Os juros futuros tiveram uma guinada no período da tarde, quando inverteram o sinal de alta para a queda, que chegava a 25 pontos-base em boa parte dos principais contratos no fim do dia. Não houve um gatilho único a disparar o movimento de correção, mas sim um conjunto de falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, além de maior alívio na curva dos Treasuries. A fotografia da tarde contrastava com a da manhã, quando o IPCA-15 acima da mediana das expectativas e com leitura negativa dos preços de abertura pressionava as taxas para cima, rompendo os 13% nos vencimentos intermediários e longos.
No fechamento a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caía a 12,59%, de 12,76% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 cedia a 12,695%, de 12,95%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 12,680% (na mínima, de 12,97% ontem).
O mercado absorveu o impacto do IPCA-15 de outubro acima do esperado já no fim da manhã, quando o sinal de alta começou a perder fôlego, levando as taxas para perto da estabilidade. A partir das 14h, passaram a cair e a renovar mínimas em sequência, de olho nas falas de autoridades.
Profissionais nas mesas de renda fixa destacaram, na fala de Campos Neto, a menção a um certo excesso do mercado na precificação dos ativos. Ele disse que a autoridade monetária não trabalha apenas com o termômetro do que está precificado e que os preços de mercado “estão exagerados”. “Olhamos tudo, as reuniões do BC são baseadas em critérios técnicos”, afirmou em coletiva conjunta com o ministro Fernando Haddad, sobre o G20.
Além disso, reforçou a visão não fornecer um guidance para as próximas decisões do Banco Central e comentou sobre o aumento do prêmio de risco nas taxas longas de juros. “Temos endereçado isso”, disse Campos Neto, que também frisou que aguarda pelos anúncios do Ministério da Fazenda para endereçar a dinâmica fiscal no País.
Sobre isso, Haddad, também em Washington, disse que afirmou que o plano de corte de gastos é parte de questões estruturais do Brasil e não tem relação específica com um ou outro ministério. Ontem, o Broadcast mostrou que resistências internas nos ministérios devem tornar mais desafiador o trabalho da equipe econômica para cortar gastos. “O reforço do arcabouço é uma questão estrutural, é diferente de fazer bloqueio e contingenciamento, que são momentâneos para fazer com que a lei aprovada pelo nosso governo seja respeitada”, explicou.
Na curva a termo, a precificação de Selic para o Copom de novembro era de 53 pontos nesta tarde, ou seja, 88% de chance de alta de 50 pontos, enquanto a probabilidade de avanço de 75 pontos, que na semana passada chegou a ser de 30%, era de 12%. A curva projeta Selic de 13,35% – ou seja, entre 13,25% e 13,50% – no fim do ciclo.
No exterior, os yields dos Treasuries recuaram, em movimento de realização, ajudando a curva local a devolver prêmios.
Pela manhã, o mercado reagiu mal ao IPCA-15 de outubro. A taxa de 0,54%, ante 0,13% em setembro, veio mais alta do que apontava a mediana das estimativas, de 0,51%. Além disso, a leitura qualitativa foi ruim, com núcleos pressionados e aumento do índice de difusão, em boa medida puxado pela inflação de alimentos. Analistas afirmam que há evidências da desvalorização cambial na inflação de bens industriais, enquanto questões climáticas pesaram nos preços de energia e alimentação. Porém, a intensificação das chuvas nas últimas semanas traz algum alívio para o curto prazo.
Por Denise Abarca
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