No fim da tarde de quinta-feira passada, Jair Andrade de Almeida, dono do restaurante Nova Frei Caneca, na região da Avenida Paulista, foi às compras em um atacarejo da capital paulista para repor os estoques de arroz, mas foi pego de surpresa. Planejava levar 30 fardos de arroz de 30 quilos, o que ele normalmente gasta por mês no seu estabelecimento. No entanto, conseguiu comprar apenas dez fardos porque a loja visitada passou a limitar a venda de volume por cliente.
“Vou ter de percorrer outros atacarejos para ver se pego mais 20 fardos”, disse ele, ao Estadão. Ele diz não ter notado aumento de preço, mas teme mudanças. “Tudo pode acontecer, como eles estão limitando (a venda)”, afirmou.
Em outra rede, o pintor autônomo de veículos César Augusto Geraldo conseguiu comprar três pacotes de arroz com o argumento da precaução. “Estou comprando arroz porque está sendo prevista a escassez.”
A história de ambos resume o que muitos consumidores têm encontrado nos últimos dias na hora de repor a despensa. Das sete lojas de varejo e atacarejo visitadas pela reportagem na quinta-feira, em São Paulo, cinco estavam racionando a venda de produtos (Extra, Assaí, Spani, Giga e Carrefour). Não havia falta dos itens e as prateleiras estavam cheias, porém avisos indicavam a limitação de volumes por cliente.
Procurado, o Giga não respondeu à solicitação do Estadão. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Spani. Já o Assaí informou que limitou temporariamente a venda de arroz e que as quantidades variam conforme a loja e a cidade. A medida é válida em todas as unidades da rede.
SAFRA COLHIDA
Diretor financeiro e de relações com investidores da Camil (que é a maior fabricante de arroz do País), Flávio Vargas afirma que aproximadamente 85% da safra do grão produzido no Rio Grande do Sul já estava colhida antes das fortes chuvas, com a produção concentrada na indústria ou nos armazéns de produtores. “Nossa avaliação preliminar é de baixo impacto do fenômeno climático na produção de arroz gaúcho em virtude da colheita avançada”, disse o executivo.
Segundo o executivo, neste momento há um movimento de antecipação de compras por parte do consumidor em volume superior ao seu padrão de consumo usual. “Isso gera a percepção de desabastecimento, quando, estruturalmente, não vai faltar arroz no ano. O volume de arroz produzido no Brasil, somado ao acesso ao mercado internacional, garante a disponibilidade de consumo.”
De acordo com Vargas, há uma dificuldade de abastecimento do arroz gaúcho no curto prazo, em virtude das questões logísticas de escoamento. “Conseguimos suprir o varejo do Nordeste pelo arroz importado ou pelo Porto de Rio Grande. Atendemos ao mercado de São Paulo por meio da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, região de Itaqui. O maior desafio de atendimento é na região ao norte de Porto Alegre, por conta de rodovias bloqueadas”, citou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Márcia de Chiara e Isadora Duarte
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