A expectativa do Tesouro Nacional com o primeiro leilão do Eco Invest Brasil – o Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial – é de que a cada US$ 1 bilhão de dinheiro público alocado sejam alavancados até US$ 10 bilhões em novos projetos de longo prazo que priorizem a transição ecológica. Em entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Ceron disse que o governo está disposto a alocar entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões neste leilão.
“Supondo que a gente consiga uma alavancagem média de dez. A cada US$ 1 bilhão que eu alocar dessa linha financeira pública eu alavanco US$ 10 bilhões de uma carteira de projetos produtivos desse gênero no Brasil. A gente não informou e não vai informar, até por uma questão de estratégia, mas estamos dispostos a trabalhar numa faixa de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões, o que significa que tem potencial de alavancar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões em investimentos privados no Brasil”, disse.
Nesta semana, o Tesouro publicou portaria com os critérios para o primeiro leilão do Eco Invest Brasil. O instrumento foi lançado no fim de fevereiro deste ano para ampliar as opções de hedge cambial para investimentos estrangeiros em projetos sustentáveis.
O leilão do Eco Invest prevê faixas de alavancagem, com o mínimo de seis vezes. “Para cada US$ 100 milhões que eu aportar de capital público, o privado tem que garantir uma captação no exterior de US$ 600 milhões. O limite da alavancagem é de até 20 vezes. Eu vou ordenar as propostas da maior alavancagem para a menor”, explicou o secretário.
Para um projeto com alavancagem de seis, haverá 16% de recursos públicos e 84% de recursos privados. No maior grau, que é 20, serão 5% de investimentos públicos e 95% de capital privado. “Eu vou priorizar quem obviamente pediu o menor porcentual de capital público. Isso viabiliza o investimento com a menor participação e com o menor custo para o poder público”, destacou.
Novo modelo
O governo espera que esse seja um novo modelo de política de fomento a investimento produtivo. “No ano passado, estreamos no mercado internacional com a emissão soberana sustentável e, na esteira, criamos um benchmark para o mercado corporativo. Essa linha vai impulsionar as emissões privadas no exterior. Então se ela for bem sucedida nós vamos observar um incremento substancial das emissões corporativas brasileiras sustentáveis no exterior”, argumentou.
O foco desse primeiro leilão é em projetos greenfield, que ainda não foram explorados. Como exemplos, Ceron cita iniciativas alinhadas à agenda do Plano de Transformação Ecológica do governo, com ações de infraestrutura sustentável, projetos de biocombustíveis, de indústria verde ou recuperação de áreas degradadas. A prioridade são ações novas, até mesmo para evitar greenwashing.
Neste leilão ficaram de fora projetos de energia solar, eólica e sistema de distribuição. Ceron justificou que o entendimento é de que esse setor não precisa ser impulsionado e que já está maduro o suficiente do ponto de vista de financiamento.
Os desembolsos para os projetos devem ocorrer num horizonte de 18 meses, mas há iniciativas, como do hidrogênio verde, que demandam um tempo mais longo de implementação e de ciclo de investimento. O primeiro desembolso do Tesouro será de 25%, para investimento privado equivalente. Uma vez usado esse recurso, serão desembolsados mais 50% e, por fim, os 25% restantes.
Projetos
O Tesouro vai receber propostas para o leilão num prazo de 60 dias. “Banco público e privado vão disputar essa mesma linha. Colocamos um limite máximo de 25% que cada instituição financeira pode acessar dessa linha, para garantir que no mínimo tenham quatro instituições. Isso é saudável. Nós devemos ter mais do que isso de players, talvez mais do que isso de vencedores, mas a gente estabeleceu esse mínimo”, explicou o secretário.
Após o recebimento das propostas, o Tesouro vai avaliar as carteiras de projetos, que precisam conter um relatório de pré-alocação dos recursos. No trâmite interno, há discussões com o Ministério do Meio Ambiente para validar os vencedores. Os resultados devem sair em até 30 dias após o fim do leilão.
“O modelo é novo e limpo. Ele é para o mercado, tem regras simples, não tem balcão. A questão de compliance, de regras de transparência, de autonomia na disputa, ele é algo novo no Brasil”, defendeu o secretário.
A expectativa é de que haja bastante interesse das instituições financeiras. “Tem uma janela de 60 dias que os investidores precisam buscar as instituições financeiras para que seu projeto entre nesses portfólios, nessas carteiras, para serem financiados. É uma grande oportunidade para esses investidores e para as instituições financeiras privadas participarem de um novo modelo de fomento ao crédito produtivo de longo prazo, de um modelo mais aberto e não só vinculado a bancos públicos. E o País todo ganha com a atração de poupança externa”, afirmou.
Por Fernanda Trisotto
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