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Covid-19 mata 400 mil no mundo e América Latina falha na luta contra a pandemia

Mais de 400 mil pessoas morreram de covid-19 até este domingo, 7, em todo o mundo, segundo balanço da universidade americana Johns Hopkins, com o número de casos aumentando na América Latina e sem uma perspectiva de chegada ao pico, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O chefe de emergências da OMS, Mike Ryan, afirmou na semana passada que é difícil prever se o pior está por vir nas América do Sul e Central.

Durante algum tempo no início da pandemia, quando a América Latina era mais espectadora do surto ocorrendo na China, depois na Europa e em seguida nos Estados Unidos, havia esperança de que, quando o coronavírus chegasse ao continente, seria diferente. Semanas depois, mais de um milhão de pessoas estão infectadas, dezenas de milhares morreram e aquelas esperanças desvaneceram.

A doença tem sido um desastre no Brasil, que hoje está em segundo lugar, depois dos Estados Unidos, em casos confirmados, com mais de 31 mil mortos. O Peru tem o dobro do número de infecções registrado na China. O México já registrou mais de 10 mil mortes. No Chile, as autoridades alertaram que o sistema hospitalar em Santiago está no limite da capacidade de atendimento.

Mesmo na Argentina, um dos primeiros países a tomar medidas de contenção na América Latina, o número de casos aumentou nas últimas dias. O país registrou 929 novas infecções no fim de semana e prorrogou até 28 de junho o isolamento social obrigatório em Buenos Aires, tanto a capital quanto a Província, e em algumas outras partes do país.

O papa Francisco lamentou neste domingo que a epidemia de coronavírus continue a causar “muitas vítimas” na América Latina e expressou sua proximidade aos povos da região, durante a tradicional oração do Angelus no Vaticano. “Infelizmente, em outros países, especialmente na América Latina, o vírus continua fazendo muitas vítimas”, disse o papa. “Sexta-feira passada, num país, morreu um por minuto, terrível!”

Os esforços da América Latina para deter a doença foram arruinados por um elenco familiar de inimigos. Pobreza, desigualdade, corrupção, pouca confiança nas instituições – muitos problemas sociais que existiam antes da pandemia hoje são amplificados por ela.

Países que tentaram impor bloqueios totais não conseguem mantê-los por muito tempo à medida que a fome aumenta, a desinformação se propaga e a desconfiança cresce.

“A crise está interagindo com problemas estruturais que a América Latina enfrenta há muito tempo e esses problemas estão exacerbando o efeito deste abalo na saúde”, afirmou Luis Felipe López-Calva, diretor para a América Latina do Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU).

Apesar da diversidade das estratégias – das medidas draconianas no Peru ao laissez-faire no Brasil – muitos países acabaram no mesmo lugar: o número de casos da doença disparou, com pouca capacidade política ou institucional para achatar a curva.

Como a região chegou a este ponto é um exemplo das dificuldades para controlar uma epidemia no mundo em desenvolvimento. Medidas de distanciamento social e isolamento – que precisam vigorar durante semanas para terem algum efeito – simplesmente não foram mantidas em países onde as pessoas vivem aglomeradas nas favelas e precisam sair diariamente para trabalhar.

Para as políticas de contenção terem sucesso, afirmam os analistas, elas necessitam de apoio público e uma ajuda robusta para os mais pobres. Mas em grande parte da região faltam os dois elementos.

Apesar de os países terem adotado sistemas para distribuir dinheiro aos mais pobres, muitos trabalhadores ainda precisam deixar suas casas para se sustentar. Agora, à medida que se observa uma exaustão depois de 10 semanas de isolamento, a confiança nos governos vem caindo.

Muitos países, sem nem ao menos terem chegado ao pico da pandemia, começam a ensaiar uma reabertura, caso do México e do próprio Brasil.

“Ainda não é tempo de relaxar as restrições ou reduzir estratégias preventivas”, afirmou Clarissa Etienne, diretora da Organização Pan-americana de Saúde. “É preciso permanecer forte e vigilante e implementar medidas agressivas e comprovadas de saúde pública”, afirmou. (Com agências internacionais).

Estadão Conteúdo

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