O dólar teve hoje o quarto dia seguido de valorização ante o real. Nesta quarta-feira, fatores técnicos tiveram peso determinante e a moeda brasileira destoou de seus pares em países emergentes, que subiram ante o dólar, e também do otimismo visto na Bolsa. A demanda pela moeda americana no mercado à vista se acentuou, com empresas, fundos e bancos comprando a divisa para remessas de juros e dividendos ao exterior, comuns nesta época do ano. O bancos também têm que desmontar, por conta de mudança da legislação, até o próximo dia 30, a proteção em excesso (conhecido como overhedge) para ativos que têm no exterior. Operadores ressaltam ainda que voltou a crescer o uso do câmbio pelos investidores para a proteção de apostas nos demais mercados.
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Na máxima do dia, o dólar encostou em R$ 5,22, mas acabou fechando abaixo desse valor, a R$ 5,1998, em alta de 0,73%. Em dezembro, a moeda americana ainda cai 2,74%. No mercado futuro, o dólar para janeiro tinha alta de 1,10% às 18h10, negociado em R$ 5,2130.
Dados do Banco Central mostram que as saídas do Brasil pelo canal financeiro se acentuaram na última semana, somando US$ 3,4 bilhões no período de 14 a 18. No mês, somam US$ 766 milhões até o dia 18, pois até então os fluxos de entrada de investidores procurando aportes na Bolsa estavam superando as saídas. Os dados da B3 mostram que o fluxo de estrangeiro continua forte, chegando perto de R$ 17 bilhões no mês, até o dia 21, pregão que teve a entrada de R$ 2 bilhões.
Um diretor de tesouraria observa que a continuidade do fluxo positivo de investidores externos ajudou a aliviar a pressão no câmbio este mês, diminuindo a necessidade da oferta de dólares no mercado de balcão pelo BC. Este executivo lembra que em dezembro de 2019, o BC realizou dois leilões de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra) de US$ 2,5 bilhões e fez mais 15 leilões de moeda à vista, somando US$ 7,5 bilhões.
Já neste mês, o BC fez só um leilão de linha, de US$ 2 bilhões, esta semana e não fez de moeda à vista. A instituição concentrou sua atuação na oferta de swap (venda de dólar no mercado futuro), por causa da necessidade dos bancos de reduzirem o overhedge. O BC vem desde o dia 10 fazendo oferta diária de US$ 800 milhões, somando até hoje US$ 8 bilhões.
Na sessão de hoje, o dólar casado, que mede a diferença das cotações do dólar balcão e do dólar futuro, operou novamente negativo, um indicativo da maior demanda por moeda à vista.
No exterior, o dia já teve menor volume de negócios, por causa do feriado do Natal esta semana, e foi marcado por queda do dólar ante moedas fortes e a maioria dos emergentes. A economista da corretora americana Stifel, Lindsey Piegza, comenta que as declarações de Donald Trump ontem à noite sobre o pacote de estímulo foram uma surpresa e podem atrasar a chegada dos recursos aos bolsos dos americanos, na medida em que o presidente pediu aumento dos valores para cada americano. Mas a visão de que as medidas, já aprovadas no Congresso, vão acabar saindo limitaram o impacto no mercado, em dia de indicadores mistos nos EUA, com destaque para a queda no consumo e na renda dos americanos. Também ajudou o avanço nas negociações de um acordo comercial pós-Brexit entre Reino Unido e União Europeia, destaca ela. Nesse ambiente, o dólar voltou a perder força, após ganhar fôlego ontem.
Por Altamiro Silva Junior
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