A inflação medida pelo IPCA-15 em agosto, que veio em linha com a mediana das expectativas de analistas, mas ligeiramente acima do que esperava parte deles, provocou um ajuste para cima nas taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) e um descolamento parcial do mercado local em relação ao americano, onde houve queda na ponta curta da curva de juros.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 subiu 0,19% em agosto, desacelerando em relação a julho, quando aumentou 0,30%. O resultado foi idêntico à mediana das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast.
As estimativas, no entanto, variavam entre alta de 0,08% e aumento e 0,29%, e a leitura pode ter motivado um ajuste técnico, segundo Huang Seen, head de renda fixa da gestora Schroders. “Ontem houve um fechamento da curva local sem muito drive. De repente os players estavam se posicionando para um número mais benigno”, afirmou.
O indicador teve pouco efeito sobre a expectativa dos economistas para o próximo movimento da taxa básica de juros. Os profissionais ouvidos pelo Broadcast apontaram que os dados de inflação diminuem levemente a pressão por um aumento da Selic, ou terão impacto limitado na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro.
Apesar disso, Rodrigo Salvador, planejador financeiro da HCI Invest, ressalta que há elementos dentro do IPCA-15 que, interpretados num contexto econômico mais amplo, podem ter preocupado os investidores. “A gente tem a questão das queimadas. Está queimando cana-de-açúcar, isso pode afetar o preço do etanol, o frete. Se pegar o IPCA-15 e destrinchar, na parte de transportes teve alta, e isso acaba gerando preocupação maior”, avaliou.
Nos próximos dias, ficarão no radar do mercado os números sobre a criação de empregos no Brasil em julho, amanhã, do IGP-M de agosto, na quinta-feira, e a inflação dos Estados Unidos, na sexta-feira. A divulgação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que deve ser publicado nesta semana, também deve chamar atenção, mas com repercussão potencialmente limitada nas taxas de DI.
No fechamento, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 subia a 11,580%, de 11,427% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentava a 11,525% (máxima), de 11,390%, e a taxa para janeiro de 2029 avançava a 11,615%, de 11,511%.
Por Gustavo Nicoletta
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