A vantagem econômica do etanol e a safra recorde no ciclo 2023/2024 intensificaram as vendas do biocombustível no início de 2024, permitindo que a participação atingisse 26,3% no consumo energético total da frota leve brasileira no primeiro trimestre deste ano, nível superior aos 17,7% observados no mesmo período de 2023, informa o Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) em seu relatório trimestral.
“O aumento da participação do etanol garantiu uma redução importante na intensidade de carbono da matriz de combustíveis leves nos últimos trimestres (a intensidade de carbono avalia as emissões de gases de efeito estufa originadas da queima de uma unidade de energia pelos veículos leves)”, informa o estudo.
Nos três primeiros meses deste ano, as emissões evitadas pela bioenergia no ciclo Otto alcançaram 14,9 milhões de toneladas de CO2, levando em conta etanol e biodiesel. Este é o segundo maior valor trimestral registrado desde o início do estudo do Observatório de Bioeconomia da FGV, no primeiro trimestre de 2020.
“Depois de um período conturbado com redução da mistura de biodiesel e eliminação do diferencial tributário do etanol no ciclo Otto, observamos uma recuperação da bioenergia no mercado nacional ao longo dos trimestres de 2023. Seguindo essa tendência, os resultados do primeiro trimestre de 2024 surpreenderam ao registrarem emissão evitada pela bioenergia 26,4% superior àquela observada no mesmo período de 2023”, destacou no estudo o coordenador do núcleo de bioenergia do Observatório, Luciano Rodrigues.
Com isso, informa, a intensidade média de carbono da matriz de combustíveis leves atingiu o menor valor observado desde o início de 2021, quando uma seca histórica registrada nas regiões produtoras de cana-de-açúcar reduziu o rendimento agrícola do canavial e, como consequência, a oferta do biocombustível.
No início de 2022, a participação do etanol hidratado no ciclo Otto ainda ensaiava recuperação quando houve a mudança na estrutura tributária sobre os combustíveis, reduzindo substancialmente a diferenciação tributária entre etanol e gasolina.
“Essa condição prejudicou a atratividade do etanol por cerca de um ano, no período compreendido entre o segundo semestre de 2022 e a primeira metade de 2023”, explica o estudo.
Nos três primeiros meses de 2024, o etanol anidro misturado à gasolina e o etanol hidratado consumido diretamente pelos veículos foram responsáveis por 41,4% da energia consumida pelos veículos leves, o maior valor registrado ao longo dos últimos 12 trimestres da série. As maiores reduções na intensidade de carbono da matriz foram no Distrito Federal (12,02%), Mato Grosso do Sul (11,91%), Goiás (10,12%), Mato Grosso (9,18%), Minas Gerais (9,03%) e São Paulo (8,78%).
Ciclo diesel
Segundo o Observatório, o consumo de diesel B (mistura de diesel puro com biodiesel) atingiu 65,5 bilhões de litros em 2023, com aumento de 3,6% na comparação com o volume comercializado no ano anterior (63,2 bilhões de litros). No primeiro trimestre de 2024, essa tendência foi mantida e o aumento no consumo atingiu 2,4%, com 15,6 bilhões de litros vendidos ante 15,2 bilhões contabilizados no mesmo trimestre de 2023.
“Assim como no caso do etanol, a intensidade de carbono da matriz do ciclo diesel apresentou melhora ao longo dos trimestres de 2023: enquanto nos primeiros três meses do ano a intensidade média alcançou 80,4 gCO2eq/MJ (gramas de dióxido equivalente por megajoule de energia), no último trimestre o índice atingiu 79,1 gCO2eq/MJ”, informa o estudo.
A FGV explica que isso decorre de dois movimentos distintos. O primeiro remete ao aumento do teor de mistura de biodiesel, de 10% para 12%, no início do segundo trimestre de 2023. O segundo está relacionado ao ganho de 2,7% na eficiência energético-ambiental do biodiesel comercializado ao longo de 2023 – a intensidade de carbono do biocombustível passou de 21,6 gCO2eq/MJ no 1º trimestre de 2023 para 21,0 gCO2eq/MJ no último trimestre do ano.
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Por Denise Luna
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