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Líder do MST critica comparação feita por ministro entre invasão de terras e atos golpistas

O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Paulo Rodrigues, considerou “infeliz” a declaração do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, comparando as invasões de terras aos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano, quando bolsonaristas invadiram as dependências dos Três Poderes, em Brasília. “Foi uma infelicidade dele ter comparado atos terroristas com ocupação para produzir”, disse o líder sem-terra, durante coletiva sobre a jornada de lutas do movimento, conhecida como “Abril Vermelho”.

No dia 7 de março, durante posse da nova diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Fávaro disse que não era possível que conquistas de tantos anos fossem fragilizadas por movimentos de desordeiros. “Se não fomos transigentes com as invasões do Congresso Nacional, não seremos transigentes e vamos repudiar invasão de terra produtiva”, afirmou. Na época, o MST havia invadido quatro fazendas produtivas na Bahia – três delas da empresa Suzano, com reflorestamento de eucalipto.

Questionado sobre a fala do ministro, Rodrigues disse que o MST luta pela democratização da terra, que é um princípio constitucional. “A gente ocupa terras improdutivas, que não cumprem a função social. Nossa luta é pela democratização da terra, a favor da democracia, e o que aconteceu em 8 de janeiro foram atos contra a democracia. Houve depredação nas sedes dos Poderes. São coisas muito diferentes”, disse.

Depois de realizar 16 invasões de terras nos três primeiros meses do governo Lula, o líder do MST disse que não haverá uma onda de invasões durante o abril vermelho. “Vamos fazer mobilizações em todos os Estados, com marchas, atos políticos, assembleias e denúncias de trabalho escravo. É uma jornada de mobilização que, eventualmente, pode ter alguma ocupação pontual”, disse Rodrigues.

Em vídeo divulgado na segunda-feira, 10, João Pedro Stédile, liderança máxima do MST, havia dito que o abril vermelho teria também “ocupações de terras” em todo o País.

O recuo acontece logo após o movimento receber sinalização do governo de que vai trocar o comando da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas. Na manhã de segunda-feira, militantes do MST invadiram as instalações do Incra em Maceió para exigir a exoneração do superintendente César Lira, mantido no cargo por Lula. O movimento diz que Lira, primo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, é “bolsonarista”, e quer no posto o engenheiro José Ubiratan Rezende Santana, simpático à causa dos sem-terra.

Na tarde desta terça, 11, a sede do órgão federal foi desocupada. Conforme Rodrigues, a saída dos sem-terra aconteceu depois que o governo federal agendou duas reuniões com as lideranças do movimento. “É uma negociação longa. Estamos pedindo a troca do superintendente porque não tem condições de manter um dirigente que não trata bem os sem-terra e não tem compromisso com a reforma agrária. Mas não é só lá: estamos com problema em mais de dez Estados, em que as nomeações precisam sair para que as superintendências sejam fortalecidas.”

Desde o início do novo mandato, o MST vem pressionando o governo Lula para nomear pessoas afinadas com o movimento para postos chaves do Incra. Na entrevista coletiva, a líder Ceres Hadich, que integra a direção nacional, confirmou que o MST apresentou ao governo uma lista com sugestões de nomes para as superintendências e outros órgãos do Incra. Entre as superintendências com postos de comando em aberto estão as de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Paraná, importantes centros do agronegócio brasileiro.

Por José Maria Tomazela

Estadão Conteúdo

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