Os juros futuros fecharam a quinta-feira em alta firme.
A repercussão negativa ao pacote fiscal sustentou as taxas em níveis elevados por toda a sessão, refletindo uma crise de confiança do mercado em relação à capacidade do governo em promover um ajuste fiscal. A reação foi tão violenta que os principais contratos voltaram a rodar em níveis não vistos desde o governo Dilma, com algumas taxas tocando os 14%. A precificação de Selic terminal na curva batia nos 14,75% no fim da tarde.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,91%, na máxima histórica, de 13,55% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 terminou em 14,04%, maior taxa desde 8/4/2016 (14,14%), de 13,66% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2029 fechou a 13,91%, máxima desde 31/8/2015 (14,29%), ante ajuste de 13,48%.
A liquidez foi forte para um dia sem mercados em Nova York em função do feriado do Dia de Ação de Graças. O DI mais líquido – para janeiro de 2026 – girou cerca de 1 milhão de contratos. Entre ontem, com as informações extraoficiais sobre o aumento da faixa de isenção do imposto de renda, e hoje, com a confirmação das medidas, as taxas avançaram entre 70 e 80 pontos-base. O mercado vê desgaste na credibilidade da equipe econômica e coloca suas fichas numa atuação firme do Banco Central para sustentar a âncora monetária, uma vez que percebe a âncora fiscal se desmanchando.
Há ceticismo sobre a capacidade do governo em promover os R$ 71,9 bilhões em economia estimados nos próximos dois anos com as medidas, que podem ainda ser desidratadas durante a tramitação no Congresso. A Warren Investimentos calcula que, na prática, o valor deve ser 62,7% disso, ou cerca de R$ 45,1 bilhões. Para o Itaú Unibanco, o potencial de economia em 2 anos é de R$ 53 bilhões.
Além disso, o anúncio do aumento da isenção do imposto de renda foi visto como inoportuno. Quem ganha R$ até 5 mil terá isenção completa; aqueles que ganham entre R$ 5 mil e R$ 7,5 mil terão aproveitamento do benefício; e quem ganha acima de R$ 7,5 mil, conforme a escala da tributação, terão isenção de até os R$ 2 mil do salário mínimo. A renúncia estimada é de R$ 35 bilhões, que será compensada com medidas como a taxação dos super ricos, entre outras.
“Ainda que o aumento da isenção seja autofinanciável, o que é muito duvidoso, não faz sentido anunciar isso junto com o pacote. Acabou alavancando um impacto negativo de um ajuste que já veio fraco e tardio”, afirmou o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, que se disse “perplexo” com o que o governo entregou. “Deu saudade dos tempos em que o pacote era adiado.”
Dada a percepção de que agravou-se o desequilíbrio entre a política fiscal e a monetária, a esperança do mercado é que o Banco Central atue para estancar a sangria. “Se quiser manter sua credibilidade e continuar trabalhando para coordenar expectativas, só vai restar ao BC reagir. Deveria dar 100 pontos de alta na Selic na próxima reunião”, afirmou Mathias, que calcula que para levar a inflação para perto da meta de 3% seria necessário apertar o juro a 14% ou 14,50%.
Nos DIs, as apostas de alta de 100 pontos na Selic no Copom de dezembro avançaram, com a probabilidade, que ontem era de apenas 4%, saltando a 28%, ante 72% de chance de aumento de 75 pontos. Para as reuniões de janeiro e março, a aposta de 100 pontos era quase consenso na curva nesta tarde. A Selic terminal projetada era de 14,75%. A última vez em que a taxa básica esteve em tal marca foi em agosto de 2006, na primeira gestão de Lula.
Contato: denise.abarca@estadao.com
Por Denise Abarca
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