A folga no colchão de liquidez obtida pelo Tesouro Nacional ao longo do primeiro semestre deve dar condições à instituição para reduzir o ritmo de emissões na segunda parte do ano, porém a composição das colocações tende a mudar. A avaliação é do Bradesco, em relatório assinado pelo economista Marcos Muniz.
“O governo precisa emitir por volta de R$ 120 bilhões por mês para manter o colchão de liquidez ao redor de R$ 1 trilhão no fim de 2024. Isso representaria um índice de liquidez de 8,7 meses, considerando o perfil atual da dívida pública, o que deixaria o Tesouro com risco de liquidez bastante reduzido ao longo de 2025”, calcula o economista.
Ele acrescenta que o nível de emissão necessária para manter o colchão é similar ao que foi emitido em 2022 e significativamente menor do que o observado no 1º semestre de 2024. Segundo ele, o indicador de liquidez ainda está significativamente longe do que é considerado o limite prudencial de 3 meses de vencimentos.
Ele lembra que no início do ano houve vencimento grande de títulos, o que fez com que o colchão caísse, mesmo com uma forte emissão nos primeiros quatro meses do ano. “Em maio, houve uma recomposição significativa desta reserva, acima de R$ 1 trilhão”, afirma.
Quanto à composição, a expectativa é de alteração, dados os riscos trazidos por exemplo pela concentração vista nas Letras Financeiras do Tesouro (LFT). “Caso o Tesouro siga emitindo títulos no mesmo ritmo e composição do que foi emitido entre janeiro e maio, os índices estabelecidos pelo Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2024 não serão cumpridos”, alerta. Sem mudanças, prossegue, a dívida indexada à Selic ficaria acima do que o PAF sugere, e os prefixados e indexados a índices de preços, abaixo dos limites. “O Tesouro irá reavaliar as diretrizes do PAF em agosto e pode alterar os limites atuais”, afirma.
Além da folga na reserva de liquidez, outro destaque positivo é o aumento do prazo médio da dívida, que segundo o banco, tem registrado melhoria contínua desde o auge da pandemia. “O Tesouro vem conseguindo emitir títulos de maturidade mais longa desde meados de 2021, em média de 4,7 anos nos títulos emitidos desde então”, afirma. Assim, o prazo médio da dívida pública vem consistentemente melhorando, atingindo 4,1 anos em maio de 2024, indicador melhor do que o observado no período pré pandemia.
O banco observa ainda que a melhora das condições do perfil da dívida, tanto do ponto de vista do prazo quanto pelo efeito benéfico da desvalorização do câmbio – que ajuda a amortecer a dívida líquida – e nos ratings de crédito soberano deveriam gerar um apetite maior de investidores não residentes. “Isto não vem acontecendo, uma vez que a participação destes segue relativamente constante em um nível historicamente baixo, entre 9,5% e 10% do total de detentores”, disse.
Para o Bradesco, as incertezas quanto ao panorama fiscal em um cenário de taxas de juros maiores no mundo e os ruídos domésticos em relação à manutenção das regras fiscais diminuem o apetite dos não residentes. “Caso essas incertezas fiquem para trás, devemos ver uma maior participação destes na dívida pública”, diz Muniz.
Por Denise Abarca
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