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Debate sobre teto da dívida trava e leva temor aos EUA

Com a divisão no Congresso dos Estados Unidos sobre o aumento do teto da dívida do país, o debate sobre o tema só deve ter um desfecho após o Tesouro esgotar suas medidas extraordinárias, o que é esperado para ocorrer entre a metade de julho e o início de agosto.

Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo do imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, em inglês), uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default (moratória) no verão, pela primeira vez na história, caso o teto não seja ampliado.

Conforme as projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida.

‘CATÁSTROFE’

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um calote nas dívidas pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso. E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.
O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora.

Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, a agência de classificação de risco S&P rebaixou o rating do país pela primeira vez na história.

DISCUSSÕES

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões sobre o teto da dívida do país no começo do mês. Ambos sinalizaram um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

Biden também tem dito que um calote seria uma catástrofe. Ele acusa os republicanos de tentarem tomar a economia como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Biden disse que o seu plano reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Aline Bronzati, correspondente

Estadão Conteúdo

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