Existe uma lacuna global significativa em relação ao financiamento climático, à pobreza e à segurança alimentar, avaliou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, neste sábado, durante sua fala no Seminário Anual de Bancos Internacionais. “É muito clara a lacuna que existe globalmente para fazer tudo o que todos nós precisamos fazer, tanto em financiamento climático, mas também em termos de pobreza e segurança alimentar e tudo mais. Precisamos das instituições privadas”, afirmou.
Segundo ele, os recursos do setor público são insuficientes por causa dos orçamentos apertados dos países, agravados por desafios, como a guerra na Ucrânia, e o endividamento dos países receptores.
O executivo avaliou que apesar dos esforços feitos por instituições como o BID, essas medidas ainda são insuficientes. Justamente por isso, Goldfajn defendeu que a participação do setor privado é crucial, não apenas na criação e alocação de riqueza, mas na realocação de recursos existentes. Para ele, a colaboração entre os setores público e privado é essencial, com foco na inovação financeira e na estabilidade regulatória e jurídica para atrair investimentos. Ele elogiou parcerias com instituições privadas, como a feita com o Santander recentemente.
“Iniciativas como a parceria com o Santander, que envolveu a venda de 95% de um portfólio de US$ 1 bilhão pelo BID Invest, exemplificam estratégias para mobilizar recursos privados”, disse Ilan, apontando que tais esforços são fundamentais para superar os desafios globais atuais.
Banco Central do Brasil
Mercados diversos têm se mostrado capazes de administrar bem as suas economias dentro de um contexto global polarizado, disse o presidente do BID, elogiando o fato de o que o Banco Central do Brasil tem adotado uma postura divergente do Federal Reserve (FED, banco central dos EUA) quanto aos juros, demonstrando sua independência operacional. Goldfajn foi presidente do Banco Central do Brasil de 2016 a 2019.
“Essa eficácia é notável em várias regiões, incluindo a América Latina, onde a atuação dos bancos centrais, especialmente no timing de elevação das taxas de juros, foi benéfica”, afirmou Goldfajn, citando que o Banco Central do Brasil tem adotando uma postura divergente do Federal Reserve, o que reforça a percepção de sua independência operacional. “Essa independência, contudo, não implica uma desconsideração dos eventos globais, dada a sua relevância para a capacidade de ação dos bancos centrais”, disse ele.
Na avaliação do presidente do BID, o papel dos bancos centrais, que também atuam como reguladores, é crucial para a criação de estabilidade, essencial para o crescimento econômico, o manejo da dívida e o enfrentamento de grandes desafios. “A importância dessa estabilidade não pode ser subestimada, abrangendo também a inclusão financeira, a modernização dos sistemas de pagamento e a integração das moedas digitais. Há um vasto campo de atuação para os bancos centrais que pode ser explorado”, disse ele.
Ele avaliou ainda que a polarização política crescente e as tensões que se manifestam globalmente vem prenunciando transformações futuras. Para ele, essa realidade se reflete globalmente, evidenciando uma diminuição dos espaços dedicados ao multilateralismo. “Apesar disso, sabe-se que há diálogo entre os bancos centrais, o que sugere uma busca por soluções conjuntas em meio a desafios compartilhados”, afirmou ainda.
Por Beatriz Capirazi
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