Após dois pregões consecutivos de alta, em que acumulou valorização de 1,54%, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 25, em queda de 0,15%, cotado a R$ 5,6478. Segundo operadores, houve um movimento de ajustes amparado pela diminuição de aversão ao risco no exterior, após a leitura do PIB dos EUA no segundo trimestre sugerir pouso suave da economia americana. Houve ainda relatos de entrada de exportadores, aproveitando o fato de a divisa ter se aproximado de R$ 5,70 na abertura, quanto tocou R$ 5,6904.
A cautela com o quadro fiscal doméstico e com a dinâmica inflacionária, em dia de IPCA-15 acima do esperado, continua, porém, permeando os negócios. Não por acaso o dólar reduziu o ritmo nas duas últimas horas de sessão, afastando-se da mínima (R$ 5,6195) registrada no início da tarde, após o Broadcast informar que a equipe econômica admite que não é possível bancar o aperto de R$ 25 bilhões no Orçamento de 2025 caso não haja compensação da desoneração da folha de pagamentos.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou entre ligeira queda e estabilidade, abaixo da linha dos 104,400 pontos no fim da tarde. O iene perdeu força hoje, o que pode ter contribuído para a recuperação da moeda brasileira. A depreciação do real nos últimos dias esteve ligada ao fortalecimento da divisa japonesa, que levou a desmonte das chamadas operações de carry trade com moedas de países de juros altos.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê a leve apreciação do real hoje como um “ajuste técnico”, em razão da diminuição do estresse nas bolsas em NY, após o crescimento acima da expectativa do PIB americano, e o recuo do iene. Ele ressalta, contudo, que a taxa de câmbio ainda apresenta “rigidez” na faixa de R$ 5,60, sobretudo por conta do quadro fiscal.
“Não temos uma resolução da compensação para as perdas com a desoneração da folha de pagamento e há ainda a questão das dívidas dos Estados. Além disso, o fluxo cambial não empolga, com déficit já acima de US$ 2 bilhões na conta financeira em julho”, afirma Velho.
Principal indicador do dia lá fora, a primeira leitura do PIB americano no segundo trimestre revelou crescimento anualizado de 2,8%, acima do teto das estimativas de Projeções Broadcast, que variavam de altas de 1% a 2,5%, com mediana de 2,1%. Trata-se de uma aceleração na comparação com o primeiro trimestre (1,4%). Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Federal Reserve – mostrou desaceleração na passagem do primeiro para o segundo trimestre.
“Embora o dado do PIB tenha vindo mais forte, o mercado mantém a precificação de início de corte de juros nos Estados Unidos em setembro, com três reduções de 25 pontos-base cada uma neste ano”, afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, lembrando que a divulgação, amanhã, do PCE de junho, pode chancelar a continuidade do processo de desinflação.
Por aqui, o IPCA-15 desacelerou de 0,39% em junho para 0,30% em julho, mas ficou 0,07 ponto porcentual acima da mediana (0,23%) de Projeções Broadcast, cujo intervalo ia de 0,11% para 0,35%. Economistas ouvidos pelo Broadcast afirmam que a dinâmica inflacionária não altera, por ora, a perspectiva de manutenção da taxa Selic em 10,50% por período prolongado, mas alertam que a depreciação recente do real pode levar a uma piora das expectativas.
“O resultado do IPCA-15 de julho foi influenciado pela alta significativa dos preços das passagens aéreas. Porém, as medidas de tendência (núcleos) da inflação também registraram alta acima das expectativas, o que significa que, na margem, houve deterioração do quadro benigno da inflação corrente observado nos últimos meses”, afirma o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares.
Por Antonio Perez
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