Antes da pandemia, movimentos sociais e protestos em massa atormentavam a vida de vários governos ao redor do mundo. Com o avanço da covid-19, os coletes amarelos, na França, o movimento das sardinhas, na Itália, os estudantes chilenos e a revolta do guarda-chuva, em Hong Kong, por exemplo, tiveram de mesclar novas e velhas táticas de protesto, como panelaços e uso de hashtags, para manter vivo o ímpeto das manifestações.
Alguns não resistiram. No Líbano, que quase entrou em colapso financeiro em dezembro, a pandemia esvaziou as ruas. Na Índia, o vírus também acalmou as manifestações contra uma lei de cidadania que discriminava muçulmanos. O risco de contaminação também foi fatal para os protestos pela democratização da Argélia, interrompidos em março, quando o governo proibiu manifestações de rua.
Em Hong Kong, o movimento contra a interferência chinesa sucumbiu ao isolamento social. No entanto, não se sabe ainda se foram ou não ressuscitados pela decisão de Pequim, na quinta-feira, de impor uma lei de segurança nacional para acabar com a autonomia do território. De maneira reveladora, o gesto da China foi anunciado no momento em que a população do território ainda vive sob restrições sanitárias.
Em outros países, os movimentos sociais ainda lutam para manter o entusiasmo dos insatisfeitos. Às vezes, um deslize do governo ajuda, como no Chile. No dia 5, o presidente Sebastián Piñera nomeou como ministra da Mulher e da Diversidade de Gênero a sobrinha-neta do ditador Augusto Pinochet, Macarena Santelices, a mesma que, em 2016, havia afirmado ser “preciso recordar as coisas boas do regime militar”. Sem poder sair às ruas em razão do isolamento social, mais de 30 grupos feministas protestaram de forma diferente.
Por meio de um tuitaço com a hashtag #notenemosministra (não temos ministra), que reuniu mais de 22 mil menções em menos de 24 horas, foi convocado um panelaço, que ocorreu na mesma noite. Mesmo com as manifestações, Piñera empossou Santelices no Palácio La Moneda.
O caso mostra como movimentos sociais mesclam antigas táticas, como panelaços, com o uso de novas mídias para manter suas reivindicações vivas. “Movimentos sociais demandam aglomeração, uma socialização fundamental para concepção de estratégias, desde as lideranças se articulando até os desfechos. Há sempre contato físico. Com esse isolamento, vem o dilema: como continuar se mobilizando? Aí entra a reinvenção dos movimentos, com panelaços e uso de hashtags”, afirma a professora de relações internacionais da ESPM Carolina Pavese.
Na Argentina, as integrantes da campanha pela legalização do aborto seguem a mobilização de forma virtual. “Neste ano, não podemos convocar ações públicas ou marchas, seria irresponsável”, disse a socióloga e integrante da campanha Elsa Schvartzman. “Então, todas as atividades estão sendo realizadas virtualmente. Encontros, palestras, reuniões políticas. E publicamos tudo o que é possível. A mobilização continua.”
Na Europa, as mesmas táticas estão sendo adotadas. “A difusão de novas tecnologias permite que se organizem protestos online, até mesmo de grandes dimensões, como a greve mundial pelo clima, que ocorreu em plena pandemia”, afirma a professora de ciência política da Scuola Normale Superiore, em Pisa, Donatella Della Porta. “Outro exemplo é o uso de petições, que se multiplicaram nesse período. A greve dos aluguéis promovida por estudantes (da Itália) é um exemplo disso.”
Nos países onde o relaxamento do isolamento começou, os grupos estudam a possibilidade de voltar a protestar nas ruas, mas os governos ainda reprimem aglomerações. Na França, os coletes amarelos, que surgiram contra o aumento de impostos sobre o consumo de combustível, tentam retomar sua agenda.
No primeiro sábado de relaxamento do confinamento na França, o grupo levou faixas contra o presidente Emmanuel Macron e desafiou a proibição de aglomeração nas cidades de Nantes e Bordeaux. A polícia, porém, logo dispersou a manifestação.
No entanto, o maior obstáculo para os movimentos sociais, além do coronavírus, é o aumento da popularidade dos chefes de governo, que naturalmente tende a crescer durante momentos de crise e diminuir a empolgação das manifestações.
No Chile, a popularidade de Piñera chegou a 6%, em janeiro. Em abril, segundo o instituto de pesquisas Cadem, ele já tinha 25%. Macron, que estava com 35% de aprovação em janeiro, hoje tem 44%, segundo o instituto Ipsos. O fenômeno, que se repete em quase todas as partes do mundo, atrapalha ainda mais os movimentos sociais.
Para tentar sobreviver, vale tudo. A cineasta chilena Dominga Sotomayor organizou um grupo que transmite filmes de protestos online. “A pandemia tem sido um momento difícil para o Chile, porque fragilizou o movimento”, disse Sotomayor ao New York Times. “Por isso, temos de levar o protesto para a internet.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernanda Simas e Janaina Cesar (Especial para a AE)
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