Categories: Economia

Ibovespa cai 0,49%, aos 125,3 mil pontos, no menor nível desde novembro

Em linha com a deterioração do humor em Nova York, o Ibovespa acentuou perdas ao longo da tarde, após ter operado na parte inicial da sessão um pouco acima da estabilidade com a relativa descompressão geopolítica no Oriente Médio. Além da virada em NY, em baixa que chegou a 1,79% no fechamento (Nasdaq), o índice da B3 sentiu efeito também da piora na percepção sobre a política fiscal doméstica, após a confirmação, pelo Ministério da Fazenda, de que a meta de superávit primário de 0,5% do PIB, para 2025, foi revisada pelo governo para zero, com efeito para a trajetória da dívida pública na visão de mercado.

No fechamento, o Ibovespa mostrava baixa de 0,49%, aos 125.333,89 pontos, a quarta perda consecutiva para o índice, agora no menor nível de encerramento desde 17 de novembro, então aos 124,7 mil. Na mínima de hoje, ficou perto de ceder o limiar de 125 mil, aos 125.033,98, saindo de máxima a 126.250,41 e de abertura aos 125.946,09 pontos na sessão. O giro foi a R$ 27,2 bilhões. No mês, o Ibovespa cai 2,16% e, no ano, cede 6,60%.

“De manhã, a Bolsa subia mesmo com o avanço do dólar e dos juros futuros. Mas com a pressão mais forte nos DIs à tarde, em todos os vencimentos, e também no câmbio, o Ibovespa não conseguiu sustentar essa recuperação. O momento ainda é de aversão a risco para Bolsa, com poucos setores, como o de frigoríficos, conseguindo se descolar na sessão”, diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que empresas como BRF (+10,15%), Marfrig (+4,82%) e JBS (+4,21%), na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, foram beneficiadas por aumento de recomendação para o setor, além da queda de preços em insumos para rações, como milho, em Chicago.

Ele observa que a pressão observada no câmbio e nos juros futuros têm relação, ainda, com a possibilidade de efeitos inflacionários, especialmente sobre os custos de fontes de energia, como o petróleo, caso as tensões entre Israel e Irã persistam – e com potencial de envolvimento de terceiras partes, como EUA. Uma escalada militar teria implicações também para os juros americanos, no momento em que o mercado já tinha repassado de junho para setembro o momento do início de cortes na taxa do Federal Reserve.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou hoje que o país coordena um esforço diplomático para evitar que as tensões entre Irã e Israel se transformem em um conflito maior no Oriente Médio. “Não buscamos escalada, mas continuaremos apoiando a defesa de Israel e protegendo o nosso pessoal na região”, disse Blinken, no âmbito de reunião com o vice-primeiro-ministro do Iraque, Muhammad Ali Tamim, em Washington D.C.

Não obstante a extensão da ofensiva iraniana a Israel na virada do sábado para o domingo, a falta de efetividade dos mais de 300 drones e mísseis – contidos pela defesa israelense e por aliados como Estados Unidos e Reino Unido – e a declaração do regime persa de que a resposta ao ataque do início de abril ao consulado iraniano na Síria está dada, aliviaram os receios de uma escalada militar na região, por ora.

Ainda no fim de semana, o sinal do presidente dos EUA, Joe Biden, ao governo de Israel, de que uma reação como a do fim de semana precisa ser tratada como vitória, reforçou a percepção de que Israel tende a esperar para eventual revide, sem causar acirramento da hostilidade no momento – o que teria efeito para os custos de energia globais quando se desenha uma eleição americana acirrada.

“A baixíssima eficiência do ataque do Irã, com mais de 99% dos projéteis lançados tendo sido interceptados por Israel e aliados, foi o ponto positivo do fim de semana”, em relação à expectativa que se tinha na sexta-feira, quando predominava a aversão global a risco, diz Victor Miranda, sócio da One Investimentos, referindo-se à retirada, nesta segunda-feira, de parte dos prêmios que haviam sido colocados em ativos mais sensíveis à região, como o petróleo.

A retração da commodity, contudo, foi moderada em direção ao fechamento da sessão de hoje em Londres e Nova York. As perdas arrefeceram à tarde depois de Israel sinalizar que pretende, de fato, dar resposta ao ataque do fim de semana. Por ora, a relativa descompressão do petróleo se refletiu positivamente nas ações de Petrobras (ON +1,46%, PN +0,95%), com a percepção de que menos é mais no momento em que a gestão da estatal vinha sob críticas de alas do governo – uma escalada da commodity poderia acentuar a defasagem entre o preço doméstico e o externo.

A recuperação do minério de ferro na China pela sexta sessão consecutiva, acumulando avanço de 9,5% em relação à segunda-feira passada, deu suporte às ações do setor metálico, com Vale ON em alta de 0,58% e os ganhos no segmento chegando a 3,62%, para Metalúrgica Gerdau, no fechamento da sessão. Entre os setores de maior peso no Ibovespa, os bancos operaram na direção oposta a das commodities nesta segunda-feira, com perdas que atingiram 1,69% (Itaú PN) no encerramento do dia.

Na ponta ganhadora, além dos frigoríficos e de Metalúrgica Gerdau, destaque também para Gerdau (PN +3,50%) e Dexco (+2,75%). O JPMorgan elevou as recomendações de Gerdau e Metalúrgica Gerdau, de neutra para overweight (equivalente a compra), e para o preço-alvo das companhias – de R$ 25,50 para R$ 30,50 e de R$ 11 para R$ 13, respectivamente -, reporta a jornalista Amélia Alves, do Broadcast. Em relação ao fechamento da última sexta-feira, há potencial valorização de 36,7% (Gerdau) e 23,7% (Metalúrgica).

No lado oposto do Ibovespa nesta primeira sessão da semana, predominaram ações correlacionadas ao ciclo doméstico e sensíveis a câmbio ou juros, como CVC (-9,38%), Magazine Luiza (-7,83%), Vamos (-6,42%) e Cyrela (-6,03%).

Por Luís Eduardo Leal

Estadão Conteúdo

Recent Posts

Reguladores e setor bancário dos EUA devem focar em riscos mais críticos, diz diretora do Fed

A turbulência bancária ocorrida no ano passado nos Estados Unidos ilustra claramente que supervisores e…

1 hora ago

ABBC diz que redução no teto do consignado INSS prejudica bancos de menor porte

A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) afirma que as reduções do teto dos juros do…

14 horas ago

Governo enviará MP para flexibilizar lei de licitações em casos de calamidade, diz ministra

A ministra da Gestão, Esther Dweck, anunciou que o governo federal enviará uma Medida Provisória…

14 horas ago

AGU parabeniza 3 Poderes por ‘alto nível de diálogo interinstitucional’ sobre desoneração

O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, comemorou na rede social X (antigo…

15 horas ago

Consulta pública para projeto rodoviário da Nova Raposo recebe quase 2 mil contribuições

A consulta pública do projeto da rodovia Nova Raposo, em São Paulo, contou ao todo…

15 horas ago

Susep suspende por 30 dias prazos de processos sancionadores para seguradoras do RS

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) aumentou prazos e suspendeu entregas de materiais regulatórios para…

15 horas ago