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Juiz que indiciou Cristina morre em Buenos Aires

O juiz federal Claudio Bonadio morreu ontem em decorrência de um câncer agressivo no cérebro. Ele era uma espécie de “Sérgio Moro argentino” por comandar uma versão da operação Lava Jato e por ter levado a ex-presidente Cristina Kirchner ao banco dos réus.

Bonadio era conhecido como o algoz da ex-presidente por ter impulsionado sete dos dez processos por corrupção que Cristina responde na Justiça. Aqueles que criticavam Bonadio dizem que ele havia estabelecido uma espécie de “guerra” judicial contra Cristina. Seus defensores o tinham como um exemplo na luta contra a corrupção e fiel defensor da democracia.

Um dos advogados de Cristina, Gregório Dalbon, chegou a comparar a situação judicial da ex-presidente com a de Luiz Inácio Lula da Silva. Após a divulgação da notícia sobre a morte de Bonadio, Dalbon disse ao jornal O Estado de S. Paulo que “gostaria que o juiz tivesse pagado em vida por todas as arbitrariedades cometidas”, mas que, pessoalmente, lamentava sua morte. “Morre um adversário, não um inimigo”, declarou.

Horas antes, Dalbon havia provocado polêmica na Argentina ao dizer ao jornal Clarín que, “com a morte de Bonadio, morre uma das piores partes da Justiça”. Apesar de ter sido nomeado durante o governo de Carlos Menem, a fama de Bonadio chegou somente no momento em que ele se transformou em um dos magistrados mais empenhados em investigar as acusações de corrupção contra o kirchnerismo.

Entre os processos contra Cristina impulsionados por Bonadio está a reabertura da denúncia que seria feita pelo promotor Alberto Nisman, um dia após ser encontrado morto em seu apartamento. Segundo o promotor, o governo de Cristina havia acobertado os iranianos responsáveis pelo ataque à Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), que deixou 85 mortos, em 1994.

O juiz também era responsável pelos casos Hotesur, que trata do desvio de verbas de uma obra pública na Província de Santa Cruz em favor de empresas de um ex-funcionário de seu governo, Lázaro Báez; e Los Sauces, que investiga o aluguel de quartos, nunca ocupados, em um hotel de propriedade dos Kirchners por parte dos empresários Cristóbal López e Lázaro Báez, como forma de pagamento de vantagens obtidas em concessões de obras públicas. A mais recente se chama “Cadernos da Corrupção” e investiga as anotações de um motorista de um ex-funcionário do governo que relata pagamentos de subornos.

“Tenho muita sorte para os sorteios, sempre tiro o Bonadio ou o (Julián) Ercolini”, ironizou Cristina durante um dos depoimentos que prestou ao Tribunal Federal por fraude, referindo-se ao acúmulo de processos contra ela que estão a cargo do juiz e do promotor.

Nem mesmo o personagem histórico San Martín ficou de fora da polêmica. A ex-presidente foi acusada de ter-se apoderado ilegalmente de uma carta que o líder da independência argentino escreveu ao estadista chileno Bernardo OHiggins. No livro que escreveu intitulado Sinceramente, no qual conta bastidores de seu governo, Cristina afirma que a carta teria sido um presente do líder russo, Vladimir Putin.

Com a morte de Bonadio, fica a dúvida sobre quem será o responsável pelos processos de corrupção contra Cristina. Os principais casos já foram encaminhados para julgamento oral e público e estão em fase de preparação.
A coligação do ex-presidente Maurício Macri lamentou a morte de Bonadio e pediu que espera que os processos sigam o ritmo que os juristas necessitam para que a Justiça chegue a tempo e seja verdadeiramente justa.

Por sorteio, Sebastián Casanello foi nomeado para substituir Bonadio, que estava de licença até o dia 29. Após essa data, a Câmara Federal de Buenos Aires definirá se estenderá essa substituição ou se fará um novo sorteio para a vaga do magistrado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Luciana Rosa, especial para o Estado

Estadão Conteúdo

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