Categories: Empresas

Carro zero fica mais distante e custa ao menos 40 salários mínimos

Em um mercado em que os modelos populares estão à beira da extinção e o custo de financiamento sobe em velocidade que não se via havia 13 anos, sair de carro novo de uma concessionária vem se tornando um sonho inviável a um número cada vez maior de brasileiros.

Se, quatro anos atrás, 28 salários mínimos eram suficientes para comprar um automóvel, hoje não se adquire um zero quilômetro por menos de 40 salários mínimos. Isso porque o salário mínimo, com alta de 27%, não conseguiu acompanhar o salto três vezes maior no período (83%) do preço do carro mais barato do mercado – hoje, o subcompacto Kwid, da Renault, que custa R$ 48,8 mil.

Levantados com exclusividade para o Estadão/Broadcast pela consultoria Jato Dynamics, os dados oferecem um retrato do abismo entre a renda e preço dos veículos. Revelam também em números como a transição dos carros compactos a modelos maiores, tanto em tamanho quanto em conteúdo tecnológico, mudou o curso de um produto que vinha, por muito tempo, tornando-se mais acessível.

A pandemia ajudou a acentuar bastante a elitização no consumo de automóveis porque as restrições de oferta abriram margem ao repasse de aumentos de todo tipo na estrutura de custo das montadoras: do frete aos materiais usados na produção, passando pela energia, e com tudo maximizado pelo câmbio mais caro.

MUDANÇA

A guinada das montadoras tem origem anterior à crise sanitária. Nem a indústria, decidida a voltar a ser rentável em vez de brigar por participações de mercado a qualquer preço, nem o consumidor de menor renda estão dispostos a pagar a conta das tecnologias de controle de emissões e segurança que vêm se tornando obrigatórias nos carros fabricados no País.

Assim, as montadoras decidiram se voltar nos últimos cinco anos a um público de maior poder aquisitivo, investindo em modelos maiores – especialmente utilitários esportivos (SUVs) e picapes.

CUSTO

O resultado é que modelos populares estão sendo aposentados – entre eles, o Uno e, futuramente, o Gol -, enquanto os carros que seguem no mercado estão sendo vendidos, na média, por mais de R$ 120 mil. Antes da pandemia, essa conta ficava abaixo dos R$ 100 mil, conforme dados da Bright Consulting.

O mercado de carros teve dois momentos distintos nas últimas duas décadas. Durante a maior parte desse período, entre 2000 e 2018, o produto se tornou mais acessível, e com anos marcados por incentivos do governo, como o IPI reduzido, o consumo anual de automóveis de passeio chegou a passar das 3 milhões de unidades – o dobro do ano passado.

Porém, após esse ciclo, o movimento se inverteu, com o carro voltando a se distanciar do alcance dos brasileiros nos anos seguintes, marcados pela ascensão dos SUVs sobre os segmentos de entrada e avanços do padrão tecnológico em meio à globalização das plataformas.

Numa comparação que ilustra bem a diferença de viabilidade do produto, o brasileiro precisa trabalhar três vezes mais do que o americano para conseguir comprar um automóvel, se considerado o salário mínimo de cada país.

Nos Estados Unidos, o modelo mais barato é o Chevrolet Spark, que em sua versão mais básica custa US$ 13,6 mil, ou 12 salários mínimos de um trabalhador de lá com jornada de 40 horas semanais.

Diretor de desenvolvimento de negócios da Jato, Milad Kalume Neto diz que, mesmo se o dólar se estabilizar abaixo de R$ 5 no futuro, a possibilidade de o preço de entrada do automóvel voltar ao valor mais próximo de R$ 40 mil esbarra na prioridade da indústria.

“Para lançar veículos mais acessíveis, a indústria precisará de tempo para amortizar investimentos realizados nos últimos anos e realizar mais lucros. Não podemos nos esquecer que o setor vem se recuperando de três crises nos últimos anos sete anos”, afirma Kalume Neto, referindo-se à recessão doméstica de 2015/2016, a pandemia e, agora, a crise de oferta causada pela escassez de componentes eletrônicos.

MODELO ANTIGO

Há quase seis meses em busca do meio de transporte para ir ao trabalho, o enfermeiro Bruno De Paula foi um dos brasileiros que viram o sonho do carro próprio ficar mais difícil. Ele conta que pensava em adquirir um seminovo popular como o HB20. Contudo, precisou optar por um modelo com mais de dez anos de fabricação. “Para não abrir mão de alguns itens de conforto, eu preferi comprar um mais antigo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Eduardo Laguna e Wesley Gonsalves

Estadão Conteúdo

Recent Posts

Latam amplia em 12% voos no Brasil em 2025, com quatro novas rotas domésticas

A Latam vai operar 348 voos domésticos por dia no Brasil em 2025, 12% a…

9 horas ago

ANP aprova acordo de cooperação com Serpro no âmbito do RenovaBio

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou um acordo de cooperação…

9 horas ago

Correção: Lula faz evento para tornar oficial programa de repactuações de rodovias

A matéria publicada anteriormente continha uma incorreção sobre a nome da concessionária do trecho da…

11 horas ago

Brasil vive momento histórico sobre concessões, com melhor entendimento público, diz Lula

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o País vive um…

13 horas ago

Renan Filho: governo analisa 4 repactuações de rodovias, encaminhou 8 para o TCU e reprovou 2

O ministro dos Transportes, Renan Filho, apresentou o balanço dos trabalhos que compõem o "Programa…

14 horas ago

Claro lança oferta de celular para fisgar público que ainda não aderiu ao 5G

A Claro fechou parceria com a Motorola para lançar uma oferta de celular 5G com…

14 horas ago