O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, defende que a discussão sobre meta de inflação levantada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja resolvida o quanto antes, seja lá qual for o desfecho. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou já ter falado sobre o tema com Simone Tebet, ministra do Planejamento.
Honorato lembra que a regra que rege o sistema de metas não determina que a definição ocorra no Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho, mas até essa data, e que o adiamento da decisão só traz ruídos e deixa as expectativas de inflação sem uma referência. Ainda para o economista, o debate da meta é técnico e político e tem de levar em conta o ambiente internacional e o quadro da política econômica brasileira. “A discussão tem de ser feita sem paixão”, defendeu. “É um debate que envolve uma discussão técnica e uma escolha política. É isso que eu estou um pouco incomodado. Não tem nada de errado nisso.”
Veja abaixo os principais trechos da entrevista, que contou com a participação da economista do banco Myriã Bast:
Qual é a expectativa para a política monetária no Brasil diante do debate sobre a meta de inflação?
O quanto antes o debate da meta for equacionado, melhor. E é isso que vai importar para o Copom. É uma prerrogativa do CMN estabelecer a meta de inflação. Isso sempre foi assim no Brasil, e continuou sendo assim com a autonomia do BC. Tem esse ritual de estabelecimento da meta em junho para três anos à frente, agora para 2026, mas é um ritual que pode ser alterado pelo presidente da República ou pelo próprio CMN. Aliás, não está escrito em lugar algum que precisa ser junho a data para o CMN definir a meta, podem fazer na reunião no mês que vem. Agora, se o presidente quiser alterar a meta deste ano ou do próximo ano, tem de ser por decreto. Quanto antes a definição for tomada, melhor para o País. Qualquer que seja a decisão que venha a ser tomada. Esse é um tema que estamos tratando internamente, e estou bastante convencido, até pelos últimos episódios, que, quanto antes essa decisão for feita, melhor.
Sem que esse tema seja definido, a condução da política monetária será mais complexa para o BC?
A minha impressão é de que, o que o Copom fez na quarta-feira (passada), foi dizer que, dada a meta estabelecida de 3% e o que se tem visto de desvio de expectativa e deterioração do risco fiscal, está diminuindo muito o espaço para a queda dos juros. Isso é quase tautológico, não consigo ver muita provocação nessa afirmação. Tomou uma proporção grande justamente por conta da indefinição da meta. Portanto, supondo que o CMN de junho seja o que vai discutir a meta, até lá temos situação de manejo difícil para o BC caso as expectativas continuem piorando. O BC vai ter de repetir que o espaço diminuiu muito para corte e, eventualmente, encontre um espaço para aumentar a taxa de juros.
Se for para mudar, que não espere até junho, então?
Myriã Bast: Porque, enquanto não acontece, a discussão do Focus, as expectativas ficam em função disso. Os outros fatores que afetam as expectativas ficam em segundo plano, porque tem um fator muito pesado, que sempre é um poder atrativo para as expectativas, que está indefinido.
Quais são os outros fatores?
Eu vou traçar um cenário: está definida uma meta, as expectativas se ancoraram ao redor dessa nova meta. Se nos próximos três meses os núcleos de inflação continuarem cedendo como temos visto, a atividade perde fôlego e, de repente, tenha uma apreciação cambial, talvez possamos discutir corte de juros ainda neste semestre. Essa é, de certa forma, a nossa provocação ou sugestão: no fim do dia, uma vez que se levantou hipótese de o alvo não ser 3%, essa indefinição causa uma ambiguidade na decisão de política monetária.
Dependendo de como for feito, em vez de o câmbio apreciar, pode depreciar?
É exatamente por isso que a gente acha que a antecipação é pertinente. Porque o BC vai levar um tempo para ver onde essas variáveis vão se acomodar. Se o câmbio se acomodar para cima ou para baixo, muda a projeção de inflação do Copom, da mesma forma as expectativas. É mais um argumento a favor para antecipar isso. Torna a decisão de política monetária mais célere. A indefinição, de certa forma, parece o caminho mais custoso.
A meta atual de 3% é adequada para a realidade econômica brasileira?
A questão é se o Brasil tem condições de ter uma meta de 3%. Teoricamente, sim, vários países emergentes têm (essa meta de 3%). Agora, requer um conjunto de escolhas que vão muito além do governo: o tamanho da abertura da economia, a eficiência da economia no setor público e privado, regras trabalhistas e tributárias. É um conjunto de escolhas que ainda não estão plenamente implementadas no Brasil. Na prática, o que temos nos próximos 12 a 18 meses é um ambiente em que é mais provável a inflação ficar acima de 3% do que abaixo de 3%. Por isso, temos 4%. A discussão tem de ser feita sem paixão, olhando para esses componentes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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