Vindo de dois meses ruins, o Ibovespa iniciou setembro em tom moderadamente positivo, buscando reaproximação do nível de 120 mil pontos, em alinhamento ao dia majoritariamente favorável em Nova York, mesmo com leituras abaixo do esperado para a geração de empregos no setor privado americano em agosto e, no Brasil, a contração de 0,1% no PIB do segundo trimestre, na margem, após três avanços trimestrais – o resultado, abaixo da mediana (alta de 0,2%) das projeções, resultou em revisões de estimativas econômicas por instituições financeiras, para o ano e/ou 2022, entre as quais JPMorgan, Goldman Sachs e Barclays.
Por outro lado, ambos os dados contribuem, respectivamente, para aliviar parte da pressão sobre o Federal Reserve e o BC brasileiro, em momento marcado aqui por tarifa elétrica ainda mais elevada, de “escassez hídrica”, que redobra a atenção sobre a inflação.
Assim, de olho no copo meio cheio, o índice de referência da B3 fechou o dia em alta de 0,52%, a 119.395,60 pontos, entre mínima de 118.067,04 pontos e máxima a 119.941,95 pontos, após duas sessões de perdas. Na semana, ainda cede 1,06%, mas retorna nesta quarta a terreno positivo no ano, acumulando leve ganho de 0,32% em 2021. O giro financeiro ficou em R$ 29,9 bilhões na sessão.
Com nova tarifa para o intervalo de setembro a abril refletindo a crise hídrica, as ações do setor elétrico estiveram entre as campeãs desta quarta-feira, com ganhos perto ou acima de 3%, com destaque para Copel PNB (+3,80%), Cesp PNB (+3,50%) e Cemig PN (+3,40%).
No fechamento, Eletrobras PNB e ON mostravam alta, respectivamente, de 2,57% e de 2,79%. O presidente da empresa, Rodrigo Limp, disse nesta quarta que a resolução publicada na terça pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que estabelece os valores de outorga que serão pagos pela estatal no processo de privatização, segue o cronograma previsto, o que para ele é um sinal positivo.
Sobre a capitalização, Limp disse trabalhar com cronograma para fevereiro, embora se tenha também “Plano B”. “Alinhamento do governo com o projeto é total”, afirmou. Ele observou que se está, no momento, na fase de contratação do sindicato de bancos.
“Os índices de utilities e energia reagiram bem hoje ao aumento de tarifa, o mercado parece ter gostado, para além da questão se veio no nível ou no tempo certo”, diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos. “O PIB foi uma surpresa de certa forma, mas o PIB potencial ainda é bem significativo e os resultados das empresas, em boa parte, têm sido excelentes”, acrescenta Brito, destacando companhias com ‘valuation interessante’, como Itaú (PN +0,42%), Vale (ON +0,17%) e Petrobras (ON -0,54%, PN -0,55%).
“Lá fora, há ainda a expectativa para o ‘tapering’ (retirada de estímulos monetários pelo Fed), bem sinalizado de que será anunciado e poderá começar este ano, de forma que não se espera a aversão vista no ‘taper tantrum’ (em 2013)”, quando houve forte avanço nos rendimentos dos Treasuries, observa o gestor.
Em meio às incertezas, especialmente domésticas, a XP reduziu preço-alvo do Ibovespa no fechamento do ano, de 145 mil para 135 mil pontos. “Em agosto, vimos os mercados no Brasil andarem na contramão do mundo novamente, por conta primordialmente de riscos domésticos, atrelados à trajetória fiscal futura, na medida em que o debate, em preocupações com as eleições, já foram antecipados”, apontam em relatório o estrategista-chefe e head de research, Fernando Ferreira, e a estrategista de ações, Jennie Li.
“Acreditamos que o mercado levará mais tempo para ‘voltar às médias históricas’, dados os riscos, além de uma discussão sobre a sustentabilidade dos altos preços das commodities, que têm impulsionado parte significativa das revisões de resultados nos últimos tempos”, acrescentam os estrategistas, fazendo a ressalva de que a relação risco/retorno ainda é “bastante favorável nos preços atuais para as ações brasileiras”.
“Descolando do exterior, a Bolsa já vem sofrendo há algum tempo o efeito dos riscos político e fiscal, a própria questão do PIB, abaixo do esperado, e a crise hídrica. Talvez esta leve alta de hoje contribua para nos deixar um pouco mais em sintonia com o resto do mundo”, diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos.
Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Marfrig (+4,88%), à frente de Americanas ON (+4,11%) e Eneva (+4,02%). Na ponta oposta, Cielo (-3,14%), PetroRio (-2,82%) e Sul América (-2,66%).
Por Luís Eduardo Leal
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