Após três sessões em alta, o Ibovespa fechou nesta quinta-feira, 6, em baixa de 0,72%, a 115.189,97 pontos, em sessão de forte avanço da moeda americana, descolando o mercado brasileiro de um dia positivo no exterior, com ganhos nas bolsas da Ásia, Europa e EUA. Na mínima do dia, o principal índice da B3 perdeu a linha de 115 mil, aos 114.722,68 pontos, em baixa de 1,13%, chegando na máxima aos 117.381,83 pontos – uma variação de 2.659,15 pontos entre o piso e o pico do dia. O giro financeiro foi alto, totalizando R$ 28,3 bilhões. Na semana, o índice avança 1,26% e, no ano, perde 0,39%.
Nem mesmo o bom desempenho das ações da Petrobras, após precificação de venda a R$ 30 para o papel ON em poder do BNDES, foi o suficiente para segurar o Ibovespa na sessão – embora tenha contribuído para limitar as perdas do índice. Petrobras ON fechou em alta de 2,69% e a PN, de 2,78%, em dia de novo ajuste negativo, embora moderado, no barril do Brent (-0,63% no contrato para abril).
As razões para a forte variação do Ibovespa nesta quinta-feira – com perdas que se acentuaram por volta de 16h30, quando o índice perdeu a linha de 115 mil pontos – foram múltiplas, na visão de operadores e analistas: a fraqueza das ações de bancos; a pressão do dólar – que mesmo barateando as ações brasileiras, não tem atraído investidores estrangeiros para a B3 -; a queda sustentada do petróleo e do minério de ferro em meio a dúvidas sobre a demanda chinesa; e a porta fechada ontem pelo Copom para novos cortes de juros, em um contexto no qual dados econômicos, abaixo do esperado, já haviam acendido a luz amarela para o nível de preços das ações brasileiras.
Mesmo fatores um tanto exógenos – como o comentário do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que a Bolsa estaria cara – teriam pesado em algum grau na percepção dos investidores, assim como a homologação, pelo ministro Edson Fachin (STF), da delação premiada do ex-governador do Rio Sergio Cabral – o que poderia resultar em pressão sobre ações de construtoras. “Maia disse (ontem à noite, na Globonews) que o caminho das reformas será longo, o que não ajuda”, aponta um operador. “A volatilidade que tivemos hoje é uma prévia do que teremos no vencimento de opções sobre o Ibovespa, na próxima quarta-feira (dia 12)”, acrescenta.
Para além dos comentários e decisões, os fundamentos pesaram possivelmente mais. “O dólar está além da taxa de equilíbrio e mesmo assim não há reação das exportações, o que configura um cenário externo menos comprador, em um contexto no qual o mundo desenvolvido já vinha expressando cautela com os emergentes. Daí, o fluxo de saída de recursos”, diz Renato Chain, estrategista da Arazul, acrescentando haver certo “esgotamento” da progressão do Ibovespa observada no ano passado, sustentada essencialmente pelo investidor doméstico.
O cenário externo, envolto em maior incerteza desde a eclosão do coronavírus, é uma variável que permanece na equação. “A Bolsa tem grande exposição a commodities e ainda não é possível quantificar o efeito que o surto terá na economia chinesa, grande cliente de nossas matérias-primas. Essa incerteza tem se refletido nos preços do petróleo, do minério de ferro e da soja. A reação do governo chinês até o momento foi mais financeira, resta conferir a economia real. A questão das tarifas foi um primeiro passo”, diz Shin Lai, estrategista da Upside Investors Research, referindo-se a anúncio, pela China, da redução de tarifas sobre US$ 75 bilhões em produtos comprados dos Estados Unidos.
Apesar do surto de coronavírus que atinge a China desde meados de janeiro, o país asiático continuou sendo o principal destino de exportações brasileiras no primeiro mês de 2020. Entre os 10 principais compradores de produtos brasileiros, a China teve a menor queda na aquisição de bens no mês passado ante janeiro de 2019, segundo os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
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Por Luís Eduardo Leal, com Cícero Cotrim e Altamiro Silva Junior
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