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Por que os primeiros anos escolares são essenciais no desenvolvimento infantil?

Os primeiros anos escolares são essenciais no desenvolvimento infantil, confirmam estudos das últimas décadas, e têm impactos para toda a vida. Embora o Brasil tenha melhorado os indicadores de acesso à creche e à pré-escola na última década, ainda não alcançou a universalização nessas etapas, que carecem de um sistema de avaliação.

O tema foi discutido nesta segunda-feira, 18, no evento Reconstrução da Educação, por Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação, e Waldete Tristão, professora e formadora de professores em Educação e Relações Raciais e consultora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

Para mudar esse cenário, as especialistas defenderam prioridade para garantir o acesso à educação infantil nas famílias e crianças mais pobres, celeridade na implementação de uma avaliação que favoreça a melhoria da qualidade de ensino e uma integração entre as políticas existentes voltadas à educação na primeira infância e em outros âmbitos, como saúde e alimentação.

O Reconstrução da Educação é promovido pelo Estadão e discute caminhos para uma escola pública de qualidade. O evento é realizado no Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. As vagas são gratuitas, mas limitadas. As inscrições devem ser feitas neste link. Também é possível acompanhar a transmissão pelo YouTube.

O que é uma educação infantil de qualidade?

Para as especialistas, a qualidade na educação infantil não é um critério subjetivo e precisa ter indicadores claros de avaliação, além de metas adequadas às realidades locais. Mariana Luz, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, cita a necessidade de professores qualificados, materiais apropriados à faixa etária, estrutura física e espaços adequados à aprendizagem nas instituições.

“Quando acontece aprendizagem de qualidade na educação infantil, essa pessoa tem três vezes mais chance de aprender durante a vida. Também tem mais chance de concluir o ensino médio”, afirmou.

A professora Waldete Tristão apontou que verificar a qualidade não é avaliar as crianças, mas o que é oferecido a elas nesses espaços. Em São Paulo, onde a fila da creche foi zerada pela administração municipal, disse que é preciso questionar a qualidade do serviço: “Qual o espaço de brincar e de interação que está sendo oferecido para a criança? Há formação continuada dos professores?”.

Quando se leva em conta os contextos desiguais das famílias, Priscila Cruz enfatizou serem a creche e a pré-escola os locais onde são oferecidas experiências a que as crianças muitas vezes não têm acesso em casa, como contação de histórias e atividades culturais, que promovem o enriquecimento do aprendizado e facilitam a alfabetização.

Superação das desigualdades
Cerca de 60% das crianças na primeira infância inscritas no Cadastro Único nunca frequentaram creche ou pré-escola, segundo estudo realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Para a CEO Mariana Luz, o dado indica o acesso desigual e traz a necessidade de “olhar de forma estratégica” para a educação infantil, promovendo a inclusão com senso de prioridade que traga os que mais precisam para dentro dessa etapa.

Esse olhar estratégico requer integrar as bases de dados existentes para focar nas necessidades dos mais vulneráveis e implementar uma política nacional integrada na educação básica, que está sendo elaborada pelo governo federal, segundo destacou Priscila Cruz. As especialistas também defendem ser preciso trazer outras políticas, como a vacinação e a proteção contra a violência, para dentro das instituições de educação ligadas à primeira infância.

Do ponto de vista da formação dos professores, Waldete Tristão afirma ser preciso prepará-los para reconhecer as desigualdades existentes nas creches e escolas, traçando estratégias “Tratar a diferença com igualdade é promover mais desigualdade”, disse.

Liderança política para ser prioridade
Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, pede que a política pública voltada à primeira infância no Brasil tenha o mesmo peso de um programa como o Bolsa Família, tornando-se uma área na qual “nenhum político possa abrir mão”.

Ela enfatiza que os bons exemplos de educação no País têm por trás lideranças políticas e gestores que “abraçaram” a pauta.

Priscila Cruz, do Todos pela Educação, considera que o Brasil tem “a faca e o queijo na mão” para dar prioridade à educação infantil, melhorando também os índices das etapas seguintes. Mas, destaca a questão da liderança: “Precisamos que a primeira infância passe a fazer parte do discurso das lideranças públicas”, defendeu.

Por Juliana Domingos de Lima

Estadão Conteúdo

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