À primeira vista, o comportamento dos mercados acionários na Ásia nesta madrugada foi incompreensível. Às zero horas de hoje, as autoridades chinesas divulgaram um crescimento de 3,2% no Produto Interno Bruto (PIB) chinês no segundo trimestre. O resultado veio acima dos 2,6% esperados e compensou parcialmente a violenta queda de 6,8% no primeiro trimestre.
O crescimento também aliviou os dados para o acumulado do primeiro semestre. Agora, a retração da economia chinesa na primeira metade do ano foi de 1,8%, um resultado melhor do que o esperado tendo em vista o peso das medidas de contenção do coronavírus. Mesmo assim, as ações na Bolsa de Xangai caíram 4,5%. A baixa não se limitou a Xangai. Os índices recuaram 2% em Hong Kong, 0,8% em Seul e 0,7% em Tóquio. Os pregões também estão no vermelho em Frankfurt e em Londres, e os contratos futuros do índice americano S&P 500 também começam a quinta-feira (16) em território negativo. Os contratos futuros do Ibovespa também estão em queda, apesar da melhora das expectativas específicas para a economia brasileira.
Por que isso aconteceu? Parte da explicação decorre das minúcias dos números chineses. O crescimento geral do PIB foi melhor do que o esperado. A produção industrial avançou 4,8%, confirmando as expectativas. Porém, as vendas no varejo recuaram 1,8% em comparação com o segundo trimestre de 2019. Há alguns anos, isso seria irrelevante. A China era um grande exportador e sua economia vivia para abastecer os mercados externos. No entanto, a segunda economia do mundo agora possui uma classe média pujante, estimada em 300 milhões de pessoas. Se esse exército de consumidores locais não está tão animado em gastar seus yuans, a recuperação da economia chinesa pode ser de curta duração, ainda mais com o ritmo frio das economias dos Estados Unidos e da Europa.
Isso foi confirmado pelo número de pedidos iniciais de seguro-desemprego (jobless claims) nos Estados Unidos, que voltou a cair, mas não recuou tanto quanto se esperava. Na semana encerrada em 11 de julho houve 1,3 milhão de pedidos, leve queda ante o 1,31 milhão (revisado) da semana anterior, mas um resultado pior do que a expectativa de 1,25 milhão. Quanto menos pedidos iniciais de seguro-desemprego, melhor a situação da economia. Assim, uma queda menor do que o esperado é uma notícia ruim.
Indicadores econômicos
Os indicadores antecedentes da economia real brasileira continuam dando sinais positivos. A prévia extraordinária das Sondagens, divulgada na manhã desta quinta-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com dados coletados até o dia 14 de julho, indica um avanço em todos os índices de confiança no mês.
A estimativa é que, em julho, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) vai avançar 7,3 pontos em relação ao resultado de junho, chegando a 87,7 pontos. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) deverá avançar 4,8 pontos, subindo para 75,9 pontos. Segundo Viviane Seda Bittencourt, Coordenadora das Sondagens da FGV, as prévias das sondagens permitem estimar que a recuperação ocorrida entre maio e julho compensou boa parte da queda registrada em março e em abril, os piores momentos da crise. O ICE recuperou 78% das perdas, e o ICC recuperou 60%.
O aumento do ICE decorreu principalmente da melhora tanto das expectativas quanto da percepção sobre a situação atual. A alta do ICC baseou-se principalmente na melhora das perspectivas para os próximos meses, enquanto as condições do momento atual permaneceram estáveis.
O cenário macro de longo prazo permanece positivo, com sinais de reaquecimento da economia e expectativas positivas com relação ao desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. No entanto, as notícias das economias da China e dos Estados Unidos podem levar a uma realização de lucros no curto prazo nesta quinta-feira, ainda em um ambiente de forte volatilidade.
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