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Trump perde voto latino na Flórida por causa da disseminação da covid-19

Danilo de la Torre nunca pensou em votar em Donald Trump, mas também não se animava com o democrata Joe Biden. A resposta errática do governo à pandemia faz com que o estudante de engenharia agora tenha certeza em quem votar. “Biden, porque é a única opção.” Morador de Miami, de 20 anos, de origem cubana, De la Torre é o típico eleitor da Flórida que democratas e republicanos buscam.

O Estado se tornou o novo epicentro do coronavírus nos EUA e bateu a marca de mais de 15 mil casos de coronavírus registrados em 24 horas ontem. Até agora, o maior número de infecções diárias era de 12 mil, em Nova York.

Em abril, com a situação sob controle, o governador republicano da Flórida, Ron DeSantis, aliado de Trump, foi um dos primeiros a anunciar a reabertura da economia, seguindo a pressão do presidente. As atividades foram retomadas mais de um mês antes da adotada em Nova York, local do país mais atingido pelo vírus.

“Tem sido assustador. Não temos liderança em nenhum nível”, afirma De la Torre, que vive no condado de Miami-Dade. Há pelo menos uma semana, as autoridades locais impuseram toque de recolher para tentar controlar a pandemia. Engajado no ativismo climático, De la Torre dizia, em março, que Biden não abordava a crise ambiental com seriedade. Agora, a prioridade é outra. “Vendo a atual resposta ao coronavírus, não quero um segundo mandato de Trump”, afirma.

A taxa de desemprego no Estado foi de 14% em abril e o sistema de auxílio emergencial local está sobrecarregado. A mãe do jovem, que é enfermeira, avisou em casa que no hospital onde trabalha não há mais leitos de UTI. Pelo menos outros 50 hospitais do Estado estão na mesma situação. Mesmo assim, o governador DeSantis afirmou que as escolas reabrirão em agosto.

Há quase 25 anos, quem vence na Flórida leva a eleição presidencial. O Estado oscila entre republicanos e democratas, sempre com margens mínimas. Trump derrotou Hillary Clinton, em 2016, e ganhou os 29 delegados estaduais no Colégio Eleitoral. Agora, porém, o presidente está atrás de Biden nas pesquisas – o democrata tem 6,3 pontos porcentuais de vantagem, segundo a média de sondagens do site FiveThirtyEight.

Para vencer no Estado, a campanha de Biden aposta no voto latino e jovem. Os latinos representam 16,4% do eleitorado da Flórida, a maior proporção já registrada. Entre 2016 e 2018, o crescimento nos registros de hispânicos foi três vezes maior do que o restante do eleitorado.

Em todo o país, o número de latinos aptos a votar passou de 7%, em 2000, para 13% e eles devem formar o maior bloco entre as minorias pela primeira vez. No Arizona, em Nevada e no Texas o voto dos latinos também pode ser determinante.

Na sexta-feira, 10, Trump embarcou para a Flórida, onde discursou para exilados venezuelanos. No discurso, prometeu “lutar pela Venezuela” e se promoveu como um líder duro com o tráfico de drogas. Antes de embarcar, o presidente assinou um decreto criando um comitê para melhorar o acesso dos americanos de origem latina a oportunidades econômicas e acadêmicas.

A retórica antissocialista, vitoriosa em 2016, ainda tem forte apelo em Miami, entre exilados cubanos e venezuelanos. Mas a estratégia da Casa Branca para derrubar o regime de Nicolás Maduro não surtiu efeito e o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton revelou em seu livro, lançado na semana passada, que Trump gostaria de se encontrar pessoalmente com o chavista – o que pegou mal entre os latinos mais conservadores.

Já Biden chamou de “distração” a viagem de Trump. O democrata tem explorado o fato de a reabertura da economia ter levado ao aumento de casos de covid-19, que afeta mais latinos e negros, expostos na linha de frente de supermercados e serviços de entrega. “Está claro que a resposta de Trump foi dada à custa das famílias da Flórida”, afirmou Biden.

Com o fracasso da resposta federal e estadual à crise, mesmo líderes conservadoras do Estado buscam distância de Trump. O prefeito de Miami, Francis Suárez, recusou-se a dizer se votará no republicano. Descendente de cubanos, ele é republicano desde os 18 anos e considerado um líder importante entre os latinos do sul do Estado.

“A pandemia mostrou o quanto Trump é ruim como líder e os eleitores da Flórida estão sentindo os efeitos disso”, afirma a diretora de comunicação do comitê democrata da Flórida, Luisana Pérez Fernández. A campanha de Biden aposta também na insatisfação dos mais velhos com o fato de Trump ter insistido na reabertura – os idosos representam mais de 20% do total de habitantes da Flórida.

“A comunidade latina foi mais afetada pela pandemia. Venezuelanos e cubanos sofrem com as mudanças nas regras de imigração. Os porto-riquenhos sofrem com o bloqueio de recursos para a reconstrução após o furacão Maria”, diz Luisana. Mesmo assim, os latinos não são um bloco monolítico. Em março, uma pesquisa do canal Telemundo apontou que só 27% dos cubanos votariam em Biden. Entre os porto-riquenhos, o número salta para 81%. “Os latinos decidirão essa eleição. E a Flórida será o exemplo disso”, completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Beatriz Bulla, correspondente

Estadão Conteúdo

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