Imagens coletadas pelas câmeras corporais de um dos agentes da Polícia Militar que atuou na ocorrência envolvendo um Porsche no último dia 31 no Tatuapé, zona leste de São Paulo, ajudam a entender as circunstâncias em que o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, que conduzia o veículo de luxo no momento do acidente, foi liberado mesmo sem fazer o teste do bafômetro.
A colisão do carro de luxo com a traseira de um Renault Sandero causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos. Nesta semana, a Polícia Civil concluiu o inquérito que investiga o acidente e pediu a prisão preventiva de Andrade Filho – antes, outros dois pedidos de prisão foram negados pela Justiça. Procurada, a defesa do empresário não se manifestou.
Nas imagens das câmera corporal da farda de um dos agentes, obtidas pelo Estadão, é possível ver o momento que policiais se aproximam de Andrade Filho, que já estava em companhia da mãe, para indagá-lo sobre o acidente. “Onde ele vai?”, diz uma agente.
Ao ser questionado sobre o acidente, Andrade Filho afirma não se lembrar bem do que houve. “A gente estava saindo da festa, a gente ia para a minha casa jogar sinuca. E do nada aconteceu um acidente horrível”, disse. “Não me lembro mais de nada.”
O acidente envolvendo a Porsche em alta velocidade, além da morte de Viana, resultou na internação do estudante Marcus Vinicius Rocha, de 22 anos, que chegou a passar por procedimento cirúrgico para retirar o baço. Ele estava dentro do carro com Andrade Filho no momento do acidente.
Enquanto os policiais militares conversam com o motorista para entender melhor as circunstâncias da batida, a mãe do empresário insiste em levá-lo para o hospital. “Pelo amor de Deus, deixa eu levar ele (sic) para fazer tomografia, moça”, disse. “Se ele tiver batido a cabeça, cada minuto conta.”
Após insistência, os policiais liberam Andrade Filho. “Pode ir”, disse uma das agentes. A mãe, então, disse que iria levá-lo para o Hospital São Luiz. Mas, no registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmaram que, quando foram até lá procurá-los, não encontraram nenhum dos dois.
O acidente foi registrado na madrugada do domingo de Páscoa, mas Andrade Filho se apresentou no 30º Distrito Policial (Tatuapé), que investiga o caso, quase 40 horas após a ocorrência, em 1° de abril – mesmo dia em que Viana foi enterrado em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Na ocasião, a defesa de Andrade Filho negou que o cliente tenha fugido do local do acidente e afirmou que ele apenas se “resguardou de linchamento”.
Segundo sindicância da Polícia Militar, os agentes que atenderam a ocorrência erraram ao não fazer o teste do bafômetro em Andrade Filho após o acidente. “Testemunhas dizem que ele apresentava voz pastosa, andar cambaleante”, disse, no último dia 6, o delegado Carlos Henrique Ruiz, da 5ª Delegacia Seccional (Leste).
O empresário tinha acabado de sair de uma festa “open bar” (com bebida liberada) quando se envolveu no acidente. Ele foi indiciado por homicídio (com dolo eventual), lesão corporal – por conta dos ferimentos causados ao amigo que estava com ele no carro – e fuga do local de acidente.
Com a conclusão do inquérito, cabe ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) decidir se irá denunciar Andrade Filho pelos três crimes, além de poder concordar ou não com o novo pedido de prisão. Recentemente, o órgão solicitou perícia scanner em 3D para elucidar o acidente em detalhes.
O Porsche 911 Carrera GTS conduzido por Andrade Filho estava a 156 km/h pouco antes do acidente que matou Viana, segundo laudo da Polícia Técnico-Científica. A velocidade representa mais do que o triplo do que os 50 km/h permitidos para a Avenida Salim Farah Maluf, via onde o acidente aconteceu.
Por talo Lo Re
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