrata ligado ao mercado financeiro, criticado pela falta de carisma. O principal objetivo de curto prazo do premiê é aprovar o orçamento do ano que vem, com gastos adicionais em defesa e proteção para as pessoas afetadas pela pandemia.
Escolhido como primeiro-ministro no mês passado, e enfrentando desconfiança, Kishida terá pela frente o peso político de ter de liderar os liberais após o pior resultado do partido em anos. Com pouco tempo no cargo, o premiê obteve aprovação de 50% – a mais baixa em duas décadas.
A aposta no perfil discreto do premiê pode ter custado ao PLD alguns assentos cruciais no Parlamento. O secretário-geral, Akira Amari, renunciou ao cargo depois de perder a eleição para deputado.
Nas últimas décadas, os votos contra o PLD foram divididos entre a oposição, mas desta vez cinco partidos rivais decidiram cooperar em uma aliança para diminuir o domínio dos liberais. A aposta melhorou os números da oposição, mas foi insuficiente para tirar o PLD do governo.
INSTABILIDADE
Apesar de Kishida não ter inspirado tanto a base do partido quanto seus antecessores, a burocracia do PLD ainda confia em seu nome para implementar suas políticas públicas. A eleição japonesa ocorre em meio a uma crescente instabilidade regional no Pacífico, com a tensão entre China e EUA marcando o acordo militar entre australianos, americanos e britânicos e graves tensões diplomáticas envolvendo Taiwan.
Nesse contexto, o Japão – um histórico rival dos chineses e aliado dos americanos – vê-se pressionado a abandonar a tradição pacifista em vigor desde a 2ª Guerra e aumentar seus gastos militares, especialmente depois da mudança na Constituição, em 2014, que ampliou a possibilidade de uso de seu Exército.
Durante a campanha, Kishida prometeu aumentar a defesa contra possíveis ameaças da China e da Coreia do Norte. Outro objetivo do premiê é melhorar a resposta do governo à pandemia. Kishida se tornou líder do PLD há um mês, depois que Yoshihide Suga renunciou ao cargo após um ano à frente do governo, em parte devido ao descontentamento público com sua resposta à crise da covid-19.
Após uma onda recorde de infecções que obrigou a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio de portões fechados, os casos diminuíram e a maioria das restrições foi suspensa. Kishida, de 64 anos, prometeu criar um novo pacote de estímulo de dezenas de trilhões de ienes para conter o impacto da pandemia na terceira maior economia do mundo.
“Os eleitores japoneses têm demonstrado muito pouco entusiasmo pelo novo primeiro-ministro”, disse Stefanel Angrick, economista da Moodys Analytics. “Kishida terá que convencer o público e os jovens membros de seu partido de que a continuidade não implica status quo, mas manter o que funcionou e melhorar o que não funcionou.”
MAIORIA
Desde 2012, o PLD sempre ocupou pelo menos 60% dos assentos na Câmara Baixa. Um desempenho ruim ontem poderia causar perdas na votação para a Câmara Alta, no ano que vem, aumentando o risco de o Japão voltar a ter uma alta rotatividade de premiês. Desde a 2ª Guerra, apenas cinco nomes conseguiram permanecer cinco anos ou mais no cargo de primeiro-ministro, e algumas serviram apenas dois meses.
Um destaque da eleição de ontem foi o Partido da Inovação Japonesa (Ishin), legenda nacionalista com base em Osaka que se tornou a terceira força do Parlamento, atrás apenas dos liberais e do Partido Democrático Constitucional, de oposição.
“O Ishin é um partido que tem tomado a região de Osaka e se destacado como parte importante do bloco conservador”, disse Yoichiro Sato, professor de relações internacionais da Universidade da Ásia-Pacífico. “Eles vão tentar bloquear o plano de Kishida de diminuir a desigualdade entre ricos e pobres.” (Com agências internacionais)
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