Os juros futuros fecharam em queda, refletindo um ajuste técnico a partir do bom humor do ambiente externo. A inflação medida pelo índice dos preços de gastos com consumo (PCE, em inglês), somada a outros dados nos EUA, atendeu as expectativas, animando o mercado sobre o ciclo de corte de juros que o Federal Reserve está para promover. Os rendimentos dos Treasuries recuaram, abrindo espaço para a curva brasileira devolver parte da alta acumulada nas últimas três sessões. Na semana porém, todas as taxas subiram, em especial as da ponta curta e intermediária na esteira do aumento das apostas em aperto da Selic em 2024.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caía de 10,781% para 10,755%, e a do DI para janeiro de 2026, de 11,76% para 11,70%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,95% (de 12,02% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029 estava em 12,15%, de 12,25%.
Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, classifica o movimento de hoje como uma correção ante os “exageros” da semana, proporcionada pelo índice PCE, principal referência do Fed para balizar a meta de inflação de 2%. “Veio em linha e reforçou a aposta de que o Fed começará a cortar em setembro e a possibilidade de até 3 quedas este ano”, diz. Os yields dos Treasuries cederam, com a taxa da T-Note de dez anos voltando a cair abaixo de 4,20%.
O alívio de hoje suaviza um pouco o nível de abertura da curva na semana, mas os DIs seguem projetando forte elevação para a Selic nos próximos meses, de cerca de 1 ponto porcentual no fim de 2024 ante os atuais 10,50%. Prêmio este que Boragini considera excessivo dados os fundamentos positivos da economia. “O mercado vai criando narrativas que levam a um efeito manada, mas temos crescimento do PIB, balança comercial robusta e o anúncio importante do congelamento de R$ 15 bilhões. Não é uma crise fiscal como o mercado precifica”, avalia.
Pela manhã, o Tesouro informou que o Governo Central teve déficit de R$ 38,8 bilhões, maior do que os R$ 37,70 bilhões apontados na mediana do levantamento do Projeções Broadcast. O déficit no ano é de R$ 68,7 bilhões, o pior resultado primário desde 2020 para o primeiro semestre do ano.
Além do cenário fiscal, o pessimismo sobre o rumo da Selic se dá também em função do câmbio. O dólar voltou a subir hoje, sustentando-se pelo terceiro dia acima dos R$ 5,60, alimentando a percepção de que o contágio para os preços é questão de tempo, sem falar do impacto nos modelos do Banco Central.
Por ora, no DI, a precificação de aumento da Selic no Copom da próxima semana é marginal, espelhando uma opção alternativa uma vez que a manutenção da taxa em 10,50% é uma aposta de graça. Entre os 65 economistas que participam da pesquisa do Projeções Broadcast, é unânime a previsão de estabilidade.
Boragini, da Davos, espera manutenção da taxa em 10,50%, mas afirma que o comunicado da decisão deve ter um tom mais duro – “e tem de ser assim mesmo” -, a fim de evitar especulações em torno das mudanças na diretoria e do processo eleitoral neste segundo semestre.
Por Denise Abarca
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