A Turquia anunciou ontem a abertura de sua fronteira com a Europa por 72 horas para a passagem de refugiados, a maioria sírios. A decisão é uma resposta ao ataque sírio que matou 33 soldados da Turquia em Idlib, na quinta-feira, e seria uma tentativa do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de pressionar a União Europeia a apoiar sua ofensiva contra as forças de Bashar Assad no norte da Síria.
A abertura das fronteiras foi anunciada na TV estatal turca. Imediatamente, refugiados seguiram para os pontos de passagem no norte, nas divisas com Grécia e Bulgária, e no oeste, perto das ilhas gregas de Lesbos e Chios. Sem a presença da Guarda Costeira da Turquia, que foi orientada a não reagir, muitos se arriscaram na travessia em barcos infláveis.
Muitos imigrantes, temendo que a janela de 72 horas seja curta demais, organizaram caravanas de ônibus de Istambul para Edirne, última grande cidade antes da fronteira grega. Os governos de Grécia e Bulgária reforçaram a presença militar e garantiram que ninguém entraria na União Europeia.
“Eles não vão entrar na Grécia”, afirmou à Reuters um funcionário do governo grego. “São imigrantes ilegais, não os deixaremos entrar.”
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, também foi categórico pelo Twitter. “Um número significativo de migrantes e refugiados se reuniu em grandes grupos na fronteira terrestre grega-turca e tentou entrar no país ilegalmente. Quero deixar claro: nenhuma entrada ilegal na Grécia será tolerada”, afirmou.
Mesmo com os alertas, a polícia grega teve trabalho ontem para conter cerca de 300 refugiados e empurrá-los de volta para a Turquia com bombas de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral.
Na outra fronteira terrestre da Turquia, com a Bulgária, a segurança também foi reforçada. O primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, anunciou o envio de mil homens para impedir a entrada de imigrantes e refugiados. O premiê se reunirá com Erdogan na segunda-feira para discutir a crise.
Em Bruxelas, os burocratas europeus se assustaram quando viram as imagens, captadas por drones, de caravanas de refugiados atravessando campos, florestas e se aproximando da fronteira com a Grécia. Logo depois, a UE exigiu que Erdogan cumpra um acordo de 6 bilhões de euros (cerca de R$ 30 bilhões) para impedir a passagem de imigrantes. Segundo o tratado, em vigor desde 2016, a Turquia interromperia o fluxo de pessoas em troca do dinheiro.
A nova crise entre Turquia e UE ocorre após Erdogan intensificar sua intervenção militar na Síria. Ele pretende ocupar uma vasta zona-tampão no norte do país para realocar os 3,6 milhões de refugiados detidos na Turquia e expulsar da fronteira os rebeldes curdos, considerados terroristas pelo governo turco.
O problema é que Assad vem recebendo ajuda russa há mais de quatro anos. Desde setembro de 2015, o ditador sírio vem retomando o território perdido, primeiro para os jihadistas do Estado Islâmico, depois para os rebeldes dissidentes, que lutam ao lado da Turquia.
O último reduto dos opositores sírios e das forças turcas é a província de Idlib, onde ocorrem os maiores enfrentamentos. Na quinta-feira, um ataque de forças da Síria matou 33 soldados turcos na região. Irritado, Erdogan convocou uma reunião de emergência de seu gabinete.
Segundo autoridades do governo turco, ele mandou a polícia, a Guarda Costeira e os agentes de fronteira a não impedirem o trânsito de refugiados. Nos bastidores, diplomatas da UE acreditam que a medida seja uma forma de pressionar o bloco a dar mais apoio à operação militar turca na Síria.
Erdogan também tenta obter apoio da Otan, organização da qual a Turquia é membro, para criar uma zona de exclusão aérea em Idlib. A medida protegeria as tropas turcas de ataques de aviões russos e sírios. Até o momento, porém, os líderes da aliança atlântica tiveram uma reação tímida.
Ontem, após reunião dos países da Otan, os representantes da organização expressaram solidariedade com a Turquia, mas rejeitaram qualquer ação militar e descartaram a zona de exclusão aérea. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu apenas que Rússia e Síria interrompam os “ataques indiscriminados” e “respeitem a lei internacional”.
Quanto a Moscou, Erdogan vem adotando cautela e evitando um confronto direto. Ontem, os russos negaram qualquer participação no ataque que matou 33 soldados turcos. Em Ancara, no entanto, o governo turco vê com desconfiança as declarações do Kremlin, já que a Rússia comanda as ações aéreas em Idlib. No entendimento da Turquia, mesmo que não tenham participado da operação, os russos sabiam do bombardeio e não fizeram nada para impedi-lo. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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