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Trump quer se firmar como presidente da recuperação econômica, dizem analistas

Diante das sucessivas pesquisas indicando que o presidente Donald Trump perderia as eleições para seu concorrente democrata Joe Biden, analistas ouvidos pelo Estadão afirmam que a estratégia do presidente americano agora é a de tentar se consolidar como o responsável pela normalização pós-pandemia do coronavírus e pela recuperação econômica.

Um de seus principais desafios é o de minimizar os prejuízos da pandemia e desqualificar as diferentes pesquisas que o colocam como perdedor da disputa pela Casa Branca. “Ele quer assegurar que haja uma sensação entre a população de uma tendência positiva e está disposto a aceitar um maior número de vítimas desde que haja recuperação mais rápida da economia. O que pode dar muito errado, já que a reabertura pode acelerar o número de casos”, diz Oliver Stuenkel, coordenador da pós-graduação da Escola de Relações Internacionais da FGV.

O desemprego atinge 13,3% da população e, apenas em abril, 20 milhões de pessoas perderam seus trabalhos – o pior mês desde a Grande Depressão. Os Estados Unidos são o país mais atingido pelo novo coronavírus, com 2,4 milhões de casos e mais de 124 mil mortos. Nesta semana, uma pesquisa do jornal The New York Times com o Siena College mostrou que Joe Biden tem 50% das intenções de voto e Trump, 36%. Em meio aos protestos por justiça racial e resultados de uma gestão errática da pandemia do novo coronavírus, o presidente americano registrou 39% em recente pesquisa da Gallup.

“É um número baixíssimo para um candidato que pretende a reeleição”, avalia Carlos Poggio, doutor em relações internacionais e professor da FAAP. Poggio lembra que apenas um candidato foi reeleito com um nível de aprovação tão baixo: Harry Truman, em 1948, mas pondera que a pesquisa é uma fotografia do momento e que ainda faltam cinco meses para o pleito. A mesma pesquisa do NYT mostrou que Trump perdeu força nos seis Estados-chave que deram a ele a vitória no Colégio Eleitoral em 2016: Michigan, Pensilvânia, Wisconsin, Flórida, Arizona e Carolina do Norte.

Na última semana, a campanha de Trump teve outra derrota considerável: alardeou que um comício em Oklahoma, o primeiro da retomada de sua campanha, iria atrair multidões. O local estava esvaziado. “Há uma percepção bastante ampla na população americana de que o governo Trump não geriu bem a pandemia”, afirma Stuenkel. Além da crise econômica e da pandemia, as pesquisas mostram também uma percepção de que a postura de Trump não foi construtiva em relação às manifestações”.

Para Stuenkel, uma boa parcela da população americana acredita que o país está indo na direção errada e, diante disso, Trump já não é mais o favorito. O cenário é muito diferente do de 120 dias atrás, quando até mesmo democratas reconheciam a dificuldade de desbancar Trump na disputa presidencial. Pela primeira vez, Trump admitiu publicamente que poderia perder.

Os analistas lembram que a reeleição é um referendo do atual governo e que o papel de Biden pode até ser secundário, o que explicaria sua atuação defensiva. No momento, Trump tem tentado colar nas manifestações contra o racismo o rótulo de violentas e sugere que os democratas seriam favoráveis a “terroristas” que apoiam a destruição do patrimônio e querem tirar recursos das polícias.

Na avaliação de Poggio, que fez pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Georgetown sobre a ascensão de Trump à presidência, a estratégia tem se mostrado falha, uma vez que as manifestações foram amplamente pacíficas.

Para o professor, os protestos favorecem a campanha de Joe Biden, que não tem o mesmo carisma de Trump, e consegue se colocar na pauta. “Os protestos deram algum destaque para ele, já que antes só se falava em coronavírus. E agora o Biden faz o papel no qual está mais confortável: o de uma figura paterna”, diz. Por sua vez, a pandemia permite que a campanha não realize eventos públicos e evite gafes.

Por Paulo Beraldo

Estadão Conteúdo

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