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ONU, COI, Trump e atletas se unem para evitar morte de lutador iraniano

O lutador iraniano Navid Afkari, de 27 anos, tem mobilizado diversas entidades esportivas e autoridades políticas pelo mundo. Condenado à morte no país por participar de protestos contra o governo local, o atleta despertou o apoio nos últimos dias de representantes da ONU, do Comitê Olímpico Internacional (COI), do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de associações de esportistas.

Na segunda-feira, a Suprema Corte do Irã sentenciou ele e um irmão, Vahid, a duas penas de morte, a seis anos e meio de prisão e 74 chibatadas. Os dois estão presos ainda com outro irmão, Habib. O lutador participou de manifestações políticas e é acusado de formar um grupo de ação contra o governo, de ter matado um segurança a facadas e integrado protestos nas cidades de Kazerun e Shiraz, em 2018. Segundo agências internacionais, na prisão Afkari foi torturado por policiais para fazer uma confissão falsa.

O lutador acumula títulos esportivos no Irã e agora recebe a atenção internacional. Na quarta-feira, o presidente do COI, Thomas Bach, afirmou estar preocupado com o tema. “Antes de mais nada, estamos ligados ao nosso princípio de respeitar as diretrizes de cada país. Mas Navid é um atleta e, por isso, nos sentimos próximos. Por isso, o COI, junto com a federação internacional, estamos extremamente preocupados com a questão. Estamos em contato com as partes envolvidas e estamos fazendo o possível para facilitar uma solução”, disse.

Outra entidade esportiva, a Associação Mundial de Atletas (AMA), também se posicionou. “O ato horroroso de executar um atleta só pode ser considerado um repúdio aos valores humanitários que sustentam o esporte”, disse o diretor da entidade, Brendan Schwab, em comunicado. “Como resultado, o Irã deve perder o direito de ser parte da comunidade universal do esporte”, completou.

No último domingo, a ONU também se manifestou. Por meio do porta-voz, a entidade pediu para o lutador não ser executado. “Nós firmemente nos posicionamos contra a pena de morte. As pessoas não devem ser punidas com suas vidas”, disse. Até mesmo Trump, presidente do país rival histórico do Irã, tomou posição. “Para os líderes do Irã, eu agradeceria muito se vocês poupassem a vida desse jovem, e não o executassem”, escreveu no Twitter.

Nas redes sociais, a campanha #stopexecutionsiniran, pede a libertação de Navid Afkari.

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Na semana passada, um áudio que seria de Afkari foi vazado. No conteúdo, o lutador apelava para ajuda internacional. “Daqui em diante, minha família e eu precisamos de ajuda. Não estou me dirigindo apenas aos iranianos. Estou me dirigindo a qualquer pessoa que acredita na humanidade e é honrada. Seu silêncio significa que você está apoiando os opressores e a opressão. Significa apoiar a execução de uma pessoa inocente”, disse.

Tensões recorrentes

A sentença ao lutador é mais um capítulo na história de tensões envolvendo política e esportes no Irã. Em janeiro, a única atleta feminina do país a conquistar uma medalha Olímpica, Kimia Alizadeh, de 21 anos, desertou alegando “hipocrisia, mentiras, injustiça e bajulação” e que estava sendo usada como uma marionete pelo regime iraniano.

Alizadeh anunciou sua decisão em um post no Instagram acompanhado de uma foto nos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, onde ela conquistou uma medalha de bronze no tae kwon do.

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Em 2009, ainda sob a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, o governo iraniano determinou o fim da carreira dos então jogadores da seleção de futebol do país que entraram em campo contra a Coreia do Sul, pelas eliminatórias da Copa do Mundo, usando uma faixa verde no braço. Aquela era a cor da campanha do então candidato oposicionista derrotado nas eleições daquele ano, Mir Hussein Mousavi.

Em 2017, dois jogadores de futebol foram afastados da seleção do país depois de enfrentarem pelo clube que defendiam – o Panionios, da Grécia – uma equipe israelense, contrariando as normas do país islâmico.

Os dois jogadores se recusaram a participar do primeiro jogo, de ida, da terceira rodada da fase de qualificação para a Liga Europa contra o Maccabi Tel-Aviv, em Israel, mas disputaram o jogo de volta, na Grécia. Na ocasião, eles foram elogiados pelo ministro de Relações Exteriores de Israel, que em sua conta no Twitter publicou uma mensagem dizendo que eles tinham “quebrado um tabu”.

Além disso, somente no ano passado, após quatro décadas e a morte trágica de uma torcedora, o país passou a permitir a entrada de mulheres nas arenas de futebol e de outros esportes. O argumento utilizado para justificar a medida restritiva era de que as mulheres deviam ser protegidas da atmosfera masculina e da vista de homens parcialmente vestidos: os jogadores, no caso.

Em outubro, a Fifa pediu que o Irã permitisse o acesso de mulheres aos estádios sem restrições e em quantidades determinadas pela demanda dos locais. A decisão foi motivada pela trágica morte de Sahar Khodayari, que colocou fogo em seu próprio corpo em frente a um tribunal por medo de ser presa por tentar assistir a uma partida.

Conhecida como “a menina de azul” pelas cores de sua equipe, o Esteghlal FC, Sahar foi detida no ano anterior quando tentou assistir ao jogo de seu time vestida de homem. A sua morte causou grande comoção e muitas vozes pediram a suspensão do Irã e boicote às partidas.

Estadão Conteúdo

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