O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e seu rival Benny Gantz fecharam ontem um acordo para formar um governo de emergência em meio à pandemia do coronavírus. A decisão põe fim a um ano de paralisia política, marcada pela ausência de maioria no Parlamento após três eleições e consolida Netanyahu no poder, mais uma vez, mesmo após o premiê ter sido indiciado por corrupção.
O novo governo terá duração de três anos, sendo a primeira metade liderada por Netanyahu, do partido de direita Likud, e a outra, por Gantz, da coalizão Azul e Branco. Ele serviria como vice-premiê nesta primeira fase do acordo. Como aliados, Gantz e Bibi evitam uma quarta eleição, baixam o tom da retórica política dos últimos meses e oferecem uma chance de unir o país em meio à pandemia.
Em relação a Gantz, ex-chefe do Exército e novato na política, o acordo foi interpretado por muitos como um sinal de fraqueza. Suas três campanhas foram feitas com a promessa de tirar Netanyahu do poder. A decisão foi considerada “traição” por muitos deputados do Azul e Branco, principalmente porque, durante o impasse, Gantz foi ridicularizado pelo premiê.
Duas figuras importantes do Azul e Branco, Yair Lapid e Moshe Yaalon, criticaram o ex-general e definiram o acordo como “rendição”. “O que está sendo formado em Israel não é um governo de emergência nacional, nem um governo de união nacional. É um outro governo de Netanyahu. Benny Gantz se rendeu sem lutar e rastejou na direção de Netanyahu”, disse Lapid.
Apesar do senso de urgência de formar um governo para combater o coronavírus, o acordo não resolve definitivamente diferenças políticas importantes entre os dois. Netanyahu pretende anexar territórios palestinos na Cisjordânia, mas Gantz diz que só apoia a anexação se houver consenso internacional, o que não deve ocorrer.
O acordo entre os dois adia a anexação até 1.º de julho e declara que ela deve ser feita de maneira a salvaguardar os interesses de Israel, “incluindo as necessidades de preservar a estabilidade regional, protegendo os acordos de paz existentes e aspirando a futuros”. No entanto, o trato deixa as determinações para o governo e diz que Gantz só terá direito a ser “consultado” sobre o tema e não terá poder de veto.
No muro
As negociações entre Netanyahu e Gantz, que já eram complicadas em razão das diferenças entre os dois, se tornaram ainda mais difíceis com a pandemia. Em determinado momento, Bibi ficou isolado em seu bunker, em Jerusalém, de quarentena depois que o ministro da Saúde, Yaakov Litzman, testou positivo para covid-19.
Segundo o Channel 13, uma das principais emissoras de Israel, Gantz ficava no pátio do complexo do premiê em Jerusalém, com Netanyahu dentro da residência oficial, e os dois conversavam aos gritos sobre a formação do futuro gabinete.
Resta saber agora como a política israelense vai lidar com o julgamento de Netanyahu – é a primeira vez que Israel tem um primeiro-ministro indiciado no exercício do cargo. Em novembro, o procurador-geral, Avichai Mandelblit, transformou Bibi em réu em três casos. O primeiro escândalo se refere ao “Caso 4000”, em que Netanyahu é acusado de dar concessões regulatórias a Shaul Elovitch, acionista controlador da empresa de telecomunicações Bezeq, em troca de cobertura favorável de seu site de notícias Walla.
Já o “Caso 2000” é sobre um acordo entre Netanyahu e Arnon Mozes, dono do jornal Yediot Aharonot, por uma cobertura favorável em troca de ações governamentais contra o diário rival Israel Hayom.
Por fim, no “Caso 1000”, o premiê é acusado de fraude e de quebra de confiança por aceitar presentes caros de empresários ricos, entre eles o do magnata de Hollywood Arnon Milchan, também em troca de favores. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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