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Juros avançam com aumento do risco fiscal e de inflação, além de PIB fraco

Os juros futuros fecharam em alta, refletindo a piora dos cenários fiscal, político e inflacionário. A queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, somada ao aumento das chances de risco de racionamento de energia e a probabilidade de um aperto monetário ainda mais forte, traz perspectiva ruim para a economia neste e no próximo ano. A crise hídrica ameaça não só o PIB como também a inflação, e, especialmente após a divulgação da nova tarifa da bandeira vermelha na terça, várias instituições hoje revisaram para pior suas projeções para ambos.

Novas declarações em tom bélico do presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, dias antes das manifestações marcadas para 7 de setembro, a volta dos rumores de auxilio emergencial de até R$ 400 e a leitura de que uma solução para a questão dos precatórios via Judiciário subiu no telhado completam o quadro de aversão ao risco que pressionou as taxas.

A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,805%, de 6,759% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,49% para 8,52%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,97%, de 9,954% na terça.

A JF Trust elevou a previsão de IPCA em 2021 e não descarta uma taxa acima de 9%. Embora o foco do Copom seja 2022, a escalada da inflação deste ano pressiona a inércia para o ano que vem. “Reestimamos nossa previsão do IPCA de 8,27% para 8,62%, após definição do reajuste da bandeira vermelha nível 2, mas sobretudo com as reestimativas da transmissão sobre a inflação de serviços”, diz o economista-chefe, Eduardo Velho, para quem a alta das taxas futuras decorre do “orçamento desfigurado” que terá que ser ajustado no Congresso, inflação mais alta em 2021 pelos preços administrados e sem garantia da receita no Auxílio-Brasil.

No radar, ficou ainda a informação de que o gás de cozinha já subiu 7% devido a um ajuste feito pelas distribuidoras do produto. Rumores no setor indicam que a Petrobras também deverá reajustar o preço do combustível, que já acumula 38% de alta no ano.

Segundo o IBGE, a queda de 0,1% do PIB no segundo trimestre na margem teve contribuição da estagnação do consumo das famílias, por sua vez, afetado pela inflação e a alta dos juros. O resultado do PIB ficou abaixo da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de alta de 0,2%. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que considera que o PIB ficou de lado e que a economia voltou a crescer em V. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, viu o PIB “um pouquinho” mais fraco do que o que mercado esperava, mas em linha com a projeção da autoridade monetária.

“Os juros devem ficar altos por vários trimestres, assim como a inflação. Esta será agravada pelo custo da energia elétrica e por alguma alta nos preços dos serviços”, afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.

Guedes reconheceu que uma alta antes pontual e transitória de preços “começa a ameaçar se transformar em aumentos permanentes”, mas ressaltou que o Banco Central já está correndo atrás de controlar a inflação via aumento dos juros.

Uma boa dose do pessimismo com os fundamentos vem dos ruídos em Brasília. Os flertes do governo com o cenário de ruptura deixam o investidor desconfortável para posições aplicadas em juros, por mais atrativos que sejam os prêmios da curva. “Com flores não se ganha guerra. Se você fala de armamento… Se você quer paz, se prepare para a guerra”, disse Bolsonaro, na quarta em cerimônia da Marinha.

Por Denise Abarca

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Estadão Conteúdo

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