Realizada ontem, a primeira edição do Concurso Nacional Unificado foi marcada por um índice de abstenção estimado entre 52% e 53% e pela escolha de um tema de redação que, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Estadão, foi complexo e que pode ter afetado a nota final de muitos candidatos. Abordou o papel da educação e do progresso científico e tecnológico na diminuição da desigualdade social.
Maior concurso da história do País, o “Enem dos concursos”, como ficou conhecido, teve mais de 2,1 milhões de pessoas inscritas para um total de 6.640 vagas disponíveis em 21 órgãos ligados ao governo federal. As provas aconteceram em 228 cidades, incluindo todas as capitais, somando 3.647 locais de aplicação e 72.041 salas. A previsão é de que o gabarito das provas seja divulgado amanhã.
No fim do dia, a ministra da Gestão, Esther Dweck, estimou que, do total de inscritos, um milhão de pessoas tenham feito as provas. Mensagens nas redes sociais relataram salas com muitas cadeiras vazias em vários lugares. O número fechado será divulgado hoje.
“Está dentro da nossa expectativa, comparando a outros concursos públicos deste tamanho”, afirmou ela. “Foi uma surpresa positiva dada a envergadura do concurso. Tem de lembrar que estamos falando de pessoas que, provavelmente, nunca tinham feito um concurso federal.” A menor abstenção foi registrada no Distrito Federal, enquanto a maior, no Ceará, mas a ministra não divulgou os porcentuais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o centro de monitoramento do concurso montado pelo ministério, em Brasília, e disse que o papel do Estado “é colocar pessoas que atendam com muito respeito a sociedade”.
REDAÇÃO. Os candidatos foram divididos em oito blocos, seguindo o critério de cargos e especialidades. A redação valeu apenas para os do bloco 8, voltado para os cargos de níveis médio e técnico. De caráter eliminatório, a prova vale 100 pontos.
Segundo especialistas, por ser exigido um texto dissertativo-argumentativo a expectativa era de que a prova seguisse o formato já conhecido de redações do Enem, que costumam abordar questões de caráter social e avaliam o papel do Estado na resolução de problemas.
Mesmo assim, a professora de Língua Portuguesa Joana Melo disse que o conteúdo pode ter “desafiado” os candidatos. Isso porque, explicou ela, o tema da redação se articulou em torno de diferentes eixos – educação, progresso científico e tecnológico, desigualdade econômica e desenvolvimento social -, exigindo que o candidato explorasse todos de maneira completa, com a apresentação de uma solução.
“O candidato pode acabar focando demais ou só na educação, ou só no progresso científico e tecnológico, falar só das desigualdades socioeconômicas, e não estabelecer uma relação entre essas coisas, em prol da diminuição da desigualdade socioeconômica”, acrescentou Pedro Lima, professor de gramática, redação e interpretação de textos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Mariana Carneiro e Giordanna Neves, de Brasília, e Isabel Gomes, de São Paulo
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