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Com R$ 1,1 bi em dívidas, Coteminas apresenta pedido de recuperação

A Coteminas, que pertence ao empresário Josué Gomes da Silva, atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentou na segunda-feira,6, pedido de recuperação judicial. Segundo informação dada ontem pela empresa, a Justiça já deferiu, em tutela de urgência, a suspensão de cobranças de dívidas do grupo – que atua no setor têxtil. A decisão foi da 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG).

Parceira da varejista chinesa Shein no Brasil, a Coteminas tem uma dívida líquida de R$ 1,1 bilhão e, agora, as conversas devem envolver mais de 15 bancos credores, incluindo grandes instituições, como Banco do Brasil, Bradesco e BTG, e menores, como Sofisa, Pine e ABC Brasil. A lista de credores consta do último balanço público da empresa, do primeiro trimestre de 2023, divulgado com meses de atraso.

Entre os bancos credores, o BB aparecia no balanço do primeiro trimestre de 2023 como credor do maior valor – de R$ 410 milhões . O Bradesco tinha R$ 43 milhões e o ABC Brasil, R$ 36 milhões. Havia ainda dívidas em dólar e outras moedas estrangeiras, como as com o Banco Patagonia, que pertence ao BB, com o próprio BB e com o Banco Luso Brasileiro.

Em fato relevante divulgado ontem, a Coteminas afirmou que a empresa vem tendo seus negócios “negativamente impactados pela combinação de fatores adversos que acarretaram dificuldades financeiras desde o fim da pandemia”. Neste sentido, o pedido de recuperação foi solicitado como forma de garantir a preservação das atividades da companhia e de suas subsidiárias “que ficariam sujeitas a dano irreparável”.

O estopim para a apresentação do pedido foi um vencimento antecipado de debêntures (títulos de dívida) no valor de R$ 180 milhões cobrado pelo fundo FIP Odernes, que solicitou acesso a ações da Ammo Varejo, uma das controladas pela Coteminas, como garantia pelo não pagamento dos débitos.

O processo de recuperação tramita em segredo de Justiça, mas o Estadão/Broadcast teve acesso à decisão. O juiz considerou que os bloqueios e penhoras dos ativos, decorrentes das execuções de dívidas, poderiam inviabilizar as atividades empresariais e o pagamento dos funcionários, fornecedores e tributos.

DIFICULDADES

A recuperação judicial envolve a Coteminas e suas controladas – além da Ammo Varejo, a Springs Global. O grupo vem nos últimos anos tentando resolver problemas financeiros, em meio ao aumento de juros e queda de receitas. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 759 milhões.

A Ammo, que é dona de marcas como MMartan, Artex e Santista, tentou abrir o capital em 2021, mas com o fechamento do mercado, que não se reabriu até hoje, o plano foi engavetado. Em junho de 2022, tentou captar R$ 300 milhões em uma emissão de debêntures privada. Os papéis eram conversíveis em ações, com prazo de 5 anos, portanto vencendo em 2027.

No ano seguinte, porém, a Coteminas não conseguiu cumprir obrigações financeiras (“covenants”) referentes a esses papéis, conforme explica em seu balanço do primeiro trimestre de 2023, o último divulgado desde então. Nas notas explicativas, a Coteminas ressalta que as obrigações não pagas viraram passivo no balanço da Ammo.

Pelo contrato das debêntures, a quebra dos “covenants” poderia desencadear o vencimento antecipado dos papéis. E foi isso que a Odernes fez agora, após rodadas de conversas com os controladores.

SHEIN

Para tentar salvar a Coteminas, Josué Gomes – filho de José Alencar, fundador do grupo e que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – costurou um acordo com o grupo Shein no ano passado: os mais de 2 mil fornecedores da brasileira seriam fornecedores também da varejista chinesa, em meio à pressão de Brasília para a Shein nacionalizar sua produção. A empresa era acusada por outras empresas brasileiras de concorrência desleal e importação de produtos sem pagamento de impostos.

Com a Shein, além do acordo de fornecedores, Josué conseguiu um empréstimo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões), em uma nova tentativa de conseguir recursos para tocar o negócio, afetado por vendas baixas no mercado de varejo brasileiro, juros altos e aumento do endividamento dos consumidores.

Ainda em maio do ano passado, a Coteminas conseguiu renegociar dívidas com bancos, com redução de R$ 464,2 milhões da parcela a pagar em 2023. Pela negociação, R$ 324,7 milhões passaram a ter vencimento a partir de 2026.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Carolina Maingué Pires, Altamiro Silva Junior e Jorge Barbosa

Estadão Conteúdo

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