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Reino Unido tem recorde de mortos; Boris Johnson recebe oxigênio na UTI

O Reino Unido registrou ontem um recorde de 786 mortes e 3,6 mil novos casos de coronavírus em 24 horas, dados que mostram que a pandemia vem se acelerando no país. A síntese da calamidade é a situação do primeiro-ministro Boris Johnson, que ocupa um quarto de UTI no Hospital St. Thomas, em Londres. O governo britânico disse que ele recebeu oxigênio durante o dia, mas garante que Johnson respira sem a ajuda de aparelhos.

O modelo estatístico do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), centro de pesquisa da Universidade de Washington, que tem sido usado pela Casa Branca e vários governos do mundo, prevê que o Reino Unido será o país mais afetado da Europa e terá 40% do total de mortes no continente, podendo chegar a 66 mil em agosto – com um pico de até 3 mil óbitos por dia, com base no avanço da doença no início da pandemia.

O Reino Unido atingiria o ápice do surto no dia 17, segundo o IHME, quando o país precisaria de pelo menos 102 mil leitos de hospital – o sistema de saúde britânico tem apenas 18 mil disponíveis. O país também não terá vagas de UTI e respiradores suficientes para todos, segundo os dados da Universidade de Washington.

Muitos analistas britânicos, porém, preferem adotar o modelo do Imperial College, de Londres, que mostra um cenário menos catastrófico, de um mínimo de 20 mil mortos, contanto que o governo mantenha as duras medidas restritivas. “O modelo da IHME não se aplica ao Reino Unido”, disse Neil Ferguson, professor do Imperial College, responsável pelo estudo que convenceu Johnson a declarar quarentena no país, no dia 23.

O premiê, que foi diagnosticado com coronavírus há duas semanas, permanece na UTI.

Os médicos disseram que ele não tem pneumonia, está estável e respira sem a ajuda de aparelhos. “Ele vem recebendo o tratamento-padrão de oxigênio e respirando sem nenhuma outra ajuda”, disse um porta-voz do governo.

O primeiro-ministro, de 55 anos, foi internado no domingo para ser submetido a exames. Na segunda-feira, seu estado de saúde se agravou e ele foi transferido para a UTI. A notícia provocou comoção no Reino Unido, entre governistas e opositores. Com Johnson fora de combate, o governo passou a ser liderado pelo chanceler Dominic Raab.

Há um mês, Johnson abordava a crise do coronavírus de maneira descontraída. Em uma entrevista coletiva, em 3 de março, ele se gabou de ter “apertado a mão de todos” depois de visitar um hospital onde 19 pacientes estavam sendo tratados com covid-19 – e garantiu que pretendia continuar fazendo isso.

Dois dias depois, o Reino Unido anunciou sua primeira morte. Foi o que bastou para Johnson, no dia 12, chamar a pandemia de “a pior crise de saúde pública em uma geração” e alertar para a possibilidade de que muitos britânicos perderiam parentes. Ainda assim, a estratégia divergia das medidas radicais adotadas por outros países da Europa, onde o confinamento já estava em vigor.

Aos jornalistas, Johnson repetia sua recomendação de lavar bem as mãos “durante o tempo necessário para cantar Parabéns Pra Você duas vezes”. Para os idosos, acima dos 70 anos, mais vulneráveis ao coronavírus, ele simplesmente desaconselhava ir a um cruzeiro.

A estratégia de Johnson era atingir a chamada “imunidade coletiva”, quando a maioria dos britânicos já teria contraído o vírus e estaria imune à doença. Mas, diante das críticas crescentes e especialmente após o estudo do Imperial College, ele mudou de opinião – os dados previam 250 mil mortos sem medidas de distanciamento e 20 mil com quarentena rígida.

Devagar

O isolamento, no entanto, aconteceu em câmera lenta. No dia 16, Johnson pediu à população que evitasse contato social “não essencial”, viagens desnecessárias e realizasse trabalho remoto, quando possível. No dia 20, deu ordem para fechar escolas, bares, restaurantes, cinemas e academias. Apenas no dia 23, ordenou um confinamento de três semanas – mesmo assim, manteve reuniões presenciais com o gabinete.

Quatro dias depois, no dia 27, Johnson pegou todos de surpresa quando anunciou que havia testado positivo para a covid-19. Segundo o próprio premiê, seus sintomas eram “leves” e ele ficaria isolado na residência oficial, em Downing Street, comandando o país por videoconferência.

Dúvidas sobre sua capacidade de continuar cumprindo suas obrigações se multiplicaram. No sábado, sua noiva Carrie Symonds, de 32 anos, que está grávida, mas não está com o premiê, disse que se recuperava após uma semana de cama com os sintomas da doença. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Estadão Conteúdo

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