O Ibovespa chegou a zerar as perdas do dia no meio da tarde, mas não conseguiu virar para o positivo, após rara sequência de 11 altas que colocou os ganhos acumulados na primeira quinzena do mês em 4,37%. O primeiro ajuste negativo deste julho foi discreto, com o índice em baixa de 0,16%, a 129.110,38 pontos no fechamento da sessão, em que oscilou dos 128.760,81 (mínima) até os 129.520,99, na máxima. Ainda moderado, o giro ficou em R$ 17,9 bilhões. No mês, o Ibovespa sobe agora 4,20%, limitando a perda do ano a 3,78%.
Com o minério de ferro em baixa de quase 1% em Dalian (China) e de 1,55% em Cingapura, Vale, que anuncia o relatório de produção do segundo trimestre após a sessão desta terça-feira, encerrou no negativo (ON -1,05%), em dia de retração para outro peso-pesado do índice, Petrobras (ON -0,51%, PN -0,26%).
Por outro lado, as ações dos maiores bancos foram bem na sessão, com destaque para Santander (Unit +1,55%, na máxima do dia no encerramento) e Bradesco ON (+0,70%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Gerdau (+2,15%, também na máxima do dia), ISA CTEEP (+2,09%) e SLC Agrícola (+2,06%), com Pão de Açúcar (-7,94%), Magazine Luiza (-4,88%) e Cogna (-4,15%) na fila oposta.
“O cenário global tem se mostrado mais benigno, com dois meses seguidos de quadro favorável sobre a inflação nos Estados Unidos, o que reforça a percepção de que o Federal Reserve estará em condições de cortar os juros americanos a partir de setembro”, diz o economista Rodrigo Ashikawa, da Principal Claritas.
“Ontem, houve contudo inclinação da curva de juros por lá, e apreciação do dólar, após os eventos políticos do fim de semana atentado contra Donald Trump, candidato republicano à Casa Branca. Hoje, o macroeconômico voltou a prevalecer na orientação dos ativos”, acrescenta o economista, destacando a leitura acima do esperado para as vendas do varejo nos Estados Unidos, divulgada pela manhã. “Foi um resultado forte, mas não apagou os efeitos benignos da leitura da semana passada sobre a inflação.”
No cenário doméstico, o mercado segue tomando nota dos desdobramentos em torno da condução fiscal, com muitas indefinições ainda aguardando resposta – como a compensação da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia. No meio da tarde, o Ibovespa chegou a zerar as perdas da sessão, durante fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pouco depois de trechos da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Record terem sido antecipados pelo site R7.
Pouco antes das palavras de Haddad, Lula da Silva disse que ainda precisa ser convencido sobre a necessidade de cortar gastos, e reiterou que a única coisa fora de controle na economia brasileira ainda é a taxa de juros – retomando assim, ainda que moderadamente, um discurso crítico ao Banco Central que havia lançado, recentemente, o dólar a R$ 5,70.
“Tenho que estar convencido se há necessidade ou não de cortar”, disse Lula na entrevista. Ele acrescentou que os números mostram que a economia do Brasil vai bem, e que “a única coisa que não está controlada é a taxa de juros”.
Haddad minimizou as declarações do presidente sobre a necessidade de ser convencido a cortar gastos e sobre não haver problema em déficit de 0,1% ou 0,2% nas contas públicas. O ministro disse que a divulgação da fala do presidente ocorreu de forma “descontextualizada”, e reiterou o compromisso de Lula com o cumprimento do arcabouço fiscal. “Não tinha visto a entrevista ainda, liguei para a Secom (Secretaria de Comunicação) e pedi a íntegra da resposta”, disse Haddad a jornalistas. “O problema é que, quando você solta uma frase descontextualizada, gera desnecessariamente uma especulação em torno do assunto.”
“A lei é deste governo. Ele (Lula) falou ‘vou fazer o possível para cumprir o arcabouço fiscal porque não cheguei agora na presidência, já tenho dois governos entregues e aprendi a administrar as contas da minha casa e do País com a mesma seriedade e tranquilidade'”, relatou Haddad. O ministro também disse que um déficit primário de 0,1% ou 0,2% do PIB estaria dentro da banda de tolerância permitida pelo arcabouço.
“As discussões fiscais seguem como ponto de atenção relevante para o mercado, e a próxima data importante será o dia 22 de julho, semana que vem, com o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas”, complementa Ashikawa, da Principal Claritas. “Fala do Lula, de hoje, traz ainda incerteza com relação ao tamanho dos bloqueios e contingenciamentos, e quanto à sustentabilidade da perspectiva fiscal. Mas o cenário global, um pouco mais favorável, mais claro quanto à chance de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, tem contribuído – o que se reflete em quadro mais calmo para os ativos, mesmo com as incertezas políticas à frente.”
Assim, apesar do dólar em baixa de 0,28%, a R$ 5,4294, e com a curva de juros também em retração nesta terça-feira, o Ibovespa fez uma pausa após longa sequência ganhadora, em extensão rara de ser vista. Até ontem, foram 11 sessões de alta consecutiva para o índice da B3, igualando série vista na passagem de 2017 para 2018 – no milênio, séries semelhantes foram vistas também em agosto de 2003 e entre julho e o começo de agosto de 2010.
“Sessão de hoje foi de leve realização de lucros, após 18 dias de alta em 20 pregões desde 18 de junho”, acrescenta Eduardo Plastino, analista de renda variável da Alta Vista Research. “O destaque negativo ficou com as exportadoras de commodities, em especial o setor de mineração e siderurgia”, diz. “Mercado aguarda ansiosamente os dados de produção e vendas da Vale no segundo trimestre, e o recuo do minério na China e do dólar pesaram hoje no setor, enquanto Petrobras também recuou, acompanhando o Brent – uma combinação que dificultou o desempenho do Ibovespa na sessão.”
Por Luís Eduardo Leal
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