A experiência política de Joe Biden foi usada como trunfo durante a campanha eleitoral. O democrata dizia estar pronto para trabalhar desde o primeiro dia para tirar os Estados Unidos das crises econômica e sanitária nas quais o país mergulhou com a pandemia do novo coronavírus. Seu maior desafio será apresentar resultados rápidos em meio a uma emergência sem precedentes. Para isso, quer aprovar um pacote econômico trilionário que não é consensual.
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Na véspera da posse do democrata, os EUA ultrapassaram a marca de 400 mil mortos por covid-19, com mais de 24 milhões de infectados. Os dados de desemprego continuam desoladores. Na semana passada, o Departamento de Trabalho informou que os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados superaram a marca de 1 milhão desde julho, quando a economia dava sinais de recuperação.
As ondas de contágio da covid-19 se sobrepõem nos Estados Unidos. Desde as vésperas da eleição, a Casa Branca de Donald Trump praticamente ignora a crise de saúde, que se soma à econômica: a pandemia de coronavírus colocou o país em uma recessão comparável apenas à Grande Depressão e a cada vez que há sinais de recuperação, um novo aumento de casos coloca os bons indicadores na berlinda.
Sinais de melhora no vírus no segundo semestre do ano passado deram fôlego aos negócios, mas a nova disseminação do coronavírus no final do ano fez cidades recuarem e estabelecerem novas restrições para comércio e serviços.
Biden tem na lista de desafios imediatos o sucesso da distribuição de vacinas para ampliar a velocidade de imunização da população, a tentativa de controle das novas ondas de contágio e a aprovação, no Congresso, de um pacote econômico de apoio a empregados e empregadores durante a pandemia.
Entre as medidas sanitárias, o democrata assinará uma ordem executiva que torna o uso de máscaras em propriedades federais e viagens interestaduais obrigatório. Ele também promete restringir viagens internacionais – e deve rever a liberação, pelo governo Trump, da entrada de viajantes do Brasil e de parte dos países europeus.
Biden anunciou que irá enviar ao Congresso um pacote de US$ 1,9 trilhão (cerca de R$ 10,8 trilhões) que engloba auxílio econômico aos americanos e verba para mais exames e distribuição de vacinas da covid-19. Os EUA já possuem dois imunizantes autorizados para uso emergencial pela agência que regula medicamentos. As vacinas aplicadas nos EUA são as produzidas pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna.
O país começou a vacinar a população em meados de dezembro, mas o ritmo tem sido mais lento do que o governo Trump planejou e a equipe de Biden vê gargalos no plano elaborado pelo republicano. Segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), 10,6 milhões receberam uma dose de alguma das vacinas. O governo prometia chegar a 20 milhões em dezembro. O socorro de Biden prevê assistência única de US$ 1,4 mil (R$ 7,5 mil) aos americanos e salário-desemprego suplementar de US$ 400 (R$ 2.140) semanalmente, além de recursos aos Estados para reforçar o plano de distribuição das vacinas.
Para seu maior desafio, no entanto, Biden precisará do Congresso. O democrata assume a Casa Branca na confortável posição de ter seu partido no controle da Câmara e do Senado pelos próximos dois anos. A última vez que democratas tiveram esse alinhamento foi no primeiro mandato de Obama, quando aprovaram a reforma de saúde conhecida como Obamacare.
Dificuldade
A situação do partido no Senado, no entanto, é frágil. Os democratas têm 48 cadeiras, além de contarem com apoio de dois senadores independentes. Os outros 50 membros são republicanos. O voto de desempate é da vice-presidente, Kamala Harris, que acumula a posição de presidente da Casa.
“O trabalho para acelerar a recuperação econômica é, acima de tudo, reativo e não serve muito para satisfazer as múltiplas demandas que ele enfrenta de pressão de alas diferentes do partido. Há um risco de que o debate inicial de combate à pandemia acabe com o pouco de boa vontade que existe por parte dos republicanos em relação à possibilidade de trabalhar com o governo democrata”, afirma Oliver Stuenkel, coordenador da pós-graduação em Relações Internacionais da FGV-SP.
Biden deve usar a força política de início de mandato para avançar com o projeto de socorro e combate à pandemia, sua pauta urgente. “É muito difícil haver resistência para ações de saúde, como expansão da vacinação. Já na parte econômica, ele vai ter que gastar mais capital político. Haverá mais dificuldade na área de aumento de impostos para compensar o caixa dos gastos crescentes de auxílio emergencial”, afirma Thiago Aragão, diretor de estratégia da consultoria Arko Advice.
Um editorial crítico do jornal Wall Street Journal foi um dos primeiros sinais de que Biden deve enfrentar resistência com o pacote. A primeira explosão de gastos de Biden – título do texto – afirma que Biden “duplica o plano de Obama para 2009, ainda que a economia esteja prestes a decolar em 2021”. Com o pacote de socorro econômico e os debates da nova administração, senadores ainda terão de analisar o segundo impeachment de Trump, aprovado pela Câmara. “A chave é analisar como Biden atravessa essa primeira fase de pacote de emergência e quantos republicanos moderados ele irá preservar depois disso que estejam dispostos a publicamente apoiar o governo”, afirma Stuenkel.
As ordens executivas
1. Joe Biden pretende reincorporar os Estados Unidos ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, um pacto global assinado em 2015 por vários países para reduzir as emissões de carbono a nível mundial. Donald Trump anunciou a saída do pacto climático em junho de 2017.
2. O novo presidente prometeu revogar o veto à entrada nos Estados Unidos de viajantes de países de maioria muçulmana. A polêmica medida foi questionada na Justiça por ser considerada discriminatória e foi alterada duas vezes. A versão mais recente da medida afeta cidadãos do Irã, da Líbia, da Síria, do Iêmen e da Somália.
3. Biden criará uma força-tarefa para tentar encontrar os pais das mais de 600 crianças que foram separadas deles em meio à política de tolerância zero adotada por Trump com a imigração ilegal. Muitos pais foram deportados.
4. O governo firmará um decreto-lei exigindo o uso obrigatório de máscara em instalações federais e viagens interestaduais para conter a disseminação do novo coronavírus.
5. O novo presidente americano também pretende estender uma restrição nacional que impede os despejos de domicílio por causa da pandemia da covid-19.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Beatriz Bulla
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