Apesar dos aportes ainda minguados do investidor estrangeiro na B3 – com outubro de 2023 caminhando para ser o pior mês de outubro desde 2019 -, o JPMorgan afirma que a atratividade do Brasil ante outros mercados emergentes vem melhorando devido às condições internas para cortar juros “de forma legítima”. Ao Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o estrategista-chefe de Ações em Mercados Emergentes e chefe de Pesquisa de Ações da América Latina no JPMorgan, Pedro Martins Junior, avalia, assim, que o fluxo externo para a Bolsa local não deve ser tão ruim em novembro quanto em agosto, setembro e outubro.
“Se o juro americano curto e longo parar de subir, haverá uma calmaria no mercado. Então os fundamentos são bem desafiadores, mas minha bússola indica que novembro não deve ser tão ruim quanto foram os últimos três meses”, afirma. Para Martins Junior, o principal risco segue sendo a taxa de juros americana, sendo que o conflito no Oriente Médio e o fiscal local estão “no banco de trás” das preocupações.
A expectativa do JPMorgan é de um preço-alvo de 135 mil pontos para o Ibovespa no fim de 2023, mas que na visão mais pessimista também pode fechar próximo dos 110 mil pontos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
O fluxo estrangeiro na B3 segue minguado pelo terceiro mês seguido. Na sua avaliação, a que se deve essa redução nos aportes de capital por aqui?
O principal fator que explica a falta de interesse do investidor estrangeiro em Bolsa tem menos a ver com fatores domésticos, e mais a ver com fatores globais. Basicamente, a visão do JPMorgan – e acho que do consenso do mercado – foi migrando ao longo deste segundo semestre, para a ideia de que os juros vão demorar para cair nos Estados Unidos. Nossa projeção é de que os Fed Funds Rates devem cair somente no segundo semestre de 2024. Acho que o dinheiro pegou um atalho e, em vez de fazer diversificação para renda variável internacional, está optando por ancorar em renda fixa nos EUA e esperar até que o cenário fique um pouco mais claro.
O senhor pode quantificar essa falta de interesse do investidor estrangeiro em Bolsa?
Pedro Martins Junior: Nós fazemos um acompanhamento de quanto dinheiro entrou para os fundos de mercados emergentes dedicados em ações. Em números redondos, do início do terceiro trimestre até agora saíram basicamente US$ 22 bilhões. Desses US$ 22 bilhões, o Brasil tem um peso neutro na carteira de aproximadamente 6%, então você conseguiria explicar só por essa óptica que saíram cerca de US$ 1,5 bilhão no Brasil de fundos de mercados emergentes, o que daria cerca de R$ 7,5 bilhões.
Além dos aportes de capital estrangeiro, como está o fluxo para a Bolsa brasileira?
Na somatória dos fluxos é como se a gente estivesse perdendo em dois fundamentos: fundos de ações de mercados emergentes estão perdendo fatia na comparação com outros fundos de ações globais; e, no local, o fluxo de renda fixa para Bolsa não está funcionando. O único que está na margem, indo bem, é o Brasil dentro de mercados emergentes, com o País ganhando um pouco de atratividade.
O quadro estaria um pouco melhor se não estivesse acontecendo o conflito no Oriente Médio?
O fator que mais contribuiu para o fluxo tão ruim durante esse segundo semestre é o juro americano. Eu colocaria o peso maior que 2/3, e aí tem o conflito no Oriente Médio, que aumenta a incerteza e não contribui para tomada de risco nas carteiras globais, mas não é o fator preponderante.
Como o deslocamento do preço do petróleo pode afetar a Bolsa brasileira?
Se o preço do petróleo sobe, que é o que tem acontecido, você cria em mercados emergentes ganhadores e perdedores no relativo. Na nossa percepção, os países que mais perdem, porque importam muito petróleo e há impacto na inflação são Índia, Filipinas e Turquia. E os países que mais ganham são Colômbia, Brasil e México, sendo que no Brasil e no México o maior efeito vem na parte fiscal, positivo ao assumir que o preço do petróleo gera mais arrecadação.
E se o Brasil tivesse avançado em temas como a reforma tributária, o quadro para fluxo estrangeiro na B3 também poderia ter sido melhor?
