A polícia prendeu ontem Kyle Rittenhouse, jovem branco de 17 anos, que matou duas pessoas com um fuzil AR-15 na noite de terça-feira, 24, na cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin, durante protestos contra o racismo. Um terceiro manifestante ficou gravemente ferido. O adolescente foi indiciado por homicídio qualificado.
Rittenhouse foi descrito pela polícia como um adolescente extremamente perturbado e fanático pelo movimento Blue Lives Matter – “vidas azuis” é uma referência à cor do uniforme dos policiais, uma organização criada como contraponto ao Black Lives Matter.
Uma das vítimas foi Anthony Huber, skatista branco de 26 anos, que teria tentado tirar a arma do atirador. “Ele deu a vida para salvar os outros”, disse um amigo. A outra vítima não foi identificada, mas era um homem de 36 anos.
A violência explodiu quando centenas de manifestantes protestavam pela terceira noite consecutiva após o negro Jacob Blake, de 29 anos, ser atingido por sete tiros à queima-roupa e pelas costas, disparados por um policial branco no domingo, quando tentava entrar em seu carro, no qual estavam seus três filhos. Ele segue internado, paralisado da cintura para baixo, segundo seus parentes.
A nova onda de protestos contra o racismo atingiu também outras grandes cidades americanas, como Los Angeles, Nova York, Portland, Washington, Seattle e Minneapolis, onde morreu George Floyd, em maio – caso que desatou a primeira onda de protestos nos EUA.
Na mesma noite em que Rittenhouse disparava seu fuzil AR-15 contra manifestantes em Kenosha, a imprensa americana divulgava mais detalhes da vida de Jacob Blake. Alguns blogs e jornais conservadores deram especial importância à ficha corrida, na qual constava uma ordem de prisão, emitida em 6 de junho, por agressão sexual de terceiro grau, invasão de propriedade e conduta desordeira. Donald Trump Jr., filho do presidente, compartilhou o histórico criminal de Blake no Twitter.
No entanto, não está claro se a polícia tinha conhecimento do mandado de prisão quando abordou Blake, no domingo, nem se ele tinha alguma relação com o chamado de emergência que levou os policiais até o local. Para ativistas e parentes, as acusações contra Blake não podem ser usadas para justificar os disparos à queima-roupa.
Nesta quarta, 26, Trump anunciou o envio de agentes do FBI e de soldados da Guarda Nacional a Kenosha para controlar a situação. “Não toleraremos saques, incêndios provocados, violência e anarquia nas ruas americanas”, afirmou o presidente, no Twitter, em sua primeira reação desde o incidente.
O governador de Wisconsin, o democrata Tony Evers, em conversa com Mark Meadows, chefe de gabinete da Casa Branca, aceitou a ajuda e rejeitou apenas a presença de agentes do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) – os mesmos que foram acusados de abusos contra manifestantes em Portland, no mês passado.
Ontem, Benjamin Crump, advogado da família de Blake, afirmou que “será um milagre se ele voltar a andar”. As balas destruíram uma parte de sua medula, assim como parte de seus rins, fígado e intestinos. Segundo Crump, Blake recebeu os sete tiros à queima-roupa depois de tentar mediar uma briga entre duas mulheres.
As autoridades afirmam que a polícia foi chamada após uma denúncia de distúrbio doméstico, mas não explica o que motivou os tiros contra Blake. Crump exigiu que os dois policiais envolvidos, atualmente suspensos, sejam demitidos e formalmente indiciados.
Os assassinatos de terça-feira também foram flagrados em vídeo. Imagens de celular mostram vários civis armados nas ruas de Kenosha, incluindo um pequeno grupo de homens brancos, que tinham se organizado para proteger as propriedades privadas da cidade. “Estávamos todos gritando ‘Vidas negras importam’, no posto de gasolina, e ouvimos: ‘bum’, ‘bum’. Eu disse ao meu amigo que não eram fogos de artifício”, contou o manifestante Devin Scott, de 19 anos. “Então, esse cara com uma arma enorme passa por nós no meio da rua e as pessoas gritam: ‘Ele atirou em alguém!”
Um dos vídeos, gravado pelo fotógrafo Alex Lourie, mostra um homem sentado no chão sangrando com um ferimento a bala no braço, enquanto carros de polícia se aproximam e agentes gritam para que as pessoas se afastem. Testemunhas acusaram a polícia de ter deixado o atirador passar armado com um fuzil sem fazer nada. Questionado, o xerife David Beth alegou que o cenário era “caótico”, com pessoas gritando e correndo por todas as partes. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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