Menos de duas semanas após a Polícia Federal (PF) deflagrar uma operação para apurar crimes de espionagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão Jair Bolsonaro, o ex-presidente confirmou o nome do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência de inteligência, como pré-candidato à Prefeitura do Rio.
A sinalização de apoio foi feita durante o 1º Congresso Harpia Brasil, em Goiânia (GO), no dia 27 de outubro. “Ramagem, a princípio, é o nosso candidato no Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, confirmou ao Estadão a escolha de Ramagem para a disputa. De acordo com Valdemar, Ramagem foi o nome escolhido pelo ex-chefe do Executivo com o apoio do governador do Estado, Cláudio Castro (PL).
JULGAMENTO. A decisão do presidente do PL foi anunciada na quarta-feira, no dia seguinte em que, por 5 votos a 2, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considerou que Bolsonaro e Walter Braga Netto – nome mais cotado para disputa da capital fluminense – cometeram abuso de poder político e econômico e conduta vedada nas comemorações do Bicentenário da Independência durante a campanha eleitoral de 2022.
Bolsonaro já havia sido julgado inelegível por oito anos em 30 de julho, também por decisão do TSE. Naquela ocasião, o tribunal analisava ações que se referiam à reunião do ex-presidente com embaixadores, realizada no Palácio da Alvorada e transmitida pela estatal TV Brasil. Os ministros entenderam que Braga Netto, como candidato a vice, não havia tido participação no evento.
No julgamento de terça-feira foi diferente. O ministro Benedito Gonçalves, corregedor da Justiça Eleitoral e relator do caso, argumentou que, pelo cargo que ocupava no governo – Braga Netto era ministro da Defesa de Bolsonaro -, o general tomou conhecimento dos preparativos do 7 de setembro. Assim, teria parcela de culpa no uso das comemorações do Bicentenário da Independência como palanque eleitoral para a chapa do PL.
FORA. Com a decisão, Braga Netto fica de fora do próximo pleito municipal e abre caminho para que Ramagem, que conta com o apoio dos filhos de Bolsonaro, assuma a pré-candidatura.
A Operação Última Milha, deflagrada em 20 de outubro, colocou Ramagem no centro das atenções do escândalo de monitoramento de políticos, jornalistas, advogados, ministros do Supremo Tribunal Federal e adversários do governo Bolsonaro.
A operação prendeu dois servidores da agência que teria usado indevidamente o sistema de geolocalização de celulares do órgão. Aliado fiel do clã Bolsonaro, Ramagem esteve à frente da Abin durante o período em que os servidores presos teriam usado a estrutura estatal para localizar alvos da espionagem, entre julho de 2019 e abril de 2022. Ramagem disse que as diligências só foram possíveis graças ao “início de trabalhos de austeridade” promovidos durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ramagem não foi alvo de mandados da operação.
DEFESA. Em nota publicada nas redes sociais, Ramagem afirmou que o objeto da operação, a ferramenta de monitoramento FirstMile, foi adquirido em 2018, antes do governo Bolsonaro, mas que ao assumir a gestão da Abin determinou uma auditoria interna e encaminhou o contrato do sistema de espionagem para a corregedoria interna da agência. Ele não nega a ação dos servidores.
A Coluna do Estadão já havia mostrado que investigação sobre espionagem ilegal na Abin não derrubou a intenção do PL de lançar a candidatura de Ramagem à Prefeitura do Rio. A cúpula do partido de Jair Bolsonaro avaliou que não há nada que o desabone para a disputa. Ao contrário disso, a aposta é que o escândalo na Agência Brasileira de Inteligência pode até impulsionar o nome dele.
Por Rayanderson Guerra
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