O banco BV (ex-Votorantim) teve lucro líquido recorrente de R$ 284 milhões no segundo trimestre deste ano, 29,2% menor que o do mesmo período do ano passado, e 1% maior que o do primeiro trimestre de 2023. No comparativo anual, a instituição afirma que a inadimplência continuou a pesar.
A carteira de crédito cresceu 10,7% em um ano, e chegou a R$ 84,8 bilhões. O maior crescimento veio de negócios em que o BV tem atuação mais recente, como o financiamento a painéis solares: o crédito associado às chamadas avenidas de crescimento aumentou 26,9% ao longo do último ano.
No financiamento de veículos, a carteira do BV cresceu 6,7% no período, para R$ 42,9 bilhões, enquanto no atacado, segmento em que o banco atende a grandes empresas, o crescimento foi de 8,5%, para R$ 25,5 bilhões.
A receita total do BV teve crescimento de 7,3% em um ano, para R$ 2,619 bilhões. Nesta linha, o banco contabiliza tanto as margens que obtém com crédito quanto as receitas com prestação de serviços.
De acordo com o BV, a inadimplência acima de 90 dias subiu 0,6 ponto porcentual em um ano e 0,2 ponto em um trimestre, atingindo 4,9%.
O custo de crédito, que reflete pontos como a despesa com provisões contra a inadimplência, cresceu 72,1% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 1,034 bilhão. O índice de cobertura recuou de 203% para 154% em um ano, e o índice de Basileia caiu de 17,3% para 14,7%.
Sinais de inflexão
O diretor financeiro do banco, Ronaldo Helpe, afirma que os números refletem um cenário mais desafiador que o do ano passado, mas com sinais de melhora em relação ao primeiro semestre. “Conversa com essa inflexão da capacidade de pagamento e do endividamento das famílias, e com a queda da taxa de juros, que traz uma perspectiva mais positiva”, diz ele ao Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
A queda dos juros deve trazer alívio maior às empresas, que têm dívidas atreladas ao CDI. Em pessoas físicas, a força do BV é no financiamento à compra de automóveis, que reage mais aos juros futuros que à Selic, mas o banco vê sinais positivos em carteiras como a do financiamento a placas solares. “Nossa hipótese, que é a do mercado, é de que um menor patamar de juros tende a aumentar o interesse dos clientes, porque a comparação é entre o valor da parcela e o da conta de luz.”
O otimismo se estende ao banco de investimento. Após a paralisação do mercado de capitais com o baque do caso Americanas, no primeiro trimestre, o BV conseguiu cumprir o orçamento para a primeira metade do ano com a volta das operações. “Notamos um aumento na bancabilidade das empresas e da demanda do mercado de capitais”, diz.
Para o segundo semestre, a expectativa é de que uma queda do custo de crédito, diante da originação mais cautelosa apresentada até aqui. “Imaginamos que o terceiro trimestre repita as tendências dos últimos, com uma melhora a partir do quarto trimestre”, diz Helpe.
Cautela
O perfil de originação de crédito do BV deve se manter o mesmo no segundo semestre. “A carteira com garantia é o grande foco do BV”, diz Helpe. “Temos na prateleira produtos sem garantia, mas os trabalhamos como complementares, e não como carro-chefe.”
Segundo ele, cerca de 90% da carteira do BV destinada a pessoas físicas é de créditos que têm algum tipo de colateral. Nessas carteiras, a instituição tem observado uma qualidade de ativos melhor que nos últimos meses.
O banco acredita que linhas como o crédito com garantia de veículo tendem a ser beneficiadas pelo marco das garantias, que tramita no Congresso e que flexibilizará o uso de bens como garantia em empréstimos. “O que é mais imediato e ligado à nossa operação está no financiamento a cadeias de pequenas e médias empresas”, afirma o diretor financeiro.
Por Matheus Piovesana
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