Em meio a um cenário de queda na fecundidade e maior longevidade, a última década foi marcada por um envelhecimento recorde da população brasileira. No ano passado, 10,9% da população do País tinha 65 anos ou mais. Isso significa um contingente de 22.169.101 de idosos, um salto de 57,4% em relação ao existente em 2010, quando esse grupo etário somava 14.081.477 de habitantes, 7,4% da população à época. Os dados são do Censo Demográfico 2022 – População por idade e sexo, divulgados nesta sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao mesmo tempo, o número de nascimentos despencou, fazendo o total de crianças com até 14 anos de idade recuar 12,6%, descendo de 45.932.294 em 2010, quando somavam 24,1% da população, para 40.129.261 em 2022, o equivalente a uma fatia de 19,8% de crianças nessa faixa etária em 2022.
A região Norte é a mais jovem, com 25,2% da população local com até 14 anos de idade, seguida pelo Nordeste, com 21,1% de crianças na população residente. Já as regiões Sudeste e Sul eram as mais envelhecidas. O Sudeste tinha 12,2% de sua população com 65 anos ou mais, e, no Sul, 12,1% da população era idosa.
Entre as Unidades da Federação, Roraima tinha apenas 5,1% da população na faixa etária de 65 anos ou mais, ao passo que as crianças de até 14 anos correspondiam a 29,2% dos residentes. No extremo oposto, o Rio Grande do Sul tinha 14,1% da população já idosa, e apenas 17,5% dos moradores ainda crianças, com até 14 anos de idade.
Em pouco mais de 40 anos, a proporção de crianças na população brasileira caiu praticamente à metade. Em 1980, 38,2% dos brasileiros tinham até 14 anos, enquanto que essa fatia não chegava a 20% em 2022. Já a proporção de idosos entre os habitantes do País quase triplicou, passando de 4,0% em 1980 para os atuais 10,9%.
A pirâmide etária brasileira com a base mais larga – o formato de pirâmide ocorre quando a população mais jovem é mais numerosa do que a mais velha – se manteve até o fim da década de 1980, lembrou Izabel Guimarães, analista do IBGE responsável pela divulgação da pesquisa. Entre o fim da década de 1980 e o início dos anos 1990, começou um estreitamento da base da pirâmide etária, como consequência da queda da fecundidade no País. A pesquisadora conta que a tendência de ter menos filhos começou por mulheres em áreas urbanas e com maior escolaridade, mas foi se espalhando pelo Brasil. Com a redução no número de nascimentos para reposição da população em idade produtiva, ao mesmo tempo em que ocorria uma extensão na expectativa de vida, houve aceleração na trajetória de envelhecimento da população, tornando mais próximo assim o fim do bônus demográfico no Brasil, confirmou a pesquisadora do IBGE.
“A gente vai ter sempre uma população menor para vir atrás, mais jovem, que vai ter que produzir muito mais para sustentar uma população menor de crianças, mas uma população envelhecida bem maior”, explicou Izabel.
Em 2010, a taxa de fecundidade no Brasil era de 1,9 filho por mulher. Izabel especula que seja ainda menor nos dados a serem calculados pelas informações do Censo 2022, por volta de 1,7 filho ou 1,6 filho por mulher.
55,2 idosos para cada 100 crianças
O índice de envelhecimento subiu a um ápice de 55,2 em 2022, ou seja, o Brasil tem 55,2 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 1940, primeiro ano de apuração do Censo Demográfico pelo IBGE, o índice de envelhecimento era de 5,6 idosos para cada 100 crianças, subindo gradualmente até 7,5 em 1970, 10,5 em 1980, 13,9 em 1991, 19,8 em 2000. No último Censo, em 2010, esse índice era de 30,7.
O Sudeste tem atualmente o maior índice de envelhecimento, 67,8 idosos para cada 100 crianças, seguido pelo Sul, com 65,6 idosos para cada 100 crianças. No outro extremo, o Norte tem 27,6 idosos para cada 100 crianças.
Roraima foi o estado com menor índice de envelhecimento, 17,4 idosos para cada 100 crianças, enquanto o Rio Grande do Sul tem o mais elevado, 80,4.
O IBGE frisou que o índice de envelhecimento foi maior nos municípios menos populosos, 76,2 nas cidades com até 5 mil habitantes, mas também era expressivo no outro extremo, 63,9 nos municípios de mais de 500 mil habitantes, reduzindo-se nas faixas intermediárias de população.
Nove dos dez municípios com os maiores índices de envelhecimento eram gaúchos: Coqueiro Baixo (277,14 idosos para cada 100 crianças); Santa Tereza (264,05); Três Arroios (245,98); União da Serra (243,28); Coronel Pilar (230,29); Relvado (228,57); Floriano Peixoto (225,54); Monte Belo do Sul (214,65); Ivorá (209,83); e Turmalina (205,38). Todos os onze municípios com os menores índices de envelhecimento pertenciam à região Norte: Uiramutã/RR (5,40 idosos para cada 100 crianças); Jordão/AC (6,55); Santa Rosa do Purus/AC (7,68); Normandia/RR (8,23); Bagre/PA (8,67); Japurá/AM (8,93); Melgaço/PA (9,25); Maraã/AM (9,30); Jacareacanga/PA (9,47); Jutaí/AM (9,52); e Pacaraima/RR (9,52).
Metade da população acima dos 35 anos
A idade mediana do brasileiro aumentou para 35 anos em 2022, o que significa que metade da população tinha até 35 anos, enquanto a outra metade estava acima desse patamar. O resultado significa seis anos a mais que os 29 anos registrados em 2010, quando metade da população estava no grupo até essa idade, e a outra metade acima desse corte etário.
Em 2022, o Sudeste tinha a maior mediana, 37 anos, seguida por Sul (36 anos), Centro-Oeste (33 anos), Nordeste (33 anos) e Norte (29 anos).
O município de Uiramutã, em Roraima, teve a menor idade mediana do País, 15 anos, e Coqueiro Baixo, no Rio Grande do Sul, teve a maior, 53 anos, assim como o também gaúcho União da Serra (53 anos).
Por Daniela Amorim
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