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Reino Unido deixa UE após 47 anos no bloco

O Reino Unido se tornou ontem o primeiro país a abandonar a União Europeia, depois de quase 47 anos de integração, e entrou em um período de transição de 11 meses no qual deverá negociar um novo relacionamento com o bloco,. O primeiro-ministro, Boris Johnson, proclamou em seu discurso o “amanhecer de uma nova era”, na qual espera fechar as feridas na sociedade britânica provocadas pelos três anos de negociações sobre a saída.

O Brexit ocorreu no último segundo de ontem na Europa continental, quando, para os britânicos, o relógio marcava 23 horas (20 horas em Brasília). Um relógio que fazia a contagem regressiva, projetado na famosa fachada de Downing Street, residência oficial do premiê, marcou o momento em que a UE perdeu um membro pela primeira vez na sua história.

“Isso não é um fim, mas um começo”, afirmou Johnson, em mensagem à nação. Com um Brexit que durante muito tempo pareceu impossível, Johnson conseguiu uma enorme vitória pessoal. “A cortina se levanta para um novo ato”, afirmou o premiê, depois de presidir um conselho especial de ministros, na cidade operária de Sunderland, na região norte da Inglaterra, de maioria pró-Brexit.

No final do dia, instituições como o Conselho da UE e o Parlamento Europeu, em suas sedes em Bruxelas e em Estrasburgo, retiraram as bandeiras britânicas de suas fachadas. A data, no entanto, é sobretudo simbólica, pois quase nada mudará na prática até o fim do período de transição, em dezembro.

Comemorações

Sob uma chuva fina, cerca de 5 mil pessoas se reuniram ontem à noite em frente ao Parlamento britânico para celebrar o Brexit. A maioria estava trajada com o mesmo figurino: bandeiras do Reino Unido, chamada pelos britânicos de “Union Jack”, amarradas nas costas como capas de super-heróis.

Um casal de brasilienses, em férias pela Europa, também participou da festa. A advogada Grasiele Miranda, que já morou em Londres, disse que sentiu a imigração mais forte e relatou que até os passageiros com passaporte europeu tiveram de pegar a mesma fila dos demais cidadãos que entravam na Inglaterra.

A poucos metros dos que comemoravam, os críticos do Brexit, entre eles jovens que não votaram no referendo de 2016, caíam no choro. Muito tempo passou desde a vitória do Brexit, quando 52% dos britânicos votaram a favor da saída do país do bloco europeu. Contudo, uma pesquisa publicada esta semana aponta que apenas 30% dos pró-UE concluíram o “luto” psicológico da ruptura.

Uma tristeza especial afeta muitas pessoas na Escócia, território semiautônomo britânico que votou contra o Brexit e onde, por decisão de seu Parlamento, a bandeira europeia permanecerá hasteada.

A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, prometeu fazer todo o possível para conseguir um novo referendo sobre a independência, apesar da intransigência demonstrada pelo governo de Londres.
Na Irlanda do Norte, onde teme-se que o Brexit desestabilize uma paz dificilmente alcançada após três décadas de um confronto violento, os pró-europeus ergueram em Belfast um cartaz que dizia “Esta ilha rejeita o Brexit”.

O Reino Unido entrou na Comunidade Econômica Europeia – antecessora da UE – em 1973, depois de sofrer dois vetos da França, em 1963 e em 1967, preocupada com a possibilidade de o país ser um “cavalo de Troia” dos EUA.
A relação entre Londres e Bruxelas sempre foi complicada. Os britânicos não adotaram a moeda única, nem a livre circulação de pessoas, pediram uma importante redução de sua participação no orçamento europeu e sempre foram contrários a uma integração política maior.

Apesar das dificuldades de relacionamento, o resultado do referendo surpreendeu muitos analistas. Alguns o explicaram como uma reação desesperada dos esquecidos pela globalização, que desejavam ser ouvidos.

A partir de agora, Johnson terá pela frente a difícil missão de negociar acordos comerciais com a UE, mas também com os EUA, sua grande aposta para substituir seu principal sócio. As negociações, porém, não serão fáceis: Washington pressionará por mais flexibilidade de Londres nas áreas de saúde e meio ambiente, enquanto Bruxelas – que teme uma concorrência desleal – pedirá respeito aos padrões trabalhistas e ecológicos. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Célia Froufe, correspondente

Estadão Conteúdo

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