A Melnick, uma das maiores empresas do mercado imobiliário do Rio Grande do Sul, começou a retomar as atividades na cidade de Porto Alegre ao longo da segunda-feira, 13, após dez dias com sede administrativa, canteiros e lojas paralisados pelo caos no Estado.
No momento, a incorporadora ainda está buscando avaliar os impactos da crise nos prazos das obras, cronograma de lançamentos e adimplência das vendas de imóveis na planta. “Ainda está muito confuso. O impacto dessa catástrofe na região foi brutal”, disse o presidente da incorporadora, Leandro Melnick.
A Melnick teve danos reduzidos neste primeiro momento. Dos 18 canteiros, apenas três tiveram alagamentos, mas sem perdas relevantes, pois a maioria fica nos bairros mais elevados da cidade.
Na retomada dos trabalhos, cerca de 40% dos operários se apresentaram, e a previsão é chegar a 60% no fim da semana. Do total de 700 funcionários da companhia, 48 foram atingidos diretamente, sendo forçados a deixar suas moradias.
“Os impactos objetivos na Melnick foram reduzidos, ao contrário do que aconteceu com outras empresas no Rio Grande do Sul”, afirmou. “O maior problema é no futuro”, apontou o presidente da empresa.
A estimativa inicial é de atraso em torno de 45 a 90 dias no cronograma original das obras. “Pode ser mais ou menos, porque é baixa a capacidade de estimar neste momento.”
O empresário disse que há boa vontade dos fornecedores em atender as demandas das obras, embora também enfrentem suas próprias dificuldades. Por ora, é difícil estimar se haverá gargalo na capacidade de entregas e potencial aumento de preços. “Estamos vendo uma onda positiva de fornecedores que nos deixa esperançosos de mitigar boa parte dos impactos”, comentou.
No total de 10 mil clientes – a maioria de média e alta renda – apenas 68 tiveram algum impacto, que foi de baixo potencial.
Melnick acredita que a incorporadora terá a trajetória de lançamentos comprometida neste trimestre, mas com chance de recuperação nos seguintes. O serviço de licenciamento de obras na Prefeitura de Porto Alegre foi paralisado e não há clareza sobre o retorno.
“Se ficar parado por poucas semanas, não afeta os lançamentos do ano. Tínhamos uma estrutura para fazer um volume maior de lançamentos de tamanho médio neste ano. É possível redistribuirmos ao longo do ano”, afirmou o presidente.
Mas há dúvida se haverá consumidores com poder de compra e entusiasmo para fechar negócio. “O lado comercial também é um ponto de interrogação”, disse. Um cenário possível é aumento na demanda por moradia em pontos altos da cidade e menos suscetíveis a enchentes.
Primeiros dias na água
Melnick disse que ele e muitos colaboradores passaram os primeiros dias atuando com resgate de pessoas ilhadas e organizando doações. O empresário e amigos reuniram barcos e jet skis para ajudar nos primeiros socorros. “Passei três dias na água. Salvamos centenas de pessoas assim.”
A empresa informou que montou um centro de recebimento e distribuições de doações no estande de vendas localizado no Square Garden (antigo Ginásio da Brigada Militar). Em parceria com o Instituto Cultural Floresta, doou combustível para aeronaves e helicópteros que transportam donativos.
A Melnick cedeu também dois espaços para montagem de abrigos e tem colaborado com fornecimento de energia por gerador, água potável via caminhão pipa e serviços de manutenção do espaço, além de doação de cestas básicas, kits de higiene e limpeza, e ferramentas e equipamentos diversos.
Por Circe Bonatelli
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