Liderados pela França, vários países começaram ontem a enviar ajuda emergencial para o Líbano, em razão da explosão que deixou 137 mortos e dezenas de desaparecidos, na terça-feira. O presidente francês, Emmanuel Macron, foi o primeiro líder político a visitar a capital libanesa e caminhar pelas ruas da cidade – antes mesmo das autoridades locais. Acusada de negligência, a classe política do país virou alvo da fúria da população.
Entre os prédios destruídos do bairro de Gemmayze, equipes de resgate reviravam escombros e voluntários removiam pilhas de vidro e detritos. O cenário caótico foi o pano de fundo da caminhada de Macron. “Garanto que a ajuda não vai para mãos de corruptos”, disse o presidente francês a um homem que acompanhava a comitiva.
Mais tarde, Macron disse que sua visita – que foi feita sem um convite do governo – era uma “oportunidade de ter um diálogo franco e desafiador com as instituições políticas libanesas”. A ajuda da França, segundo ele, se concentraria nas necessidades humanitárias. “Se as reformas não forem feitas, o Líbano continuará a afundar.”
Na quarta-feira, dois aviões militares franceses voaram para o Líbano transportando 55 funcionários da Defesa Civil especializados em emergências, 15 toneladas de equipamentos e uma unidade móvel de saúde para atender 500 feridos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia enviará 33 milhões (cerca de R$ 208 milhões) ao Líbano para ajudar na recuperação. A declaração foi feita durante um telefonema entre ela e o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, na manhã de ontem.
Desabrigados
Outros países também mandaram ajuda emergencial. O Catar enviou hospitais de campanha, geradores de energia elétrica e ataduras contra queimaduras, enquanto a Argélia preparou quatro aviões e um navio com ajuda humanitária, equipes médicas e bombeiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prometeu enviar utensílios cirúrgicos. A Alemanha despachou dezenas de especialistas em resgate para ajudar nas operações de busca por sobreviventes sob os escombros.
Após a tragédia, o maior desafio para os habitantes de Beirute é acomodar os cerca de 300 mil desabrigados – a explosão dizimou um pedaço do centro da cidade.
O porto era um centro crucial, com 60% das importações do país fluindo por ele, em uma cidade que é o motor econômico do Líbano. As operações portuárias agora estão paralisadas e o suprimento de grãos foi destruído, aumentando as preocupações sobre a segurança alimentar dos 6,8 milhões de libaneses. A calamidade agravou a crise financeira e política, com inflação crescente e desemprego generalizado.
As causas do acidente ainda são desconhecidas. A origem da primeira explosão é um mistério – há relatos de que o estopim foi o estouro de fogos de artifício em um armazém, mas a imprensa local disse que o primeiro incêndio pode ter sido causado por trabalhos de soldagem de estruturas.
A explosão que provocou a devastadora onda de choque em Beirute foi resultado da combustão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam estocados de maneira imprópria havia 6 anos em um armazém portuário. A ONG Human Rights Watch pediu ontem ao governo libanês que convide especialistas internacionais para conduzir uma investigação independente sobre a tragédia.
Bahaa Hariri, um bilionário libanês e irmão do ex-primeiro-ministro Saad Hariri, também pediu uma investigação internacional sobre a explosão e uma reforma política no Líbano. “Esse relacionamento simbiótico e falido entre funcionários do governo e senhores da guerra tem de acabar”, disse Hariri, em Londres. “E chegará ao fim. Precisamos de uma investigação internacional que não esteja sob o controle do governo. Não acreditamos sequer em uma palavra do que eles dizem.”
Revolta
Ontem, em Gemmayze, uma multidão furiosa cercou Macron para denunciar o governo do Líbano. “Como você quer dar dinheiro a eles? Eles não roubam?”, gritou um homem, referindo-se à elite política do Líbano. “Você está protegendo bandidos”, disse outro, enquanto Macron implorava à multidão. “Você confia em mim?”, respondia o francês, conforme imagens transmitidas pela TV libanesa.
“A França está pronta para pressionar por um grande pacote de ajuda da UE, possivelmente do Banco Europeu de Desenvolvimento. Mas terá de haver condições muito rigorosas para determinar como o dinheiro será gasto, provavelmente sob supervisão internacional”, disseram Ayham Kamel e Mujtaba Rahman, analistas do grupo de risco político Eurasia Group.
“As condições econômicas se tornarão mais agudas e a necessidade de ajuda externa será ainda mais vital”, disseram eles, em nota. De acordo com Rahman e Kamel, o maior desafio a ser superado pela comunidade internacional é que “os partidos políticos libaneses não estão interessados em reformas profundas e não estão convencidos de que ela traria um apoio financeiro internacional significativo”. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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