Os juros futuros fecharam a quarta-feira perto da estabilidade, após uma manhã de queda e uma tarde em alta. Passaram a subir no começo da segunda etapa, pressionados pela frustração do mercado com o nível de ajuste proposto para o Orçamento de 2021 pelo relator Márcio Bittar (MDB-AC), pela virada para cima dos juros da T-Note de dez anos e, ainda, pela informação de que foi identificada em São Paulo uma nova variante do coronavírus, semelhante à sul-africana. Porém, na última hora da sessão regular o avanço perdeu fôlego na medida em que o dólar passou a renovar mínimas abaixo de R$ 5,63.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 4,595%, de 4,666% na terça-feira, e a do DI para janeiro de 2025 fechou em 8,06%, de 8,076%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,70%, de 8,694%.
A curva encerrou março e o primeiro trimestre com nível de inclinação elevado, semelhante ao fechamento de fevereiro. Na comparação entre os DIs de janeiro de 2022 e janeiro de 2027, o diferencial ficou nesta quarta em 410 pontos-base, de 409 pontos no fim do mês passado. A tendência de alta das taxas longas prevaleceu durante todo o período, refletindo, essencialmente, as preocupações com o cenário fiscal e, num grau abaixo, o contágio do movimento dos Treasuries que se agravou nas últimas semanas.
Nesta quarta, a expectativa de que a peça orçamentária fosse corrigida para abarcar valores realistas das despesas obrigatórias, que haviam sido subestimadas para acomodar dezenas de bilhões em emendas na versão aprovada pelo Congresso, ajudava a acomodar as taxas em queda pela manhã, além do câmbio bem comportado e do recuo do retorno dos Treasuries. À tarde, o quadro mudou e as taxas locais passaram a subir.
“O dia era positivo para as moedas emergentes, o que ajudava a performance da curva de manhã, mas veio a proposta de correção do Orçamento insuficiente e o mercado reagiu mal”, disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier.
O mercado começou a piorar com a informação de que o relator Márcio Bittar (MDB-AC) aceitou cancelar R$ 10 bilhões em emendas parlamentares, valor bem abaixo do necessário para recompor as despesas obrigatórias. A Consultoria da Câmara calcula insuficiência de R$ 32,7 bilhões nesta rubrica.
Além do Orçamento, a nova variante do coronavírus, identificada em Sorocaba, interior de São Paulo, também pode representar uma nova pressão sobre as contas públicas. A variante é semelhante à sul-africana, mas não foi descartada a chance de ser uma nova cepa.
“Quanto mais tempo se demorar para vacinar em massa, maior a chance de surgimento das novas cepas, que podem não ser cobertas pelas vacinas que estão no mercado”, salientou o consultor de Investimentos Renan Sujji. Esse risco pode retardar a reabertura das atividades e a retomada da economia, assim como eleva a chance de haver mais gastos do governo no combate à pandemia.
A boa notícia é que a Anvisa aprovou nesta quarta o uso emergencial da vacina da Janssen, mas, pelo contrato para aquisição de 38 milhões de doses, o Brasil só deve recebê-las no último trimestre de 2021.
Por Denise Abarca
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