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Bloomberg desiste após Superterça E fortalece Biden em disputa democrata

Um dia depois de vencer as prévias democratas em nove Estados na Superterça, a candidatura de Joe Biden recebeu nesta quarta-feira, 4, um novo impulso. O bilionário Michael Bloomberg desistiu da disputa e anunciou que apoia o ex-vice-presidente americano. Após gastar US$ 500 milhões em 100 dias de campanha, e não ganhar nenhuma primária estadual, o magnata disse que abandonava a corrida presidencial, mas não o objetivo de derrotar Donald Trump.

“Entrei na disputa para derrotar Trump. E estou saindo dela pelo mesmo motivo: derrotar Trump”, disse o ex-prefeito de Nova York em um evento para simpatizantes em um hotel de Manhattan. No fim do discurso, Bloomberg disse que trabalhou com Biden ao longo dos anos e garantiu que o ex-vice-presidente americano está comprometido com o controle da venda de armas e com o combate às mudanças climáticas, duas de suas bandeiras de campanha.

Se Biden venceu mais primárias, o senador Bernie Sanders levou o grande prêmio da noite: a Califórnia, Estado com o maior número de delegados. No entanto, com a distribuição deles é quase sempre proporcional à votação, a diferença entre os dois adversários, em número de delegados, é pequena.

De qualquer maneira, o resultado e a desistência dos principais rivais consolida a disputa democrata entre dois campos: Sanders, um progressista de 78 anos, e Biden, um moderado de 77 anos.

Sem a presença de Bloomberg, Biden tem agora todo o eleitorado centrista a seu dispor, enquanto Sanders ainda enfrenta a concorrência da senadora Elizabeth Warren, outra representante da ala esquerdista do Partido Democrata.

Para evitar competir pelo mesmo voto e fortalecer ainda mais o ex-vice-presidente, Sanders e Warren se falaram nesta quarta pelo telefone. “Nós conversamos e o que Warren me disse é que ela está reavaliando sua campanha”, disse Sanders. “Ela ainda não fez uma escolha. É importante respeitar o tempo e o espaço que ela precisa para tomar essa decisão.”

De todas as vitórias de Biden na Superterça, uma das mais importantes foi na Carolina do Norte, um Estado-chave na eleição de novembro. O início claudicante da campanha do ex-vice-presidente americano, com derrotas nas três primeiras prévias, acendeu o sinal de alerta no establishment do partido. Com muitos candidatos moderados na disputa, o risco era o de Sanders acumular uma vantagem insuperável de delegados.

A leitura da maioria da liderança democrata é a de que Sanders polariza o debate com Trump e afugenta o voto dos eleitores moderados, o que facilitaria a reeleição do presidente. O bom desempenho de Biden na Superterça, portanto, foi recebido com um suspiro de alívio.

Especialmente a vitória do ex-vice-presidente americano na Carolina do Norte consolidou o argumento de que Biden é capaz de seduzir os eleitores em um Estado que ajudou a eleger Trump, em 2016, e tem um histórico de votação favorável aos republicanos. “Não chamam de Superterça à toa”, afirmou Biden após a divulgação dos primeiros resultados.

A mensagem de que é preciso construir uma candidatura de centro para ter força em novembro parece ter chegado ao eleitorado. Janice Brunson é de Maryland, no Estado de Virgínia, mas mudou no início de fevereiro para Charlotte, na Carolina do Norte. Ela votou em Biden na terça-feira, apesar de dizer que tem muito mais afinidade com as propostas de Sanders. “Bernie não é tolerado no Meio-Oeste. Biden é o que tem mais chances de vencer Trump”, disse.

O Meio-Oeste americano concentra Estados rurais, como Iowa, e parte do chamado Cinturão da Ferrugem, onde está o operariado de renda familiar e escolaridade mais baixos do que a média americana, um setor profundamente afetado pela desindustrialização. Foram esses eleitores que deram a Trump a vitória contra Hillary Clinton, em 2016.

Minnesota é um dos Estados do Meio-Oeste e um exemplo de como Biden se transformou no candidato mais viável contra Trump. Desde que chegou à Casa Branca, o presidente vem dizendo que fará de Minnesota um campo de batalha para torná-lo republicano. Até a véspera da Superterça, Sanders liderava as pesquisas no Estado, mas quem levou foi Biden, de maneira surpreendente.

Apesar do favoritismo, o caminho até a nomeação é longo e Biden corre alguns riscos. Sanders demonstrou força nos Estados da Costa Oeste, principalmente entre os eleitores latinos, em Nevada e na Califórnia, que são menos conservadores do que os do Texas.

A próxima rodada de primárias está marcada para o dia 10. Em disputa, justamente Estados do Oeste americano – Washington e Idaho – e regiões nas quais a demografia favorece Sanders – Michigan e Dakota do Norte. Segundo o calendário, apenas as primárias em Mississippi e Missouri seriam terrenos favoráveis a Biden.

Outra ameaça ao ex-vice-presidente está no Congresso. O senador republicano Ron Johnson se reuniu ontem a portas fechadas com colegas de partido para discutir uma investigação a respeito de Biden e de seu filho Hunter, relacionada a um escândalo de corrupção na Ucrânia – o mesmo que motivou o impeachment de Trump. Embora nada indique que os dois estejam envolvidos em algum tipo de esquema, a movimentação pode afetar sua imagem em um momento decisivo da campanha.

Por Beatriz Bulla, enviada especial

Estadão Conteúdo

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