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Lula vê dificuldade no acordo Mercosul-UE por contrariedade do agro francês

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado, dia 24, que a França demonstra contrariedade à assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, negociado há 24 anos. Lula classificou as tratativas como o “principal problema” na relação entre os países. O presidente chegou a dizer que pode não ser possível fechar o acordo, por causa de setores econômicos considerados “essenciais”.

Lula vinculou o “início de contrariedade” à pressão feita sob Emmanuel Macron por parlamentares ligados ao agronegócio. Dias antes da visita oficial de Lula a Paris, a assembleia francesa aprovou por ampla maioria um veto político à assinatura do acordo, passo pendente nas negociações.

“Macron tem dificuldades no Congresso. Se a gente puder conversar com nossos amigos mais à esquerda para ajudar que seja assinado o acordo nós vamos fazer”, disse o presidente, em entrevista coletiva antes de decolar de volta ao Brasil.

Segundo Lula, Macron indicou que não havia tema proibido na conversa, mas o próprio petista considera difícil haver uma inflexão. Lula defendeu um comércio mais livre quanto possível, exceto o que os países considerem “essencial”.

O petista queixou-se de protecionismo contra países em desenvolvimento, mas tem batido o pé e negado a abertura do mercado brasileiro de aquisições públicas para fornecedores estrangeiros.

“Acho normal que a França tente defender sua agricultura, pode ser um ponto de mais dificuldade de inflexão. Mas é normal que eles compreendam que o Brasil não pode abrir mão das suas compras governamentais, porque se eu destacar para eles as compras governamentais a possibilidade de fortalecer a indústria normal chega a zero”, retrucou Lula.

“Da mesma forma que ele tem que resguardar os interesses agrícolas dele, nós temos que resguardar os interesses de nossas pequenas e médias empresas com a não aceitação das compras governamentais.”

Lula disse que tanto o Mercosul quanto a União Europeia precisam da formalização do acordo e que acredita num acerto.

“O fato de ter dois pontos nervosos e essenciais para os dois lados, ora a gente pode não fazer acordo com eles, mas vamos melhorar outras coisas. Eu acredito muito na capacidade de negociação”, disse o presidente.

“A União Europeia não pode ser a fatia de mortadela entre a nova guerra fria, entre Estados Unidos e China.”

Lula conversou em privado sobre o assunto com o presidente francês, durante almoço no Palácio do Eliseu. Antes, disse que tinha interesse em fechar o acordo, mas que considerava uma “ameaça” a carta adicional com exigências ambientais apresentadas pelos europeus.

Lula disse acreditar que a decisão final sobre o acordo de livre comércio entre os blocos saia até o fim do ano. Ele afirmou que será importante conversar deixando a “arrogância” de lado.

O acordo pode voltar a ser tema de conversas de alto nível no mês que vem, se Lula decidir comparecer a uma cúpula em Bruxelas, na Bélgica. O Mercosul trabalha para responder a carta climática da UE até lá.

O presidente havia delegado a missão ao vice-presidente Geraldo Alckmin. Contudo, reavalia o caso porque não quer passar a impressão de não dar importância ao encontro entre a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americano e Caribenhos) e a União Europeia.

Haiti

O presidente disse que pretende discutir sobre a situação do Haiti – a falta de comando político e a violência de criminosos locais que controlam bairros e cidades – no G-20 e no BRICS.

Lula falou sobre o assunto com Macron. O presidente, que afirmou ter ficado “constrangido” durante a audiência com o primeiro-ministro do país, Ariel Henry, vai agora remeter ao Itamaraty uma lista de prioridades para cooperação.

Lula cobrou mais contribuições internacionais para dar ajuda financeira, de saúde e policiamento no Haiti e disse que o país “paga o preço de ficar abandonado à própria sorte por ter sido o primeiro a se tornar independente”.

O governo Lula já rejeitou sondagens dos Estados Unidos para liderar uma missão militar novamente.

Por Felipe Frazão, enviado especial

Estadão Conteúdo

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