O dólar abriu a semana em baixa moderada no mercado doméstico, alinhado à perda de força da moeda norte-americana no exterior e ao recuo das taxas do Treasuries, em especial ao longo da tarde. Dados abaixo do esperado da indústria dos Estados Unidos em maio sugerem moderação da atividade nos EUA e aumento da possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reduzir os juros a partir de setembro.
Operadores afirmam que a queda global do dólar abriu espaço para um movimento de realização de lucros e correção, ainda que parcial, dos ganhos de 1,60% da moeda na semana passada. Houve também relatos de internalização de recursos por exportadores, sobretudo após o dólar ter ultrapassado R$ 5,26 e tocado máxima a R$ 5,2674 pela manhã, antes da divulgação de indicadores industriais nos EUA.
Com mínima a R$ 5,2142 à tarde, em sintonia com o exterior, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,32%, cotado a R$ 5,2340.
Houve boa liquidez no segmento futuro, com o contrato de dólar para julho movimentando mais de US$ 14 bilhões, nível alto para uma segunda-feira.
“O mercado local seguiu basicamente o movimento do dólar no exterior, devolvendo um pouco da alta de sexta-feira. Alguns exportadores aproveitaram as cotações mais altas para vender também”, afirma o diretor de câmbio da Ourominas, para quem a taxa de câmbio ainda carrega prêmios de risco associados “às questões fiscais e a dúvidas sobre a indicação do governo para a próxima presidência do Banco Central”.
O real poderia ter um desempenho melhor não fossem o tombo de mais de 3% das cotações do petróleo e o recuo do minério de ferro. Analistas afirmam que também pesa contra a moeda brasileira a piora contínua das expectativas de inflação, confirmadas nesta segunda-feira pelo Boletim Focus. A projeção para o IPCA deste ano subiu pela quarta semana consecutiva, passando de 3,86% para 3,88%. Para 2025, foi de 3,75% para 3,77% (de 3,64% um mês atrás).
O aumento da percepção de risco doméstico, em meio a dúvidas sobre a credibilidade da política monetária e fiscal, anula parte do potencial efeito positivo sobre a moeda da perspectiva de uma Selic em dois dígitos no fim do ano – o que garante taxa real e diferencial entre juro interno e externo ainda atraentes ao investidor. No Focus, a mediana da Selic para 2024 subiu de 10% para 10,25%, o que implica apenas mais um corte de 0,25 ponto porcentual neste ano.
Entre pares do real, peso chileno e rand sul-africano apresentaram ganhos de mais de 1% em relação ao dólar, em dia de valorização do cobre. Na contramão, o peso mexicano perdeu mais de 4%, em meio a dúvidas sobre a continuidade da política de equilíbrio das contas públicas após a candidata governista Claudia Sheinbaum vencer as eleições presidenciais. Ela terá ampla maioria no Congresso e, portanto, espaço para mudanças constitucionais.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, não notou movimento de migração de recursos do México para ativos locais, como o real. “O México está apanhando porque acabou virando o queridinho do mercado. Tem muita gente desfazendo posição hoje”, afirma.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY caía mais de 0,50% no fim da tarde, perto da mínima (104,121 pontos). As taxas dos Treasuries recuaram em bloco, com o retorno da T-note de 10 anos descendo mais de 2%, para a casa de 4,40%.
Por Antonio Perez
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