Quando olhamos o déficit fiscal hoje não é um ponto de preocupação, de maneira alguma. Eu diria que o principal risco é majoritariamente americano, um pouco de Oriente Médio e um pouco de fiscal. Mas os dois últimos estão no banco de trás das preocupações.
E como fica a China nesta equação?
A China tem sido uma gangorra como um vetor de valor para a Bolsa e para setores específicos no Brasil. No segundo trimestre houve um desapontamento geral, muito associado ao mercado imobiliário. Mas esse mal estar com a China começou a virar para o lado mais positivo com os dados fechados de agosto. Então dando números para ilustrar, a nossa projeção de PIB chinês chegou a ser tão baixa quanto 4,8%, e de agosto para cá esse número virou 5,2%.
Então na visão do senhor, o risco-China já está precificado na Bolsa brasileira? As ações da Vale, por exemplo, já contabilizam queda anual de cerca de 25%.
Ultimamente o governo chinês vem tirando algumas amarras, principalmente no setor imobiliário e isso tem surtido efeito no PIB chinês, que se associa a uma expectativa de melhora no preço de commodities. Então é verdade sim que a Vale foi mal no ano, mas na margem os preços do minério de ferro (commodity) e das ações (que refletem o preço do minério de ferro) vem melhorando do meio do ano para cá. Hoje temos uma visão até que construtiva do setor de mineração.
Para além de mineração, ainda há oportunidades na Bolsa brasileira? O JPMorgan trabalha com um preço-alvo para o Ibovespa no fim de 2023?
Há oportunidades e temos recomendação de compra para o Ibovespa nas carteiras de mercados emergentes. O preço-alvo está em 135 mil pontos para o fim de 2023, mas sabemos que o cenário externo está mais adverso e, na visão mais pessimista, o Ibovespa pode fechar próximo dos 110 mil pontos.
Como a Bolsa brasileira está em termos globais de valuation?
A Bolsa brasileira está muito barata. Para dar como referência, o mercado americano negocia a uma relação Preço por Lucro (P/L) de 18,5 vezes atualmente, com a referência histórica sendo de 16,4 vezes. No caso do Brasil, é exatamente o oposto, estamos negociando a 7,5 vezes o P/L e a média histórica está em torno de 10,5 vezes. Já o múltiplo da Índia é de 20,2 vezes o P/L, sendo que o padrão histórico do país é de 17,2 vezes, o que faz com que a Índia esteja sendo negociada a um desvio contra média histórica entre os mercados mais caros do mundo.
Por que o Brasil está ganhando mais atratividade na comparação com outros emergentes?
Primeiro porque somos um dos pouquíssimos países que já reuniu condições para cortar juros, e de forma legítima. Tem um fundamento muito forte para cortar, que é: taxa de juros real e nominal muito elevada. Mesmo que a Selic chegue a 10%, o fato de a atividade econômica do Brasil estar baixa, com a projeção de PIB para ano que vem entre 1% e 1,5% no consenso de mercado, apoia. E de não ter uma fragilidade em dólar, já que a conta corrente está equilibrada. O segundo é a questão do valor, no agregado os mercados emergentes negociam a 11,4 vezes o P/L, e a média histórica é 11,4, com pedaços de mercados emergentes que precificam caro, como a Índia, e pedaços de mercados emergentes com fundamentos bons e que precificam a muito baixo, como o Brasil. E o terceiro é o PIB chinês, que voltou a vir acima das expectativas do mercado, e temos expectativa de que cresça próximo de 5% no quarto trimestre de 2023 e no primeiro trimestre de 2024.
Diante disso, olhando daqui para frente, quais as expectativas para novembro? O fluxo estrangeiro tende a aumentar?
Na margem, eu pensaria o seguinte: o Brasil continua cortando os juros, o que vai tornando a atratividade – mesmo que gradativamente – da Bolsa em relação à renda fixa melhor. E lá fora, a gente não projeta mais aumento de Fed funds, o que também pode ajudar. Se o juro americano curto e longo parar de subir, haverá uma calmaria no mercado. Então os fundamentos são bem desafiadores, mas minha bússola indica que novembro não deve ser tão ruim quanto foram os últimos três meses.
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Por Caroline Aragaki e Maria Regina Silva
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