Depois de um alívio temporário da segunda-feira, baseado em notícias de que o governo federal avalia medidas para conter o aumento das despesas, o dólar voltou a subir em relação ao real, conforme alguns detalhes sobre as potenciais medidas de controle de gastos vieram à tona e diante de fatores negativos para o real vindos do exterior – entre eles a queda significativa nos preços do petróleo e a possibilidade de a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos atrapalhar a queda dos juros americanos.
O dólar à vista subiu 1,33% e terminou o pregão desta terça-feira a R$ 5,6570 – maior nível de fechamento desde 6 de agosto, quando encerrou a sessão a R$ 5,6574. No mercado futuro, o contrato da moeda para novembro subia 1,18%, aos R$ 5,6630, às 17h45.
O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apurou que o governo avalia dois desenhos para as ações de revisão de gastos: um abrangente, envolvendo mais programas de um número maior de ministérios, e outro mais restrito, focado em ações que já são amplamente citadas pelo governo e que estão em curso, como o aumento da fiscalização no pagamento de benefícios sociais e previdenciários.
O problema, na visão dos especialistas, é que a questão fiscal brasileira necessariamente exige um plano abrangente de redução das despesas. “Há dois pacotes em estudo, mas um é absolutamente inútil, não atende a urgência de uma dívida crescente e explosiva”, disse Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo. “É decepcionante, a gente só poderia estar analisando um ajuste duro ou um duríssimo”, avaliou.
Gean Lima, estrategista e trader de juros e moedas da Connex Capital, apontou que há uma preocupação subjacente dos investidores com as despesas do governo que correm por fora do cálculo do resultado primário e que têm efeito sobre o endividamento público. Segundo ele, a questão fiscal está “muito longe de uma resolução” e isso dificulta a montagem de posições compradas em real.
Para além dos fator doméstico, o dólar também encontrou força adicional no exterior. Os comentários de Trump em defesa do aumento das tarifas de importação nos Estados Unidos – medida de caráter inflacionário e que poderia reduzir a velocidade do corte de juros no país – também repercutiram no mercado de câmbio e deram força ao dólar no início da tarde.
Em menor grau, a queda de aproximadamente 4% nos preços do petróleo prejudicou tanto o real quanto moedas de economias emergentes ligadas a commodities.
Por Gustavo Nicoletta
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